O boletim é produzido em parceria por pesquisadores do Observatório das Metrópoles, do Laboratório PUCRS-Data Social
De acordo com o estudo, que considera a realidade de três grupos de renda 40% mais pobres, 50% intermediários e 10% mais ricos, os mais ricos encerraram 2022 ganhando 31 vezes o salário dos mais pobres nas regiões metropolitanas do país.
Sendo assim, mesmo com o avanço da remuneração média em 2022, a desigualdade de renda aumentou nas regiões metropolitanas do Brasil. É o que mostra a 12ª edição do boletim Desigualdade nas Metrópoles.
As médias são:
- 40% mais pobres: R$ 253,95 per capita;
- 50% intermediários: R$ 1.530,96 per capita;
- 10% mais ricos: R$ 7.933,66 per capita;
- geral: R$ 1.644 per capita.
Assim, o boletim é produzido em parceria por pesquisadores do Observatório das Metrópoles, do Laboratório PUCRS-Data Social e da Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE.
No índice de rendimentos, são considerados os ganhos por meio do trabalho. Não são levados em conta, portanto, recursos recebidos em benefícios como o Auxílio Brasil – adotado pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) e substituído pelo novo Bolsa Família em 2023, após Lula (PT) assumir a Presidência da República.
O valor representa o retorno dos salários aos níveis pré-pandemia de Covid-19, ficando abaixo apenas dos R$ 1.666 registrados em 2019, maior registro da série histórica.
Assim, a renda está em ritmo de alta desde o primeiro trimestre de 2022, após quedas expressivas entre 2020 e 2021, no pico da pandemia. O avanço, no entanto, é perceptível entre os mais ricos, enquanto os rendimentos dos mais pobres caminharam praticamente de lado no período.
Salário dos ricos x pobres
Os aumentos médios na remuneração no último trimestre de 2022 em comparação com a mesma janela de 2021 foram de:
- entre os 40% mais pobres: R$ 226,98 para R$ 253,95 – uma alta de 11,88%;
- entre os 50% intermediários: R$ 1.363,81 para R$ 1.530,96 – uma alta de 12,25%;
- entre os 10% mais ricos: R$ 6.913,40 para R$ 7.933,66 – uma alta de 14,75%.
“Os dados consolidados de 2022 confirmam uma tendência que temos acompanhado ao longo do último ano: a partir de 2022, há um crescimento grande da desigualdade, fruto da pandemia”, diz André Salata, coordenador do estudo e do PUCRS-Data Social.
Vale lembrar que o poder de compra de todas as parcelas da população foi corroído pelo aumento da inflação, que fechou 2022 com um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 5,79% , atingindo com mais força justamente a população mais pobre.
Recuperação mais difícil
O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marcelo Ribeiro, também coordenador do estudo, destaca que o grupo dos mais pobres é justamente o mais desprotegido no mercado de trabalho por estar inserido, em geral, na informalidade. O que aliás, dificulta a recuperação salarial dessa parcela da população.
“Mesmo que tenha ocorrido o aumento de renda, essas pessoas não têm garantias necessárias no mercado de trabalho. É um grupo bastante vulnerável. Inclusive, durante a pandemia, foi o que mais sofreu de forma imediata com essa fragilidade”, explica.
A curva observada na variação da renda dessa população mostra que, desde o fim de 2021, o avanço ocorre a passos lentos. Apesar de retomar nível próximo ao de meados de 2019, os rendimentos mensais seguem bastante defasados em relação ao pico registrado entre 2013 e 2014, quando chegou a R$ 325,76.
“Após a pandemia, foi o primeiro grupo a voltar ao mercado de trabalho, o que possibilitou o aumento de renda. Mas tem sido um crescimento cada vez menor. Então, a capacidade de elevar os ganhos não tem sido tão grande quanto dos outros grupos”, continua Marcelo Ribeiro.
Para o professor André Salata, da PUC-RS, os dados consolidados de 2022 indicam que o processo de recuperação salarial desse grupo está perdendo tração, chegando ao pico.
“A renda dos mais pobres se recupera daquele baque da pandemia, mas volta a um patamar muito baixo. Aliás, mesmo antes da Covid-19, já estava em um nível muito ruim. Então, estamos voltando àquele mesmo nível, e parece que a gente está atingindo um teto”, alerta.
Como mudar esse cenário?
Os pesquisadores sugerem que o poder público adote ações que, segundo eles, podem ajudar na retomada da renda dessa população pelo menos ao nível registrado entre 2013 e 2014, uma meta que, para os professores, é factível. Entre as medidas a serem aplicadas, eles apontam:
- Ampliação de investimentos públicos para criação de vagas de emprego, especialmente em áreas que demandem mão de obra menos qualificada, como obras de infraestrutura e construção civil.
- Retomada da política de aumento real (ou seja, acima da inflação) do salário mínimo.
O professor Marcelo Ribeiro, da UFRJ, lembra que, apesar de os dados do estudo se tratarem exclusivamente de rendimentos garantidos por meio do trabalho, as políticas de transferência de renda também trazem efeitos significativos nesse cenário.
Aliás, ele explica que esses benefícios incentivam o consumo o que, em termos simples, é capaz de dinamizar a economia e gerar empregos, melhorando a capacidade de distribuição de renda e, consequentemente, a situação dessa parcela da população.
Desigualdades regionais
O estudo também mostra as discrepâncias macrorregionais brasileiras, com as regiões Norte e Nordeste concentrando os menores níveis de renda média domiciliar per capita do país. Além disso, os salários das regiões ficam abaixo da média nacional.
Portanto, os patamares mais baixos tiveram registro nas regiões metropolitanas de:
- Maceió (AL): R$ 963
- Recife (PE): R$ 979
- Fortaleza (CE): R$ 1.001
- Manaus (AM): R$ 1.023
- São Luís (MA): R$ 1.033
No entanto, na outra ponta, com maiores níveis de rendimento médio, ficaram as regiões metropolitanas de:
- Distrito Federal: R$ 2.438
- Florianópolis (SC): R$ 2.168
- São Paulo (SP): R$ 2.052
- Curitiba (PR): R$ 1.813
- Porto Alegre (RS): R$ 1.788
Fonte: G1