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Mesmo com receita recorde, o agro entra em 2026 sob pressão de margens e crédito mais restrito. Foto: Freepik

Mesmo com receita de R$ 1,6 trilhão, agro terá pressão sobre margens e crédito em 2026

Segundo a CNA, apesar de ter sido determinante para os resultados macroeconômicos de 2025, com uma receita de R$ 1,6 trilhão, o agro brasileiro terá pressão sobre margens e crédito em 2026

O agro brasileiro, impulsionado por uma receita prevista de R$ 1,6 trilhão em 2026, enfrentará, segundo a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), pressão sobre margens e crédito, apesar de ter sido determinante para os resultados macroeconômicos de 2025.

No entanto, a pressão sobre as margens é real: fertilizantes subiram quase 20% e o dólar mais baixo tende a achatar lucros. Além disso, a falta de um seguro rural impede um melhor desenvolvimento do setor, segundo João Martins, presidente da entidade.

“A CNA vem advogando há alguns anos, mostrando que é muito mais barato para o governo subsidiar o seguro rural”, diz Martins.

Mesmo com receita de R$ 1,6 trilhão, agro terá pressão sobre margens e crédito em 2026

Este ano o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) teve o pior desempenho desde 2007. E cobriu apenas 2,2 milhões de hectares, menos de 5% da área agricultável do país. A CNA defende a reestruturação do PSR e instrumentos de gestão de risco que tragam previsibilidade ao produtor.

“A agricultura é uma atividade de alto risco, então você precisa ter seguro. É mesmo que automóvel você não faz seguro do automóvel, porque vai bater, você faz que é possível bater o então é a mesma coisa para o seguro o rural. Nós temos problemas climáticos em regiões, que nunca tivemos antes”, diz Martins.

Menor pressão da inflação com o agro

Uma das boas notícias que setor trouxe foi a menor pressão da inflação ao consumidor brasileiro. A entidade atribui ao setor a redução da inflação e à sustentação do crescimento do PIB em um ano de choque de preços e incertezas.

Segundo a CNA, a inflação deve fechar o ano em 4,4% e o PIB do agronegócio foi o motor que evitou um cenário pior para a economia.

“Graças ao agro, a inflação de alimentos este ano ficou dentro da meta”, disse o diretor técnico Bruno Lucchi, destacando o papel do setor na estabilidade dos preços.

Endividamento, seguro e vulnerabilidade do produtor

A inadimplência do crédito rural explodiu em 2025, chegando a 11,4% em outubro, o maior patamar desde 2011. O salto foi atribuído a perdas climáticas repetidas, custos de produção elevados e restrição do crédito pelos bancos.

“Tínhamos 3,5% de inadimplência em outubro de 2024; em outubro deste ano estamos com 11,4%, o maior valor da série histórica”, afirmou Lucchi, pedindo medidas estruturais de longo prazo.

Safras, carne e valor bruto da produção

Para 2025, o VBP está estimado em R$ 1,49 trilhão, representando expansão de 11,9% em comparação a 2024. O segmento agrícola deve registrar alta de 10,8%, alcançando R$ 981,30 bilhões, sustentado pelo bom desempenho das safras de soja e milho.

Já o segmento pecuário deve ter papel de destaque. Com alta projetada de 14,2% (R$ 516,52 bilhões), puxada pela recuperação dos preços da bovinocultura de corte.

Na pecuária, por exemplo, 2025 registrou alta nos abates e produção recorde de carne. Mas o elevado abate de fêmeas, 49,9% do total, reduz o plantel e pressiona a reposição em 2026.

“A estimativa é fechar o ano com 12 milhões de toneladas de carne, 1,7% a mais”, pontuou Lucchi, e advertiu sobre possível queda de produção no ano seguinte.

A estimativa da Conab para 2025/26 aponta produção total de grãos levemente superior à safra anterior. Com soja em alta e milho segunda safra em queda, por isso o Valor Bruto da Produção (VBP) do agronegócio deve alcançar R$ 1,57 trilhão em 2026. Crescimento de 5,1% sobre 2025.

O segmento agrícola deve totalizar R$ 1,04 trilhão (+6,6%), impulsionado pelo aumento da produção de grãos. Já o VBP da pecuária deve atingir 2,2%, chegando a R$ 528,09 bilhões, com a bovinocultura de corte apresentando expansão de 4,7%.

Comércio exterior e geopolítica

O maior nó para 2026, segundo a Confederação, são as movimentações externas. Sendo elas: tarifas adicionais dos Estados Unidos, acordos comerciais que favorecem fornecedores americanos e incertezas chinesas.

“Se a lista de exceção não mudar, nós estamos projetando um impacto negativo em 2026 de 2,7 bilhões de dólares”, afirmou Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da CNA, resumindo o temor do setor.

A queda de exportações aos EUA entre agosto e novembro, de 37,85% em relação ao ano anterior, mostra o efeito imediato das barreiras. Ao mesmo tempo, China e União Europeia ampliaram compras que, em parte, compensaram perdas, mas o risco de salvaguardas chinesas sobre carne bovina. Com decisão prevista para janeiro, mantém o setor em alerta.

“A previsão é que no dia 26 de janeiro eles divulguem o resultado da investigação, que pode significar aplicação de salvaguarda”, disse Sueme.

Outra oportunidade para ela é um acordo com a Índia, mas que ainda está em negociação. “É um mercado muito interessante porque ele possui dois direcionamentos fortes para o aumento de demanda por alimentos, que é o aumento populacional e o aumento de renda”, diz Sueme.

Políticas de estado para o agro

No plano doméstico, a necessidade de ajuste fiscal em 2026 pode elevar juros e reduzir a disponibilidade de recursos para investimento no campo. “Hoje nós já vamos a uma estimativa de fechar 2026 com 83,8% de dívida sobre PIB”, advertiu Lucchi, ligando a deterioração fiscal ao aperto do crédito rural.

A mensagem dos dirigentes da entidade é de que o agro, mais uma vez, superou as expectativas em 2025. Mas precisa de políticas de Estado para reduzir sua vulnerabilidade.

“O agro não se faz de um ano para o outro; precisamos de políticas estruturantes, políticas de Estado”, concluiu Bruno Lucchi, pedindo seguro rural perene e instrumentos que atravessem mandatos.

Fonte: forbes