Na explosão de raiva o impulso pode ser mais forte do que sua razão
Reação furiosa de Will Smith no Oscar teria sido um surto psicótico? Uma explosão de raiva? Um transtorno de agressividade?
Entretanto, não podemos considerar este ato um surto. Pois no surto há uma dissociação psíquica em que o individuo não tem consciência do que está fazendo e vivendo naquele momento. Mesmo que seja por um breve período. Mas no caso, podemos notar no vídeo, que ele estava consciente de seu ato. Pois após ter agredido, se senta e continua com agressões verbais.
Pode-se dizer que foi uma explosão de raiva. Contudo, seu impulso foi mais forte do que sua razão. É natural sentir raiva. Afinal, todos os sentimentos são importantes para a nossa formação de caráter e personalidade. Além de serem guias das nossas ações e comportamento. Mesmo os sentimentos considerados “ruins” como a tristeza, são necessários para nos moldar como seres humanos.
Porém, a raiva surge geralmente para nos libertar das repressões que sofremos. E para expor nossa indignação com as situações que não nos deixam felizes e confortáveis. Portanto, é importante saber diferenciar raiva e transtorno de agressividade.
Afinal, um pouquinho de raiva nos ajuda a evoluir e liberar as emoções contidas. Pois, a raiva nos faz lidar com as emoções à flor da pele. E devemos aprender como abrandá-las. De modo que não prejudique o nosso bem-estar nem o do próximo.
Porém, quando o quadro de raiva extrapola o nível normal, é preciso tomar cuidado. Para não desencadear doenças como depressão e ansiedade. E, em quadros mais graves, o Transtorno Explosivo Intermitente. Popularmente conhecido como Síndrome de Hulk.
Vamos ver se isso se encaixa na reação furiosa Will Smith. Após Chris Rock, no Oscar 2022, fazer uma piada sobre a cabeça raspada de Jada Pinkett Smith, mulher do ator.
O grau do temperamento agressivo pode passar dos limites e se tornar violento
O comportamento agressivo em sua forma de atuação normal aparece como tensão e explosão de raiva de modo que alivie o indivíduo.
Geralmente quem possui muita agressividade, canaliza toda a sua energia em explosões de raiva a fim de se livrar dessas emoções tão intensas. Mas o grau desse temperamento agressivo pode passar dos limites e se tornar violento. Foi o caso do Will Smith com sua reação furiosa.
Agressividade e violência não podem andar juntos. Pois podem causar danos ao indivíduo e àqueles que o cerca. É aí que mora o perigo. E o limiar entre a raiva como um sentimento comum e um transtorno de agressividade.
Síndrome de Hulk. Onde há um acesso de fúria descontrolada
No entanto, o Transtorno Explosivo Intermitente (TEI), é um comportamento agressivo. Gerando, portanto, acesso de fúria descontrolada. Geralmente sem motivos aparentes. Onde a pessoa perde o controle de seus impulsos violentos. E além disso, pode agredir alguém através de palavras ou de forma física. Porém, este descontrole também pode ser descarregado em animais ou objetos.
A síndrome é um tipo de Transtorno do Controle dos Impulsos (TCIs). Cuja categoria ainda inclui piromania e cleptomania, como por exemplo.
Segundo a American Psychiatric Association (APA), um estudo realizado nos Estados Unidos dentro do período de um ano revelou que cerca de 2,7% da população geral possui o TEI.
A pesquisa ainda apontou a predominância do transtorno na faixa etária entre 16-35 anos e com baixo nível de escolaridade.
A prevalência da doença é nos homens. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), para cada três homens, uma mulher sofre de TEI. No Brasil, o TEI atinge 3,1% da população.
Ao contrário dos acessos de raiva, as pessoas diagnosticadas com TEI possuem um menor controle de sua fúria. Pois elas perdem rapidamente as noções de limites e seu controle físico.
É importante salientar que quem tem este transtorno não possui uma ação premeditada. Tudo acontece de repente em sua mente e em seu corpo.
É uma explosão de sentimentos agressivos, que surgem sem dar sinal e sem avisar. Por este motivo, é muito importante descobrir desde cedo este mal. Para assim poder começar o tratamento indicado.
Uma pessoa que fica com raiva facilmente nem sempre é portadora da síndrome
Para diferenciar se alguém que fica com raiva facilmente é portador(a) da Síndrome de Hulk é importante notar duas coisas. A frequência da fúria e os motivos pelos quais ela foi desencadeada.
Se por causas superficiais e aparentemente sem sentido. Isso pode ser um indício. E ainda, quando a pessoa realmente perde sua capacidade de controle e parece cego. E a impulsividade e agressividade o domina completamente.
Eis os sintomas do Transtorno Agressivo:
- Agressões físicas e ameaças verbais sem justificativa ou razão;
- A pressão e batimentos cardíacos descontrolados;
- Descontrole de atitudes onde objetos são quebrados e arremessados;
- Sudorese e tremores no corpo;
- Falta de controle sobre as próprias ações;
- A pessoa se sente culpada após o ataque.
Ao receber o Oscar, Will Smith, além dos pedidos de desculpa, tentou se justificar
Pelo visto, Will Smith teve um motivo. Mas perdeu o controle de seus impulsos e se tornou violento. Nessas situações, a gente sempre perde a razão. Mesmo que tenha sido ou se sentido atacado primeiro.
Percebemos pelo discurso do astro, ao receber o Oscar, que além dos pedidos de desculpa, o mesmo tentou se justificar. Falou da pressão que sofre no trabalho. Das provocações que tem que engolir. E ainda assim, fingir que tudo está bem, entre outras coisas.
Esse tipo de comportamento não é aceitável, estimula outras pessoas a agirem da mesma maneira. O filho do casal comenta: And That’s How We Do It (e é assim que fazemos), ou seja, acaba sendo um exemplo negativo para o filho. E também para outras pessoas. Pois reforça que a agressão deve ser utilizada e é normal”.
E agora, mais do que nunca, o mundo inteiro está precisando mesmo é de paz. Essa é a verdade.
A vida, inclusive, dos famosos, dos astros, das celebridades e dos ricos, nem sempre são um mar de rosas.
Independentemente de quem somos, é importante consultar um psicólogo. Caso a gente perceba que nossos níveis de raiva passam do limite ou se estão prestes a extrapolar. E ainda, se adequam-se aos sintomas do TEI.
Existem várias maneiras de controlar a agressividade. E elas dependem e variam de indivíduo para indivíduo.
Meditação, exercícios físicos, yoga, esportes de impacto, terapia… Todos eles podem ser recomendados. Mas é vital conversar com um terapeuta para saber qual deles se encaixa no seu nível de raiva ou grau de TEI.
O controle da agressividade é um aprendizado. Que só o tempo e o autoconhecimento podem ajudar. Por isso, a agressividade na psicologia pode ser tratada e revertida.