Você está visualizando atualmente Bossware: Como funciona programas que vigia funcionário sem autorização
No Brasil ainda não existe nenhuma regulamentação específica sobre o uso de bossware

Bossware: Como funciona programas que vigia funcionário sem autorização

Os bosswares oferecem uma grande recursos para supervisionar os funcionários que trabalham de maneira remota ou híbrida

Bossware são softwares utilizados por empregadores para monitorar as atividades de funcionários durante as horas de trabalho. O nome dos programas provém da junção das palavras “software” e “boss” (chefe, em português). O uso desse tipo de ferramenta cresceu durante a pandemia de Covid-19, principalmente depois que o regime de trabalho remoto precisou ser implementado. Nos Estados Unidos, 60% dos empregadores utilizam algum tipo de programa para fiscalizar as atividades dos funcionários que trabalham em casa, segundo estudo realizado pela companhia Digital.com.

Ainda não há dados sobre o uso de bosswares no Brasil. A adoção da ferramenta, entretanto, levanta uma série de questões sobre privacidade e segurança no ambiente de trabalho. Isso porque, para supervisionar o desempenho do trabalhador, esses programas são capazes até de ativar a câmera e o microfone sem o consentimento do usuário e fazer capturas aleatórias da tela, coletando dados biométricos — prática que pode ferir a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). A seguir, vamos explicar como funcionam os bosswares, o que eles podem fazer e explora a legalidade desse tipo de programa no Brasil.

O que são e como funcionam os bosswares ?

Bossware é como são conhecidos os softwares de monitoramento de funcionários, frequentemente utilizados pelas companhias para medir a produtividade deles durante as horas de trabalho. Esses programas registram e analisam, muitas vezes de forma secreta, todas as atividades dos empregados, e geram inúmeros debates a respeito da privacidade e segurança dessas informações.

 Além disso, o uso desse tipo de programa cresceu de maneira significativa após a pandemia de Covid-19 e da adoção do trabalho remoto como forma de frear a proliferação do coronavírus. Um estudo realizado pela companhia Digital.com sugere que 60% dos empregadores dos Estados Unidos usam algum tipo de programa para espionar as atividades dos funcionários que trabalham em casa.

O levantamento também traz dados que avaliam o comportamento de trabalhadores e empresas após a implementação dos programas: cerca de 88% das companhias demitiram funcionários após o uso dos softwares, enquanto 81% dos negócios observaram um aumento no rendimento geral de pessoal.

O que o bossware pode fazer ?

O bossware oferece uma grande variedade de recursos para supervisionar as atividades dos funcionários que trabalham de maneira remota ou híbrida. Os mais simples são capazes de registrar o pressionar de teclas, por exemplo, ou identificar o movimento e os cliques do mouse sobre a tela do computador. As informações são para gerar relatórios de rendimento.

Além disso, há também empresas que utilizam inteligência artificial para interpretar os dados coletados pelos softwares. Assim é possível, por exemplo, analisar o texto de um funcionário para identificar possíveis mudanças em seu comportamento.

Aplicações mais sofisticadas, por sua vez, podem fazer capturas de tela e gravar vídeos para analisar o desempenho dos funcionários, ativando a webcam e o microfone da máquina. Há também softwares capazes de registrar os destinatários dos e-mails enviados pelos funcionários e acessar serviços como a localização do dispositivo.

Em casos mais específicos, os bosswares também podem usar a webcam da máquina para checar se há outra pessoa no ambiente usando o computador. Empresas podem alegar essa necessidade se um funcionário trabalha com dados sensíveis, por exemplo.

Monitoramento visível e invisível

Existem diferentes tipos de bosswares, que podem oferecer serviços de monitoramento visível ou invisível. Na primeira modalidade, a empresa comunica o funcionário que ele será vigiado durante o período de trabalho, enquanto no monitoramento invisível o empregado não sabe que é fiscalizado e que a empresa pode coletar informações sobre suas atividades.

Uma reportagem conduzida pela organização Electronic Frontier Foundation revelou que os softwares de monitoramento podem oferecer diferentes níveis de transparência aos funcionários. Alguns permitem que os empregados tenham acesso a alguns — ou todos — os dados coletados sobre eles. Outros informam que há coleta de dados, mas não indicam explicitamente quais informações estão sendo capturadas.

Vigilância, interpretação enviesada e outros problemas éticos

O uso de softwares do tipo levanta questionamentos a respeito da segurança e privacidade das informações coletadas e também expõe uma série de problemas éticos. Como os bosswares podem ser instalados nos dispositivos sem o consentimento do usuário e têm acesso a diversos recursos na máquina. Muitos deles podem equivaler, na prática, a stalkerwares ou spywares — softwares usados única e exclusivamente para espionagem.

Uma reportagem pela instituição Electronic Frontier Foundation revela, inclusive, que é comum que os softwares tenha desenvilvimento para evitar que os funcionários consigam detectá-los. Aliás a organização também conclui que grande parte dessas informações coletadas são de maneira desproporcional, antiética e desnecessária.

Em resposta à pesquisa desenvolvida pelo portal Digital.com, donos de empresas afirmaram que buscam os programas majoritariamente para supervisionar o rendimento de pessoal. De acordo com o estudo, 79% dos empregadores desejam entender melhor como os empregados administram suas horas de trabalho. A pesquisa concluiu que cerca de 52% dos funcionários passa entre uma e quatro horas por dia fora do seu ambiente de trabalho — mas a forma como essas informações tem interpretação pode ter um questionamento.

Monitoramento sem autorização