Assim, o crescimento da “Lavanderia Rio Pardo” foi impulsionado pelo anúncio da instalação e pelo começo das obras de uma grande indústria. Uma planta de produção de celulose da Suzano. Mas não somente essa empresa, como também toda a economia da cidade.
Em maio de 2021 foi iniciada a construção da fábrica da Suzano A companhia investiu R$ 19,3 bilhões para instalar uma planta com capacidade de produção de 2,55 milhões de toneladas por ano. Uma das maiores do mundo.
A previsão é que a indústria esteja em operação em 2024. Atualmente, 4 mil pessoas trabalham no canteiro de obras da empresa. E, no primeiro semestre de 2023, no pico da construção, esse número vai chegar a 10 mil. Quando estiver produzindo, a fábrica vai empregar diretamente 3 mil colaboradores.
Instalação de grandes empresas está mudando a economia local
“Eu abri baseada unicamente no sonho mesmo. Mas, não tinha nada de informação de fábrica. Sempre quis ter meu próprio negócio. Quando a notícia da indústria chegou, ficou todo mundo assim, na expectativa, empolgado, com a perspectiva de crescer. E foi isso que aconteceu. Eu acredito muito na minha cidade. O nome da minha lavanderia, é Rio Pardo, mais riopardense impossível. Amo esse lugar e adoro viver aqui. É ótimo ver esse crescimento”, comenta.
Alavancada pelo aumento da demanda de serviços provocado pela instalação da indústria, a lavanderia de Lucimara deu um “sprint” na corrida do desenvolvimento. Em pouco mais de um ano o número de clientes cresceu tanto que ela precisou investir mais. E assim, comprou através de um financiamento, de uma linha industrial de máquinas de lavar e de secar. Para abrigar o novo maquinário teve de se mudar. Pois o seu espaço era de apenas 60 metros quadrados em sua casa. E assim, precisou ir para um imóvel de 400 metros quadrados, no centro da cidade.
O sucesso da lavanderia faz Lucimara já pensar nos próximos passos
Se antes, a lavanderia contava somente com a sobrinha de Lucimara para fazer todas as funções, atualmente já tem quatro funcionários. Todos, devidamente formalizados. Ela também precisou buscar um sócio, para auxiliá-la no gerenciamento do negócio.
O sucesso da lavanderia faz Lucimara já pensar nos próximos passos. Ainda se dividindo entre o emprego e a sua empresa. Ela planeja se dedicar totalmente ao próprio negócio. Também vai aproveitar um benefício concedido pelo município. A cessão de um terreno no distrito industrial. Sobretudo, para começar, a partir de 2023, a construção de sua sede própria.
As pessoas indicavam nossos serviços e com a vinda da fábrica isso aumentou muito
“Me surpreendi, porque chegou um momento em que eu queria muito. Mas nunca imaginei que seria nesse patamar. No começo recebemos muita ajuda. As pessoas indicavam uma para a outra os nossos serviços. Com a vinda da fábrica isso aumentou muito. Só tenho a agradecer, principalmente a minha família. E, em especial, a minha mãe, a minha maior incentivadora”, comenta a empreendedora. Completando, dessa forma, que pretende fazer capacitações oferecidas pelo Sebrae/MS nos próximos meses. Contudo, para melhorar ainda mais a gestão da lavanderia.
“Os técnicos já estiveram na lavanderia e feito um primeiro contato. Sei ser necessário ter esse suporte. Eles estão fazendo várias palestras para levar informações a outros empresários da cidade. E, assim sendo, eu estou buscando me organizar para nos próximos meses fazer uma capacitação”, conclui.
A chegada de uma “empresa âncora” a um município oferece uma série de oportunidades as micro e pequenas empresas. É o que explica o gerente da unidade de competitividade empresarial do Sebrae/MS, Rodrigo Maia. Como no caso da fábrica da Suzano, que desse modo, oportunizou a lavanderia de Lucimara, em Ribas do Rio Pardo. Ele comenta que essas chances são apresentadas em dois grandes momentos: durante a instalação da indústria e quando a fábrica já está em operação.
O município ganhou, aproximadamente mais 5 mil moradores em razão da obra
“Primeiro, as micro e pequenas empresas têm a oportunidade de atender diretamente as indústrias, com bens e serviços. Também podem ser fornecedores das empresas contratadas ou subcontratadas dessas gigantes. A terceira oportunidade é o que chamamos de ‘efeito renda’. Sendo a cadeia formada, por exemplo, por açougues, supermercados e farmácias. Bem como, por restaurantes e imobiliárias, entre outras. E assim, vão atender dos colaboradores aos gestores das outras empresas”, explica.
