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Veja mais sobre como o uso da IA na voz dos atores de filmes indicados afeta o Oscar! - Foto: Reprodução/ Paris Filmes/Universal Pictures.

“O Brutalista” e “Emília Pérez” usaram IA na voz de seus atores. Isso muda a corrida do Oscar?

O drama de época O Brutalista e o musical Emília Perez foram os grandes vencedores do Globo de Ouro 2025

O feito, aliado a outras vitórias e nomeações desta temporada de prêmios, fez com que os dois filmes se tornassem fortes candidatos ao Oscar. Mas notícias recentes sobre essas produções podem abalar esse favoritismo. O uso da IA na voz dos atores de filmes indicados ao Oscar repercutiu de forma negativa – mas prática tem sido cada vez mais comum em Hollywood.

IA em “O Brutalista”

Em uma entrevista para o site Red Shark News, o editor Dávid Jancsó, montador de O Brutalista, revelou que o filme usou inteligência artificial para construir alguns prédios que aparecem em cena e, o que mais chamou atenção, para realçar o sotaque húngaro dos atores americanos Adrien Brody e January Jones.

O Brutalista acompanha a história de Lázló Toth, um arquiteto judeu que vai morar nos Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial. Brody, que é filho de uma refugiada húngara, interpreta Toth. Já Jones vive a esposa do protagonista, Erzsébet. Toth começa a nova vida trabalhando na indústria do carvão – até que um ricaço decide apostar em seus projetos inovadores.

De acordo com Jancsó, Brody e Jones passaram meses treinando com uma especialista em sotaque para aperfeiçoar a interpretação. Mas, mesmo com esse intensivão (e com os atores redublando suas cenas na pós-produção, algo típico em Hollywood), o resultado ainda estava aquém do esperado.

“Sou um falante nativo de húngaro e sei que é uma das línguas mais difíceis de aprender a pronunciar”, disse Jancsó ao Red Shark News. “(…) Se você vem do mundo anglo-saxão, certos sons podem ser particularmente difíceis de entender. (…) [Os atores] fizeram um trabalho fabuloso, mas queríamos aperfeiçoá-lo para que nem mesmo húngaros notassem qualquer diferença.”

A equipe do filme, então, usou Respeecher, um software ucraniano

A partir das vozes de Brody e Jones, que consentiram com esse processo, a produção treinou o programa (inclusive, com a voz do próprio Jancsó) para mudar a sonoridade de algumas letras e vogais. O Reespecher, vale dizer, tem sido bastante usado em Hollywood, como por exemplo para a voz do ator James Earl Jones (o Darth Vader) na série Obi-Wan Kenobi).

“Esse foi um processo manual, feito por nossa equipe de som e pelo Respeecher na pós-produção”, disse o diretor do filme, Brady Corbet, para o Hollywood Reporter. “O objetivo era preservar a autenticidade das performances de Adrien e Felicity em outro idioma, não substituí-las ou alterá-las e feito com o máximo respeito pelo ofício.”

Parte dessa decisão também aconteceu para acelerar a pós-produção. O Brutalista levou sete anos para ser feito. Tem mais de três horas de duração e custou menos de US$ 10 milhões (uma mixaria se compararmos com o orçamento de grandes lançamentos de Hollywood).

IA em “Emília Perez”

Em Emília Perez, a confissão sobre o uso de IA aconteceu ainda em maio, durante do Festival de Cannes (no qual o filme levou o Grande Prêmio de Júri), numa entrevista com um dos mixadores de som do longa, Cyril Holtz.

Emília Perez é um musical francês que se passa no México. A protagonista que dá nome ao filme (interpretada pela atriz trans espanhola Karla Sofía Gascón) comanda um grupo de narcotráfico. Identificada como homem no nascimento, ela realiza a transição de gênero e, para fugir das autoridades e da vida de crimes, conta com a ajuda de uma advogada, Rita (Zoe Saldaña). Segundo Holtz, a IA foi usada para aumentar o alcance vocal de Gascón.

Como o uso da IA na voz dos atores de filmes indicados afeta o Oscar?

Nas regras gerais da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, não há nenhuma menção à inteligência artificial. Os usos de Emília Perez e O Brutalista, portanto, dificilmente acarretariam em alguma desclassificação de seus atores.

Mas será que a repercussão poderia influenciar os votantes do Oscar? O prazo para escolher os indicados terminou na sexta, dia 17 de janeiro. O uso de IA em Emília Perez passou meses sem muito alarde. A entrevista de Jancsó foi no dia 11 de janeiro, mas só virou manchete no último fim de semana (depois que as urnas fecharam).

Ou seja: é seguro dizer que ambos os filmes continuarão a dominar as indicações. Resta saber, porém, se os quase 10 mil votantes do Oscar vão levar a IA em conta na hora de escolher os vencedores, que serão anunciados no dia 2 de março.

Pode ser que sim – mas não seria surpresa se o assunto morresse na praia. Afinal, a verdade é que filmes auxiliados por IA devem se tornar a regra, e não a exceção, num futuro não muito distante.

IA em Hollywood já é realidade, e não só na voz de atores de filmes indicados ao Oscar!

Em 2023, atores e roteiristas nos EUA passaram meses em greve, o que bagunçou todo o calendário do cinema e da TV. Dentre as principais pautas estavam uma remuneração justa.

(o streaming, que ainda é mal regulado, paga um valor baixo em relação ao número de exibições nas plataformas) e proteções contra o uso crescente da IA generativa.

O que ficou acordado ao final das greves: não se pode usar IA para criar roteiros. Mas atores podem ceder sua imagem e voz para treinar programas – que, por sua vez, poderão replicar imagens e áudios artificiais dos artistas.

Com o tempo, esses acordos tendem a ter revisão (especialmente nos EUA, onde cada estado pode criar leis mais e menos frouxas) – e a IA, cada vez mais usada. É o caso de produções recentes como “Aqui”, que treinou modelos generativos com filmes antigos de Tom Hanks e Robin Wright para ajudar a criar as versões rejuvenescidas dos atores.

Há quem se oponha a isso, claro. Há uma mensagem no final do novo terror Herege, com Hugh Grant, que ressalta que não usaram nenhuma IA durante a produção.

Hollywood é uma indústria e, como qualquer outra indústria, não escapará da inteligência artificial. O importante, então, será aprender a como usá-la em prol dos artistas, dos profissionais dos bastidores e, claro, da história contada na tela.

Fontes: forbes, globo, super abril, tecnoblog, cinema