Ex-governador de São Paulo enfrentou nos últimos meses resistência interna no PSDB e de partidos aliados da terceira via. ‘Para as eleições deste ano me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve’, disse Doria em pronunciamento.
O ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB) desistiu de sua pré-candidatura à Presidência no início da tarde desta segunda-feira (23), na capital paulista. Doria enfrentava resistências internas no PSDB e de partidos da terceira via, e fez o anúncio em pronunciamento na Zona Sul de São Paulo.
“Para as eleições deste ano me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve”, disse Doria.
Desse modo, anunciou-se a decisão do tucano um dia antes de a executiva do PSDB se reunir para definir como o partido se posicionará na disputa presidencial de outubro.
Doria foi escolhido como pré-candidato em eleição interna do partido ao derrotar o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite. Sendo assim, a vitória na disputa interna gerou tensões com a ala do PSDB que defendia a candidatura de Leite.
No final de março, o ex-governador de São Paulo chegou a ameaçar desistência de sua pré-candidatura, mas voltou atrás e fez o lançamento no mesmo dia. O movimento foi lido como uma espécie de contra-ataque aos apoiadores de Leite.
Em seu pronunciamento, o ex-governador afirmou que o Brasil “precisa de uma alternativa para oferecer aos eleitores que não querem os extremos”. “Hoje, neste 23 de maio, serenamente, entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade de cabeça erguida”, afirmou o ex-governador.
João Doria e Simone Tebet
Presente no anúncio de Doria, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, defendeu uma candidatura única com MDB e Cidadania para as eleições de outubro.
“Nós temos um entendimento de diálogo com o Cidadania e com o MDB e nós vamos dar um passo à frente agora. A construção agora não é só definir o nome – e o nome de Simone é um nome posto nessa construção -, mas agora precisamos construir um projeto de compromisso de programa com o Brasil”, disse Araújo.
Momentos depois da desistência do ex-governador, Simone Tebet (MDB) afirmou que espera contar com “sugestões” de Doria para o programa de governo dela.
“João Doria nunca foi adversário. Sempre foi aliado. Sua contribuição com a luta pela vacina jamais será esquecida. Vamos conversar e receber suas sugestões para nosso programa de governo”, disse em nota.
Segundo apurou o Blog da Julia Dualibi, Doria teria dito a aliados que ficou aliviado com a decisão e que deve se dedicar a um projeto empresarial.
Vitória nas prévias e conflitos
Em novembro do ano passado, Doria foi a escolha do PSDB para pré-candidato à Presidência da República ao derrotar, em eleição interna, o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto.
Na ocasião, após um processo tumultuado, o ex-governador de São Paulo recebeu 53,99% dos votos, enquanto Leite obteve 44,66% e Virgílio, 1,35%.
Desde então, João Doria tenta se manter como candidato, apesar dos rachas internos no partido. No dia 15 de maio, por exemplo, ele chegou a enviar uma carta ao presidente do PSDB, Bruno Araújo, em que subia o tom ao reafirmar que não desistiria da candidatura e que poderia judicializar a situação, caso sofresse abandono da sigla.
Terceira via sem João Doria
Apesar da realização das prévias, o PSDB manteve contato com outras legendas, como o MDB e o Cidadania, a fim de construir uma candidatura única de centro ao Palácio do Planalto, que se chamou de “terceira via”. Seria uma alternativa aos nomes do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Lula (PT).
Bruno Araújo tem dito que as articulações com outras siglas de centro contaram com a “anuência” de João Doria.
As conversas em torno de uma candidatura única da terceira via, entretanto, não têm avançado. Recentemente, o União Brasil, presidido pelo deputado Luciano Bivar (PE), que estava participando das negociações, anunciou o desembarque do partido do grupo. Segundo Bivar, o União Brasil terá candidatura própria no pleito de outubro.
Aliás, o impasse dentro do PSDB e a indicação, por meio de pesquisas eleitorais, de uma disputa polarizada entre Lula e Bolsonaro levaram o ex-ministro das Relações Exteriores e ex-senador Aloysio Nunes a anunciar apoio ao petista na disputa.
No entanto, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Aloysio Nunes, que tem filiação no PSDB há décadas, disse que João Doria “não tem apoio consistente dentro do próprio PSDB”.
E declarou que Lula é o candidato capaz de derrotar Jair Bolsonaro. “Não há hesitação possível. Vou apoiá-lo (Lula) no primeiro turno”, afirmou Nunes.