O prefeito de Ribas do Rio Pardo, João Alfredo Danieze (PSOL), aponta que o efeito da instalação da fábrica na cidade foi quase imediato. O município, que antes tinha 25,3 mil habitantes (estimativa de 2021 do IBGE), ganhou, aproximadamente mais 5 mil moradores em razão da obra. A arrecadação municipal também cresceu muito. Aumentando assim, a disponibilidade de recursos para investimentos em várias áreas. Como saúde, educação e assistência social, entre outras. Somente com o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (Issqn), o incremento foi de 93%, entre 2020, R$ 6,6 milhões, e 2021, 12,8 milhões.
Aproximadamente 200 novas empresas se instalaram no município
“Registramos um superavit de quase um terço do orçamento anual em 2021. O previsto era R$ 120 milhões e arrecadamos R$ 150 milhões. Neste ano também estamos percebendo isso. Já arrecadamos 50% do projetado para o ano. Sendo ainda maior do que o ano passado e chega a R$ 185 milhões. É um acréscimo significativo. E será ainda maior quando a fábrica estiver em operação. O que deve nos levar a triplicar nossa receita”.
Danieze diz que o setor produtivo, principalmente os segmentos de comércio e de serviços, está eufórico. A causa é o grande crescimento nas atividades relacionadas a hotelaria. Bem como, a gastronomia, construção civil e comércio. “Eles estão percebendo a grandiosidade disso. Mas o impacto, propriamente dito deve vir entre o fim deste ano e o começo do próximo”.
O prefeito diz que entre o anúncio da instalação da fábrica e junho deste ano, aproximadamente 200 novas empresas se instalaram no município. E além disso, o número de consultas para abertura de novos negócios não para de crescer. São entre 10 a 15 por semana.
“A fábrica atrai uma série de outras atividades econômicas que não tínhamos. Como por exemplo, cozinha industrial e lavanderia industrial. Agora temos às duas. A rede hoteleira não tinha a capacidade que tem hoje. E assim sendo, tem várias atividades surgindo. Ribas vai receber, por exemplo, uma indústria química que vai gerar 80 empregos diretos. E além disso, fornecerá produtos químicos usados no embranquecimento da celulose para Suzano. Costumo dizer que temos dois canteiros de obras. Um da fábrica, o outro na cidade, tamanha a quantidade de construções”, relata.
Quando a construção da fábrica teve início tivemos vontade de voltar
Entre as empresas recém-instaladas em Ribas do Rio Pardo está o “Lar Doce Bar choperia”. O empreendimento explora um conceito novo para a cidade. E o movimento em pouco mais de 15 dias de abertura está superando todas as expectativas. Segundo os dois sócios, Jailson de Oliveira Plácido e Wagner Luciano Nascimento da Silva: “A vinda da indústria foi o principal fator do nosso investimento. Nós, que moramos na cidade, sabemos da necessidade que a população tem. Veio uma quantidade de pessoas muito significativa e não tinha entretenimento. Então, percebemos no ramo alimentício uma grande falta de opções. Havia dias que as pessoas saiam à noite. E nem sequer tinham onde se sentar na cidade. Por isso, após várias pesquisas e levantamentos, decidimos trazer essa ideia para cá”, relata Jailson.
Os dois são riopardenses. Além de empreendedor, Jailson é arquiteto e tem escritório montado na cidade. Wagner estava morando em São Gabriel do Oeste, com a esposa, Alessandra Barbosa dos Santos. O casal trabalhava com confinamento de gado de corte. Mas decidiu voltar para a cidade natal. Sobretudo, de olho nas oportunidades de negócio que se abriram. Em meio a chegada da gigante industrial.
Vamos precisar de mais colaboradores pois a mão de obra está complicada
“Em 2016, quando saímos da cidade a situação era difícil. Ribas estava praticamente abandonada. Por isso, na primeira oportunidade que tivemos, mesmo a mais de 300 quilômetros de distância da família, nós fomos. Quando a construção da fábrica teve início e a economia da cidade começou a aquecer tivemos vontade de voltar. Mas, ao mesmo tempo, ficava aquele receio, por ser uma cidade pequena. Então decidimos fazer uma aposta e acreditar. Começamos a desenhar o projeto em janeiro deste ano com o Jailson. Entre março e abril a cidade alavancou. Foi de um mês para o outro. E, aí tivemos a certeza de que estávamos no caminho certo. Não tinha mais volta”, explica Alessandra.
Atualmente, a choperia tem três funcionários fixos. Além da dedicação integral de Wagner e Alessandra. Jailson reforça pois o time aos fins de semana. Mas os empresários dizem que para atender o grande movimento estão contratando “diaristas”. “No fim de semana contratamos pessoas que trabalham por diária. Mas vamos precisar de mais colaboradores fixos. Entretanto, a mão de obra no município está complicada. Não estamos encontrando trabalhadores. E isso, entretanto, é uma situação que todos os empreendedores estão enfrentando. Estão sendo abertas várias empresas novas e tem outras, de vários estados do país vindo para cá. Mas a população precisa embarcar junto. Ser capacitada, ainda mais para não ficar para trás”, analisa Wagner.
