Neal Mohan, CEO do YouTube, aproveitou a ocasião para reforçar o propósito da empresa com a novidade
As últimas semanas de setembro foram marcadas pelos anúncios das plataformas do YouTube e Spotify sobre suas novas ferramentas de dublagem com inteligência artificial (IA). Enquanto a plataforma de vídeos do Google trouxe novidades para todo o ecossistema de criação, com recursos que abrangem desde ideias até a edição, o serviço de streaming de música deu seus primeiros passos na era da IA com uma ferramenta de dublagem para podcasters.
Neal Mohan, CEO do YouTube, aproveitou a ocasião para reforçar o propósito da empresa com a novidade: “Facilitar a criação de conteúdo para creators de qualquer lugar é fundamental para o compromisso do YouTube de colocar o poder criativo nas mãos de bilhões de pessoas.”
O posicionamento do Spotify foi semelhante: “Acreditamos que uma abordagem cuidadosa da IA pode ajudar a construir conexões mais profundas entre ouvintes e criadores, um componente fundamental da missão do Spotify de desbloquear o potencial da criatividade humana”. Disse Ziad Sultan, vice-presidente de personalização da empresa.
Bruno Sartori, especialista em deepfake e CEO da Sintetica. Ai, empresa de produção de conteúdo por inteligência artificial (IA), falou sobre as possibilidades que envolvem a dublagem apresentadas por duas das maiores plataformas de conteúdo online do mundo.
Qual será o impacto das novas ferramentas de dublagem por inteligência artificial apresentadas pelo YouTube e Spotify para o ecossistema global de criação de conteúdo?
Bruno Sartori: Por um lado, os criadores de conteúdo terão à disposição uma ferramenta poderosa capaz de superar as barreiras linguísticas e tornar seu conteúdo acessível a pessoas de todo o mundo, em seu idioma nativo, independentemente da língua. Atualmente, para alcançar esse objetivo, é necessário recorrer à dublagem tradicional. O que acarreta em custos elevados de produção e limita a quantidade de material que pode criar.
Por outro lado, no futuro, dependendo do nível de qualidade alcançado pelas dublagens geradas automaticamente por meio da inteligência artificial, os profissionais da dublagem podem enfrentar desafios. Este setor precisa se adaptar rapidamente e buscar meios de regulamentar o uso dessa tecnologia.
O aumento do investimento de plataformas para disponibilizar ferramentas de IA pode ver como algo positivo, negativo ou existe um meio termo?
BS: É uma discussão de natureza complexa e multidimensional. A tecnologia de dublagem gerada por IA, por exemplo, possui um potencial notável. Mas está associada a desafios e preocupações igualmente substanciais. Embora ela possa tornar o conteúdo audiovisual mais acessível ao público global e oferecer uma economia de tempo e recursos para a indústria do entretenimento. A qualidade da dublagem automática, atualmente, não alcança o padrão atingido por dubladores humanos profissionais. No entanto, à medida que a tecnologia evolui, há a possibilidade de que, no futuro, ela possa ameaçar empregos na indústria de dublagem. Assim, a resposta a essa questão não é simplesmente “positiva” ou “negativa”. Mas sim requer uma avaliação cuidadosa e equilibrada do uso dessas ferramentas.
Por que os criadores de conteúdo devem estar preparados para lidar com as novas tecnologias apresentadas pelas plataformas?
BS: As ferramentas de inteligência artificial se tornarão indispensáveis para qualquer criador, possibilitando uma expansão rápida e econômica do alcance e impacto global de seu conteúdo. No entanto, existem desafios para enfrentar. Como a qualidade das produções e as questões socioculturais dos conteúdos.
Quais preocupações e responsabilidades as empresas e os criadores devem assumir após começarem a utilizar as novas ferramentas?
BS: As plataformas devem adotar uma política de transparência em relação ao uso da inteligência artificial na produção de conteúdo, seja na dublagem ou em outros âmbitos. Os usuários devem ser informados de forma clara sobre quais tecnologias estão empregadas nesses processos. Além disso, a proteção da privacidade dos dados coletados deve ser uma prioridade.
As empresas que disponibilizam essas ferramentas também devem estar plenamente conscientes das questões legais relacionadas ao uso da inteligência artificial na produção de conteúdo. E devem cumprir todas as regulamentações e leis vigentes em suas respectivas jurisdições. A chegada de grandes empresas no setor deverá estimular debates em torno da regulamentação do uso da IA na criação de conteúdo. Especialmente no que diz respeito aos direitos autorais e à propriedade intelectual.
Fonte: forbes