No momento, você está visualizando Trump e Musk concordam em fechar agência de ajuda humanitária

Trump e Musk concordam em fechar agência de ajuda humanitária

Secretário de Estado assume o comando da Usaid, agência de execução de programas de ajuda humanitária em 130 países

Um dos pontos nevrálgicos do novo governo de Donald Trump, que completou duas semanas ontem, a gigantesca Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid, na sigla em inglês) começou a semana agonizante, com um futuro incerto. Elon Musk afirma que Trump concordou em fechar as portas da entidade de ajuda humanitária, chamada por ele de “organização criminosa”.

Logo depois de um fim de semana de ataques, com suspensão de dirigentes, o secretário de Estado, Marco Rubio, anunciou ter assumido temporariamente o comando da agência de execução de programas de ajuda externa.

“Sou o diretor interino da Usaid”, conforme Rubio , durante a visita (03) a El Salvador, assinalando que acabará com a “insubordinação” da agência à agenda de Trump. Assim, o presidente republicano, segundo o bilionário Elon Musk, teria concordado em fechar a Usaid. Nesse sentido, fala-se, ainda, na transformação da entidade independente em um departamento — esvaziado — da Secretaria de Estado.

Trump congelou ajudas de Washington

Como parte de uma de suas primeiras decisões após retornar à Casa Branca, em 20 de janeiro, Donald Trump congelou as ajudas de Washington a outros países por três meses enquanto avalia se esses gastos respondem aos interesses do país.

Assim, criada por uma lei do Congresso em 1961, no governo do presidente John F. Kennedy, a Usaid, agência que Trump e Musk concordaram em fechar, tem um orçamento de US$ 42,8 bilhões (em torno de R$ 251,1 bilhões) destinados à ajuda humanitária e assistência ao desenvolvimento em cerca de 130 países.

O clímax da discórdia entre a Usaid e a Casa Branca se deu na semana passada, logo após dois altos funcionários de segurança impedirem o acesso de integrantes do Departamento de Eficiência Governamental (Doge), liderado pelo bilionário Elon Musk, a sistemas restritos. Ambos receberam afastamento. Em meio à polêmica, o site da agência saiu do ar no sábado.

“A Usaid é uma organização criminosa”, escreveu Musk em sua rede social X, no domingo, ao responder a um vídeo no qual a agência é acusada de estar supostamente envolvida “em trabalhos sujos da CIA” e na “censura da internet”. Pouco depois, Trump afirmou que a agência é “dirigida por lunáticos radicais”.

“Ninho de víboras”

Elon Musk disse ter discutido com Trump um plano para fechar a agência de ajuda humanitária. “Falei com o presidente em detalhes, e ele concordou que deveríamos fechá-la”, sustentou o bilionário durante um debate em sua plataforma X. O CEO de SpaceX e Tesla classificou a Usaid de “ninho de víboras marxistas de esquerda radical que odeiam os Estados Unidos”.

“Basicamente, é preciso se livrar de tudo”, observou Musk. Sem apresentar provas, ele alega que a Usaid “financiou a pesquisa sobre armas biológicas, incluída a covid-19, que matou milhões de pessoas”.

Musk “não pode fazer e não vai fazer” nada sem “nossa aprovação”, respondeu Trump. A ala de extrema direita e libertária do Partido Republicano sustenta que os Estados Unidos desperdiçam o dinheiro no exterior enquanto ignoram os norte-americanos.

Os democratas, que são minoria no Congresso, deram o sinal de alerta para a medida que consideram inconstitucional

O Congresso tem autoridade sobre o orçamento americano, mas Musk argumenta que o Doge pode decidir como o dinheiro será utilizado. Como o bilionário não é um servidor federal nem funcionário, não está claro a quem ele ou sua agência têm de prestar contas, além de Trump.

O dinamismo de Musk, que levou para o Doge trabalhadores de suas próprias empresas, pegou os opositores desprevenidos. Em um episódio especialmente tenso, a equipe do dono da X insistiu em obter acesso ao sistema de pagamentos altamente sensível do Tesouro, que é usado para despachar trilhões de dólares por ano para todo o governo. Também contém dados pessoais de muitos americanos.

“Não me ocorre nenhuma boa razão para que operadores políticos que tenham demonstrado flagrante desprezo pela lei necessitem ter acesso a esses sistemas sensíveis e de missão crítica”.  É o que escreveu o senador democrata Ron Wyden em carta ao novo secretário do Tesouro de Trump, Scott Bessent.

Protesto

Em meio à situação, a sede de Washington amanheceu, ontem, de fato, com as  portas fechadas. No fim da noite de domingo, funcionários receberam um e-mail informando que não deveriam se apresentar ao trabalho ontem de manhã. Cerca de mil trabalhadores se depararam com o sistema informático bloqueado, informou a Devex, uma plataforma especializada em desenvolvimento. Cerca de dois terços dos mais de 10 mil funcionários são estrangeiros

Com cartazes e palavras de ordem, servidores e defensores da agência protestaram em frente à sede da agência em Washington. “Salvem a Usaid, salvem vidas.” Maior doador individual do mundo, a Usaid financia programas sanitários e de emergência em cerca de 120 países, incluídas as regiões mais pobres do mundo.

Desse modo, Marco Rubio ressaltou que sua missão é alinhar a agência com prioridades de Trump. Ele assinalou que a Usaid não havia respondido a perguntas do governo. Acrescentou que “esse nível de insubordinação torna impossível conduzir um tipo de revisão séria”.

O secretário, que apoiou a ajuda externa como senador, acrescentou que muitas das funções da Usaid continuarão, mas acusou-a de agir como se fosse uma “entidade não governamental independente”. “Em muitos casos, participa de programas que vão contra o que tentamos fazer com nossa estratégia nacional”, insistiu.

Assim, o ex-presidente da Rússia Dmitry Medvedev aplaudiu a aparente sentença de morte da agência de ajuda. “Jogada inteligente de Elon Musk, tentando tampar a Garganta Profunda da Usaid”, publicou o russo no X.

Enfim, por sua vez, o diretor do Centro de Política e Política de Saúde Global da Universidade de Georgetown, Matthew Kavanagh, considerou o possível fechamento da agência um “desastre para a política externa norte-americana”.

Fonte: correio braziliense