Como as férias escolares dos filhos nem sempre coincidem com a dos pais, o principal impacto sentido pelas mulheres é em relação ao foco
Uma pesquisa da Todas Group, empresa de educação corporativa voltada para carreira feminina, mostra que 84% das mulheres que são mães se preocupam mais com seus filhos durante o período de férias escolares, e isso afeta diretamente o seu trabalho. “A maioria das mulheres que me procuram relatando sobrecarga mental estão se esforçando para dar conta da jornada tripla sozinhas. No período de férias, essa sobrecarga aumenta exponencialmente”. Afirma Ana Paula Carvalho, psiquiatra que atua junto ao Todas Group.
Assim durante a pandemia, quando as escolas foram fechadas e as crianças, como todos aqueles que podiam, ficaram em casa, o trabalho de cuidado recaiu sobre as mães. A lógica é semelhante ao momento de férias dos pequenos (ou dos nem tão pequenos assim).
Como as férias escolares dos filhos nem sempre coincidem com a dos pais, o principal impacto sentido pelas mulheres é em relação ao foco. Que aliás, fica dividido entre as atividades das crianças e o trabalho. Essa é uma preocupação constante para 75% das mães, que relatam sentimentos de culpa, insegurança e exaustão.
Falta apoio
Saber que os filhos estão na escola é motivo de tranquilidade e segurança para as mães, que podem colocar sua energia no trabalho. “O contrário também é verdadeiro, e pode ser bem frustrante para as mulheres que estão investindo em suas carreiras”. Afirma Dhafyni Mendes, cofundadora da Todas Group e mãe de uma menina de dois anos e de um menino de 17. “Vivo diariamente o que as pesquisas mostram.”
Aliás, a rede de apoio não é importante apenas em casa, mas também no trabalho, e 32% das entrevistadas dizem sentir falta de suporte para desempenhar bem seu papel profissional.
A faixa etária dos filhos também interfere no tipo de preocupação das mães. Entre as 600 mulheres que responderam à pesquisa, 66% têm filhos de 0 a 12 anos. Assim, mulheres com bebês ou crianças de até seis anos precisam conciliar questões práticas da rotina, como alimentação, higiene e horários, com as demandas profissionais. Já a atenção das mães de adolescentes se volta para temas como tempo de tela dos filhos (o maior receio para 25% delas) e com quem os jovens estão interagindo na internet.
Mulheres e o cuidado
O trabalho de cuidado com a casa, os filhos, idosos e outros familiares e pessoas doentes ganhou visibilidade depois de ter sido tema da redação do Enem no ano passado. Além disso, ele é essencial para a manutenção da sociedade, mas não é remunerado e está distribuído de forma desproporcional, recaindo principalmente sobre as mulheres. Elas realizam mais de três quartos do trabalho de cuidado não remunerado no mundo 12,5 bilhões de horas todos os dias, segundo a organização global contra as desigualdades Oxfam (Comitê de Oxford para o Alívio da Fome).
No Brasil, as mulheres dedicam até 25 horas por semana a afazeres domésticos e cuidados. Enquanto os homens dedicam cerca de 11 horas, segundo um estudo do FGV IBRE divulgado em outubro deste ano.
Para dar conta da tripla jornada de trabalho, 78% afirmam sacrificar o sono para cuidar de suas famílias e 80% estão deixando de lado suas vidas sociais, segundo um relatório publicado em 2023 pela empresa americana voltada à maternidade Motherly, o que prejudica sua saúde mental. “É fundamental não mascarar os desafios. Portanto, reconhecer que eles existem é o primeiro passo para encontrar estratégias e soluções”, diz Mendes.
Trabalho flexível pode ajudar a conciliar maternidade
Desde o ano passado, muitas empresas têm exigido a presença dos funcionários no escritório, o que dificulta ainda mais a manutenção da tripla jornada feminina.
O trabalho flexível é uma das estratégias apontadas por especialistas para reter mulheres. Especialmente as que são mães, no mercado de trabalho, e impulsionar carreiras femininas.
Segundo o relatório da Motherly, 64% das mães que não trabalham fora de casa afirmaram que precisam de um trabalho flexível para voltar ao mercado e conciliar a maternidade.
Da mesma forma, o mais recente estudo Women in the Workplace da consultoria McKinsey com a LeanIn descobriu que 9 em cada 10 mulheres querem trabalhar em modelo total ou parcialmente remoto. E observou que 49% das mulheres em cargos de liderança consideram a flexibilidade um dos principais pontos para sair ou assumir um cargo. Contudo, essa tendência é ainda maior entre mulheres líderes mais jovens.
Mas as mulheres não são as únicas que buscam regimes de trabalho flexíveis. A McKinsey mostra que 87% dos profissionais trabalhariam de forma remota se tivessem a oportunidade.
Fonte: forbes