Ações de apoio
Mas com movimento bem acima das expectativas na choperia, o trio de empresários revela que já planeja o futuro. “Isso é uma coisa que já conversávamos pois antes da abertura. Reservar uma parte do lucro para um fundo. Esses recursos, no entanto, poderão ser utilizados futuramente para abrirmos uma filial. Ou até mesmo um novo negócio. Mas a medida que percebermos o que a população da cidade precisa e demanda. Somos jovens, sonhadores e queremos aproveitar esse momento especial da nossa cidade. É muito gratificante ver como Ribas está crescendo”, apontam.
Segundo o gerente da unidade de competitividade empresarial do Sebrae/MS, antes mesmo do anúncio oficial da instalação da fábrica da Suzano em Ribas do Rio Pardo, a entidade e a empresa âncora já faziam um trabalho para que o município. Contudo, o setor produtivo e a população, pudessem aproveitar as oportunidades que a chegada do empreendimento oferecida. O objetivo também era preparar a cidade para mitigar os outros impactos. Como, por exemplo, o aumento abrupto do número de moradores e da demanda por serviços públicos. Tanto na saúde, quanto na educação. Bem como, na segurança e na infraestrutura.
O Sebrae/MS vai implementar a partir de julho o programa Semear
Ele comenta que foi elaborado um mapa de oportunidades, listando, a partir da visitação “in loco”. Mais de 1,2 mil empresas de vários segmentos de Ribas do Rio Pardo e cidades próximas. Como Campo Grande, Água Clara e Três Lagoas. Esses empreendimentos poderiam ser fornecedoras de produtos e serviços para a indústria.
Além disso, Maia diz que a empresa âncora e o Sebrae/MS vão implementar a partir de julho o programa Semear. A iniciativa é voltada ao desenvolvimento de fornecedores. Com ações que duram entre 6 e 8 meses. E, assim sendo, abrangem do diagnóstico da situação do empreendimento até a consultoria. Mais de 127 empresas já se inscreveram para participar.
Estão sendo desenvolvidas ações do Cidade Empreendedora
Em parceria com o município, ele relata que estão sendo desenvolvidas ações do Cidade Empreendedora. O programa é voltado a dinamizar a economia da cidade. E já tem várias atividades realizadas, como: aprimoramento de lideranças, elaboração do plano de desenvolvimento econômico e implementação de políticas públicas. Para desburocratizar, sobretudo, o município, melhorar o ambiente de negócios e ainda mais incentivar as compras públicas das micro e pequenas empresas, entre outras.
Uma das ações mais recentes, conforme Maia, foi uma visita técnica. A mesma em junho levou uma equipe de oito pessoas da prefeitura para conhecer Telêmaco Borca e Otigueira, no Paraná. Às duas cidades tem porte similar ao do município sul-mato-grossense. E também foram impactadas pela instalação de uma indústria âncora. No caso, uma planta da celulose da Klabin, construída entre 2014 e 2016.
“Criamos forças-tarefas para algumas demandas mais urgentes”
O prefeito de Ribas do Rio Pardo diz que trouxe desta visita uma série de experiências que vão ajudar a minimizar os impactos. Bem como, enfrentar as adversidades decorrentes da instalação do empreendimento.
“Criamos pois forças-tarefas para algumas demandas mais urgentes. O estado nos cedeu 12 novas salas de aula. Já licitamos e vamos iniciar a construção nas próximas semanas. A assistência social capacitou os servidores para receber os programas que isso pode gerar. Temos problema de trânsito, devido a maior circulação de veículos. Discutimos com o DNIT [Departamento Nacional de Infraestutura de Transporte] para ter uma travessia mais segura da rodovia. Bem como, com o Detran/MS [Departamento Estadual de Trânsito] para contarmos com mais sinalização. Inclusive, com semáforos, o que não temos hoje na cidade. Temos problemas ligados diretamente aos alojamentos. Porque é necessário que os trabalhadores tenham mais estrutura de lazer e esporte. Assim como na saúde. Onde já aumentamos a quantidade de médicos. E uma série de outras situações que estão surgindo e estamos trabalhando nelas”, pontuou.
Contrapartida da indústria
Em contrapartida, Danieze diz que está doando lotes para micro e pequenos empresas possam se estabelecer no distrito industrial do município. Assim como está agilizando a concessão da licença prévia para a instalação dos empreendimentos nessa área. Também está retomado alguns terrenos que não foram utilizados pelos antigos beneficiários nestes locais.
