A economista britânica Noreena Herz é autora de diversos best-sellers e dá aulas na University College London
A solidão está alcançando níveis epidêmicos, a sociedade está se transformando velozmente e essas mudanças levam a novas respostas comerciais, assim estamos nas portas da economia da solidão.
A economista britânica Noreena Herz é autora de diversos best-sellers e dá aulas na University College London. Há cerca de uma década decidiu se aprofundar no estudo da solidão e seus desdobramentos na sociedade, depois de se deparar com três situações que chamaram sua atenção:
“A primeira coisa foi observar que a maioria dos meus alunos se sentia solitária. A segunda foi assistir ao crescimento do populismo e me perguntar: o que faz indivíduos aderirem a esse tipo de movimento? Por fim, a minha interação com o dispositivo Alexa. Em certo grau, eu tinha um relacionamento com o equipamento, o que me fez pensar no conceito de economia da solidão: são produtos e serviços desenhados para indivíduos cada vez mais sós, que simulam uma conexão”.
O último livro da professora Herz chama-se “The lonely century: coming together in a world that´s pulling apart” (em tradução livre, “O século da solidão: nos unindo num mundo que nos afasta”), no qual analisa essa “epidemia” e formas de reconectar os seres humanos. Como explicou em palestra on-line a que assisti no começo do mês:
“As pesquisas mostram que vivemos uma crise global de solidão: 50% dos americanos se sentem solitários regularmente; uma em cada três pessoas se sente solitária diariamente; um em cada cinco millenials (os nascidos entre 1980 e 2000) não tem um único amigo. Isso me levou a propor uma definição abrangente sobre solidão. Não se trata apenas de se sentir isolado existencialmente, sem relacionamentos próximos. Mas de um estado de desconexão com os demais cidadãos, com o trabalho, com os líderes do país, com o mundo ela não se limita à esfera afetiva, é social e política”.
A Economia da solidão
A falta de convivência em espaços públicos agravada durante a pandemia e a tecnologia piorou o quadro. Atingindo principalmente os idosos e os jovens os dois grupos são os que experimentam uma sensação de exclusão mais intensa, diz ela:
“As redes têm um papel positivo: funcionam como um lugar de identificação e resistência para minorias discriminadas. Como a LGBT, ou de pacientes portadores de alguma enfermidade. Mas também alimentam o tribalismo e o populismo. Quem adere ao discurso populista normalmente tem poucos amigos, ou se sente invisível, isolado. Não é à toa que a retórica de políticos como Donald Trump se baseia em bordões do tipo: ‘vocês foram esquecidos’. O pertencimento a um grupo vem acompanhado da desconfiança em relação a todos os outros”.
Na sua opinião, os países terão que tomar uma atitude firme para controlar os danos causados pelas redes sociais: “já fumamos em espaços fechados e dirigimos sem cinto de segurança, até que leis nos impediram de continuar agindo desse modo. É imperativo que os governos regulem as gigantes de tecnologia para evitar danos emocionais, especialmente entre os mais jovens”. A autora aponta alguns caminhos para nos reconectarmos com nossos semelhantes, mas faz um alerta: é preciso mudar um padrão mental que estimula a competição em detrimento da colaboração.
“O que vemos é que, quanto mais individualista e egoísta, mais solitário o indivíduo é. A solidão é um péssimo negócio para a economia, porque as pessoas adoecem e se tornam menos motivadas e produtivas. E é igualmente terrível para a democracia. Parte da solução é aumentar o leque de atividades coletivas. Na Coreia do Sul, por exemplo, as discotecas que funcionam durante o dia são um sucesso entre os mais velhos. Aliás, é uma oportunidade para investidores, porque se trata de um enorme mercado a ser explorado”.
Fonte: g1