Agro brasileiro vê incerteza em 2026 com influência dos EUA alterando o cenário global de exportações
A palavra do comércio internacional para 2026 no agro brasileiro é “incerteza”, segundo a diretora de Relações Internacionais da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Sueme Mori, o próximo ano será marcado por instabilidade geopolítica e decisões estratégicas dos EUA que podem alterar o fluxo global de exportações.
Promessas indefinidas aumentam a instabilidade
“Eu acho que a palavra é incerteza. Tudo aquilo que ficou muito na promessa de que poderia acontecer… se acontecer em 2026 vai seguir para um lado, se não acontecer ele vai seguir para o outro”, afirmou em conversa com a imprensa após a publicação dos dados de 2025 e perspectivas para 2026, (9).
Foco na relação comercial entre EUA e China
Sueme destacou que o principal foco de atenção está na dinâmica comercial entre Estados Unidos e China, especialmente para soja e proteína animal. Ela explicou que os EUA vêm anunciando compromissos comerciais e metas de compra, mas sem transparência e sem números oficiais confirmados pela China, o que pode reposicionar o mercado global e deslocar o Brasil.
Compromissos não confirmados elevam tensão
“[A dinâmica] Preocupa. Não existe um documento formal. A China não se pronunciou formalmente ainda. Os Estados Unidos sim. O presidente [Donald] Trump publicou [em rede social] e disse que a China se comprometeu a comprar mais, mas a China não falou sobre isso ainda. Não deu um número, não disse como isso vai acontecer”, disse.
Brasil pode perder espaço no fornecimento global
Segundo ela, esse tipo de acordo cria incerteza sobre o espaço do Brasil no fornecimento global de grãos.
“Nós ocupamos o espaço deixado pelos Estados Unidos quando a China deixou de comprar. Se isso mudar, teremos que redirecionar”, alertou.
Impacto direto no mercado interno
“A gente está falando de uma diferença na casa dos US$ 8 bilhões para US$ 1 e poucos bilhões dos Estados Unidos. Então assim, é muita coisa. O mercado cresceu, a produção interna brasileira de carne bovina cresceu por causa do aumento das importações chinesas. Uma coisa está muito vinculada à outra. Qualquer perturbação que aconteça nesse mercado impacta diretamente a produção interna, os preços internos, a renda muito ruim”, completou.
Comércio internacional deixa de ser bilateral
A diretora afirmou que, hoje, o comércio internacional não funciona mais como uma negociação bilateral tradicional. Mesmo processos técnicos avançados, como a abertura do mercado da carne para Japão e Coreia do Sul, passam pela influência norte-americana na construção de acesso sanitário e tarifário.
“O comércio internacional não dá mais para falar de uma relação bilateral. A gente tem que falar de um contexto mais amplo e, especialmente, da influência dos Estados Unidos nesses mercados onde a gente vai abrir”, disse. Sueme acrescentou que “para abrir Japão ou Coreia do Sul não basta negociar só com eles; depende também dessa influência dos Estados Unidos”, disse.
China mantém investigação que preocupa produtores brasileiros
Em relação à China, Sueme disse que a maior preocupação imediata está na investigação que pode resultar em salvaguardas à carne brasileira.
“A expectativa nossa era que agora em novembro soltassem o resultado da investigação. Naquele momento a gente tinha uma sinalização de que seria no sentido de diminuir as exportações chinesas. Então o adiamento é uma sinalização positiva para nós, mas continua o mesmo cenário. Ou seja, lá quando ia soltar o resultado, o resultado não ia ser favorável a nós. Isso preocupa muito porque a China é de longe o principal mercado de carne bovina nosso”, afirmou.
Brasil tem espaço para crescer se transformar acordos em acesso real
Sobretudo, apesar dos riscos, Sueme defende que o Brasil tem oportunidade de expandir mercados se transformar acordos em acesso real ao produtor.
“A gente teve várias aberturas [de mercado] este ano. Agora é apoiar o produtor a aproveitar. Muitas vezes falta informação: eu sou produtor de queijo, o que muda para mim? Eu sou de vinho, o que muda? O comércio internacional influencia cada vez mais o dia a dia do produtor e essa informação precisa chegar a ele diretamente”.
Projeto AgroBR será ampliado para apoiar pequenos e médios exportadores
Por fim, ela destacou que o projeto AgroBR pode ajudar nisso. Segundo Sueme, a proposta será ampliada com o Sebrae em 2026 para apoiar pequenos e médios exportadores e ampliar rodadas de negócios no Brasil com compradores internacionais.






