Além de Mato Grosso do Sul, a TMG pretende instalar também uma outra estação experimental no Matopiba – região de Cerrado
Em um período de 11 safras, entre os ciclos 2010/2011 e 2020/2021, a produção de soja de Mato Grosso do Sul (MS) deu salto. Passou de 5,169 milhões de toneladas para 12,196 milhões de toneladas, um incremento de 135,9%, alavancada pelo aumento de 90% de área (de 1,760 milhão de hectares para 3,360 milhões de hectares) e de 23,5% na produtividade (de 48,9 sacas por hectare para 60,5 sacas por hectare).
O avanço da cultura ocorreu em terras antes subutilizadas pela pecuária e que enfrentavam processos de degradação. Essas áreas estão sendo incluídas no novo ciclo produtivo graças ao investimento dos produtores na melhoria da qualidade dos solos, aos tratos culturais e, principalmente, ao uso de novas tecnologias. Aliás, em especial de sementes melhoradas geneticamente.
Portanto, nos próximos anos o incremento de produtividade da cultura no estado pode ser ainda maior. Assim, a TMG, uma das maiores empresas de melhoramento do país, está desenvolvendo uma variedade específica para o cultivo da soja em MS.
O objetivo, segundo o gerente de Pesquisa da empresa, Anderson Meda, é produzir, por meio dos cruzamentos, uma cultivar que tenha alta produtividade, seja resistente as pragas e doenças mais comuns na região e adaptada as características edafoclimáticas do estado. “Entre os desafios temos as altas temperaturas, os veranicos e uma grande diversidade de solos nas várias regiões produtoras”.
Além disso, ele explicou que o desenvolvimento dessa variedade deve demorar cerca de sete anos, que é o tempo médio entre a realização das pesquisas e a chegada ao mercado da cultivar.
Soja em MS
A empresa, entretanto, vem fazendo um trabalho para tentar reduzir entre um e dois anos o prazo para a chegada até aos agricultores de seus novos materiais genéticos, como este.
Assim, essa iniciativa envolve desde a utilização de cultivos em ambientes protegidos até a inteligência de dados (big data) – alimentada por duas décadas de pesquisas. Dessa forma diminui a necessidade dos cultivos em campos experimentais e encurta o tempo com testes práticos.
Anderson Meda relatou que o desenvolvimento de novos materiais genéticos para a agricultura é incessante por conta das novas demandas apresentadas pelos produtores. Portanto, isso faz com que a “vida útil” de uma cultivar seja, na média, de seis a sete anos.
Ele explica que após o lançamento, com as novas tecnologias embarcadas, a cultivar atinge seu pico de comercialização em torno dos três anos de mercado. Depois desse período, vão surgindo novas necessidades dos produtores. Entre elas: aumentar a resistência a determinadas pragas e doenças, melhorar o desempenho diante das variações climáticas ou ainda incrementar a produtividade. A partir daí, essa variedade começa a perder espaço e mercado, dai a necessidade de um novo produto estar pronto para o lançamento.
“ Certamente, somos uma empresa de inovação, que emprega soluções genéticas e entrega resultados para o produtor. Atendendo as demandas que o mercado nos traz”, conclui o gerente, completando que atualmente a empresa possui 24 cultivares ativas de soja.
Contudo, por conta da necessidade da constante inovação, a empresa planeja investir nos próximos 10 anos, R$ 2 bilhões em pesquisa e desenvolvimento.
Destaque
MS vem ocupando uma posição de destaque no cenário nacional da soja. Atualmente é o quinto maior produtor brasileiro.
Entretanto, comparando o volume colhido na safra 2020/2021, por exemplo, com a produção mundial naquele ciclo, o estado, se fosse um país, seria o quinto maior produtor do grão no planeta, ficando atrás somente do Brasil (139,5 milhões de toneladas), dos Estados Unidos (114,7 milhões de toneladas), da Argentina (46,2 milhões de toneladas) e da China (19,6 milhões de toneladas), conforme dados do Departamento de Agricultura norte-americano (USDA).
Além do volume já expressivo de produção, o estado tem condições de ampliar a área cultivada promovendo a expansão em terras já antropisadas. Segundo levantamento do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), do Instituto de Estudos Socioambientais (IESA), da Universidade Federal de Goiás (UFG). Mato Grosso do Sul tem 11,2 milhões de hectares de pastagens com qualidade entre intermediária e severa, o que indica algum grau de degradação.
Pelo menos parte dessas áreas, atualmente subutilizadas, podem ser recuperadas, se transformando em solos férteis, que possibilitam diversos tipos de cultivos e atividades, do plantio de grãos até a pecuária de alto rendimento.
Desafio
De olho neste potencial, e com um portifólio que inclui outros produtos de destaque na agricultura sul-mato-grossense, o algodão e o milho. A TMG pretende implantar em 2023 uma estação experimental no estado. A unidade terá uso para os testes a campo das cultivares que desenvolve.
“O desafio agora é encontrar um município que seja mais adequado para essa unidade e que nos possibilite ter as melhores condições para a avaliação dos novos produtos. Isso deve ocorrer possivelmente ainda este ano”, revelou o diretor-presidente da empresa, Francisco Soares.
Além de Mato Grosso do Sul, a TMG pretende instalar também uma outra estação experimental no Matopiba – região de Cerrado que se espalha pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, e que se tornou uma das novas fronteiras agrícolas do país.
Fonte: G1