A agricultura familiar tem uma grande vocação para o Mercado de Carbono Neutro, agora é aprender a ingressar nesse promissor gerador de renda
Caracterizada como sustentável desde os seus primórdios, a agricultura familiar agora terá parte no chamado Mercado de Carbono Neutro, em projeto inovador e inédito que já se espalha pelos assentamentos de Mato Grosso do Sul.
Por meio da agrofloresta, ou seja, um sistema de produção agrícola que combina o cultivo de árvores, arbustos, plantas agrícolas e, em alguns casos, animais no mesmo espaço, cerca de 800 pequenos produtores rurais estão iniciando o plantio de 2,5 hectares de agrofloresta cada, totalizando 2.000 hectares em agrofloresta em até 4 anos.
E mais: eles vão receber por isso em crédito de carbono.Entre agosto de 2024 e janeiro de 2025, 95 produtores foram cadastrados no Estado, sendo que 70 já receberam 9 mil mudas distribuídas.
Para dar início ao projeto, a Semadesc (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, tecnologia e Inovação, por meio da Seaf (Secretaria de Agricultura Familiar), realizou sexta-feira (14) no lote assentamento Nazareth, em Sidrolândia, o plantio das primeiras árvores do Programa Agroflorestar MS – Carbono Neutro.
O desenvolvimento do programa é feito pela Associação dos Produtores Orgânicos do Mato Grosso do Sul (APOMS). Principalmente, em parceria com a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e apoio da Semadesc. Assim, o objetivo é possibilitar que os agricultores familiares ingressem no mercado de créditos de carbono, gerando renda a partir da preservação e recuperação ambiental.
Agricultura Familiar e Mercado de Carbono
Participaram do evento o titular da Semadesc, Jaime Verruck, o secretário-executivo de Agricultura Familiar, Humberto de Mello, o diretor-presidente da Agraer, bem como, Washington Willeman, o presidente da Associação Produtores Orgânicos de Mato Grosso do Sul. Do mesmo modo, tiveram participação, Olácio Mamoru Komori além de técnicos da Agraer de Nova Alvorada do Sul e Sidrolândia e pequenos produtores do assentamento.
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O diferencial do projeto é o pagamento pelo crédito de carbono da agrofloresta. Isso é possível por meio de plataforma desenvolvida pela Rabobank Acorn que envolve desde a medição do crescimento da biomassa via tecnologia de sensoriamento remoto e a subsequente comercialização do crédito de carbono à sua rede de clientes internacionais.
Além do Governo do Estado, Acorn/Rabobank, Rabo Foundation, o projeto tem como realizadores a Cooperapoms e apoio da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e Cresol Centro-Sul.
O programa abrange os três principais biomas do estado – Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica – e busca diversificar a produção em 2.000 hectares, promovendo práticas agroecológicas, redução do uso de insumos químicos e melhoria da fertilidade do solo.
Agricultura
De acordo com o secretário da Semadesc, Jaime Verruck, que fez hoje o plantio de uma muda de manga no lote 83, que pertence a Marli Berbelim e o marido, no assentamento Nazareth, o Mato Grosso do Sul é o primeiro estado do Brasil a ter um programa deste tipo. O assentamento também é modelo e tem projetos de apicultura contemplados em editais da Fundect e da Semadesc.
Verruck pontua que ao conhecerem o projeto da APO junto com a Rabobank, a Semadesc percebeu que era uma oportunidade para iniciar a estratégica do Governo. “Ao conhecer o projeto nós vimos que esse era o caminho. Mas tínhamos desafios sobre como os agricultores assentados vão entender isso, será que vão caminhar?”, frisou.
Neste contexto, segundo ele a Agraer tem um papel fundamental. “Com assistência técnica na ponta, disseminação de tecnologia, contando com o apoio da Agraer isso tem que ser muito bem implantado, cuidado para ser uma agrofloresta. Nós batalhamos neste projeto. O Governo tem uma linha do Carbono Neutro, mas faltava algo na nossa estrutura, que era falar de carbono neutro para a agricultura familiar, para as pequenas propriedades”, salientou.
Mudanças sustentáveis
O assentamento Nazareth, que fica na região do Capão Seco, entre Sidrolândia e Nova Alvorada do Sul, já tem 18 produtores cadastrados com até dois hectares. Eles receberam cerca de 1.500 mudas do projeto. As agroflorestas já estão em diferentes estágios de implantação, demonstrando o avanço da iniciativa.
Emocionada, a produtora Marli Berbelim, que recebeu as mudas. Ela lembrou que é filha de assentados do primeiro assentamento do Estado. Por isso, receber este tipo de apoio significa muito na sua trajetória. “Estou muito feliz porque já recebemos 130 mudas, e a área terá ampliação. É um sítio em construção e estou bastante grata hoje com este evento aqui no assentamento”, afirmou.
O secretário-executivo da Seaf, Humberto de Mello, falou da inovação do projeto. “Desde o início o secretário Jaime acreditou na proposta. Dessa fora, eu tenho sido um elo entre a Seaf e a Agraer para que possa estar envolvendo parceiros. Acho que a captação do ineditismo da proposta ocorreu com a criação da secretaria. Vamos para uma COP-30 no Brasil e não tem uma experiência como esta no País. Por isso quero dizer que temos muita expectativa. Especialmente, no que se refere a replicar esta experiência para os produtores de MS, que o Governo federal leve para outros estados”, comentou.
Chegou o momento
O diretor-presidente da Agraer, Washington Willeman, reforçou a parceria da agência neste projeto considerado emblemático.
“O governador autorizou a agência a reforçar as equipes aqui e falar para vocês que nós somos parceiros deste projeto que o Humberto tanto lutou para que pudesse ser implementado. Há dois anos que nós estamos lá, desde o início ele conversando, nessa luta, trazendo pessoas que querem participar. Chegou o momento e estão aqui as mudas sendo entregues. Desse modo, isso vem de encontro a um projeto do nosso Governador. O Governo de Estado tem um protocolo de que até 2030, que Mato Grosso do Sul tem que ser carbono neutro”, acrescentou.
Abraço de sustentabilidade
O secretário da Semadesc ressalta a relevância do projeto para as estratégias de desenvolvimento sustentável. “O Governo abraçou este projeto importante. Às vezes não temos noção da grandiosidade, mas é o primeiro projeto deste tipo no Brasil. Então a ideia é levar para a COP 30. Nesse sentido, o Governo federal, ou Ministério de Desenvolvimento Social (MDS), já pensa em criar um modelo para replicar estes projetos no Brasil. É a primeira vez que estamos colocando o agricultor familiar para olhar para a questão das mudanças climáticas, da redução da emissão de carbono. Assim, a ideia é que cada um consiga contribuir. E quando a gente faz isso é uma estrelinha que estamos colocando no mundo inteiro com o trabalho de vocês”, concluiu.
Fonte: Ag. not. gov. ms