Além disso, em parceria com entidades do sistema “S”. Como o próprio Sebrae/MS. Bem como, o Senai, o Senac, o Senat e o Senar, tem ações voltadas para a capacitação. “Temos mais de 200 pessoas fazendo curso técnico do Senai com bolsa de R$ 1,5 mil paga pela Suzano. A iniciativa, além de qualificar mão de obra, vai oferecer a oportunidade para que os melhores alunos possam ser contratados pela empresa”, comentou.
Parceria com a prefeitura vai incentivar jovens e adultos a concluir os estudos
A empresa âncora diz que a contrapartida ao município começou antes mesmo da terraplanagem da obra. A indústria cita uma série de ações. Entre elas: um programa de educação que contribui para o desenvolvimento de estudantes. E, dessa forma, beneficia 4 mil alunos de 10 escolas. Com cursos de qualificação nas áreas industrial e florestal em parceria com o Senai. E com uma série de atrativos para a população local, como bolsa-auxílio, alimentação e oportunidade de contratação, após a conclusão.
Também é relacionado uma parceria com a prefeitura para incentivar jovens e adultos a concluírem os estudos. E além disso, um curso preparatório gratuito para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja).
A Suzano informa também que tem um pacote de ações do denominado Plano Básico Ambiental (PBA). O mesmo prevê R$ 48 milhões em investimento no município para melhorias e projetos. Tanto nas áreas de saúde, educação, habitação, quanto na segurança pública e segurança no trânsito.
Serão necessárias mais de 20 iniciativas para comportar o aumento populacional
Segundo a companhia, são mais de 20 iniciativas. Uma das principais é a reforma do hospital municipal, prevista para ser iniciada em setembro deste ano. Vai ser ampliada a capacidade de atendimento da unidade de saúde. Ainda mais com a implementação de mais 10 leitos de terapia intensiva (UTIs), sendo seis totalmente equipados pela empresa.
Ainda previstos no plano estão o apoio a projeto habitacional com construção de casas populares para famílias sem renda inscritas no cadastro único do município. Bem como, a adequação do trevo de acesso à cidade na BR-262. Além da implantação de uma nova delegacia de Polícia Civil. Como também, uma nova base para a Polícia Rodoviária Federal na BR-262. E apoio na melhoria da estrutura física da Polícia Militar para comportar o aumento do efetivo. O que possibilitará a transformação do batalhão em companhia.
Durante muitos anos, o município ficou conhecido como “Entroncamento”
O processo vivenciado por Ribas do Rio Pardo atualmente foi experimentado por Nova Alvorada do Sul, cidade a 115 quilômetros de Campo Grande. Contudo, há pouco mais de uma década. Entretanto, em vez de uma planta de produção de celulose, se instalou na cidade, em 2009, uma usina sucroenergética, a Santa Luzia, do grupo Atvos.
Como aponta o próprio site da prefeitura de Nova Alvorada do Sul, durante muitos anos, o município ficou conhecido como “Entroncamento”. Por conta da cidade ser um ponto de conexão entre as rodovias BR-267 e BR-163. Aliás, a chegada da indústria âncora mudou a perspectiva da cidade. O município atualmente é um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do país. O 11º no estado e a 75ª no país, entre as cidades mais ricas do agronegócio.
Com a instalação da usina o número de habitantes cresceu quase 30%
Segundo o gerente de Pessoas & Administração do Polo Sul da Atvos, Erico Baracho, a usina em operação na cidade é uma das principais unidades da companhia. Na safra passada moeu 5,5 milhões de toneladas de cana para produzir 420 milhões de litros de etanol e cogerar 385 GWh de energia elétrica. Sozinha, emprega 1,6 mil pessoas diretamente e gera ainda cerca de 4,8 mil empregos indiretos.
Com a instalação da usina, em apenas um ano, o número de habitantes cresceu quase 30%. Saltando, dessa forma, de 12,6 mil, em 2009, para 16,4 mil em 2010. Segundo informações do banco de dados da secretaria estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro). Atualmente, a população estimada pelo IBGE é de 22,9 mil pessoas.
A Semagro aponta que, comparando os dados de uma década de instalação da usina, entre 2010 e 2019, a chamada “arrecadação própria” do município, que engloba tributos como IPTU, ISS, ITBI e taxas, entre outras, cresceu 114,11%. Passando de R$ 8,8 milhões para R$ 19 milhões. No mesmo intervalo de tempo, o Produto Interno Bruto (PIB) teve um incremento de 226,3%. E foi de R$ 458,6 milhões para R$ 1,5 bilhão por ano. A quantidade de estabelecimentos comerciais pulou de 201 para 375, 86,5% a mais.