Você está visualizando atualmente Ética é sempre coletiva
Afinal, ética é a regulação da conduta da vida coletiva.

Ética é sempre coletiva

As pessoas se contentam com as aparências: a aparência da honestidade, a aparência da decência, a aparência da sinceridade

O filósofo grego Platão, no livro sétimo da obra A República traz o mito da caverna, em que diz que nós, humanos, vivemos aprisionados no fundo de uma caverna, olhando para a parede, com a entrada às nossas costas. Tudo o que é verdadeiro acontece lá, porém, a luz do sol projeta a sombra.

Como estamos amarrados de frente para a parede, achamos que a sombra é a coisa verdadeira. Portanto, no campo da ética, isso acontece também. As pessoas se contentam com as aparências: a aparência da honestidade, a aparência da decência, a aparência da sinceridade.

Aliás, nós somos capazes de ficar por trás falando, o que os gregos chamavam de hipócritas – aqueles que ficavam ocultos, dizendo as falas sem aparecer, da onde vem a ideia de hipocrisia, aquilo que não se mostra, que fica na sombra. A ideia de revelar, de retirar a sombra é necessária no campo da ética.

E nós somos o único animal capaz de perguntar se o que fazemos é correto ou incorreto. E isso é ética. A ética é o conjunto de princípios e valores que usamos para decidir a nossa conduta social.

Coletividade e ética

Só se fala em ética porque homens, mulheres vivemos em coletividade. Se eu fosse sozinho, não existiria a questão da ética. Afinal, ética é a regulação da conduta da vida coletiva. Se só existisse um ser humano no planeta, o tema da ética não viria à tona, porque ele seria soberano para fazer qualquer coisa sem se importar com nada.

Como vivemos juntos e juntas, precisamos ter princípios e valores de convivência, de maneira que tenhamos uma vida que seja íntegra, dos pontos de vista físico, material e espiritual.

A moral é a prática, portanto, existe moral individual. A ética é o conjunto de princípios de convivência, portanto, não existe ética individual. Existe de um grupo, de uma sociedade, de uma nação.

 

Mario Sergio Cortella é filósofo e doutor em Educação. É professor titular da PUC-SP desde 1977, com docência e pesquisa no Departamento de Fundamentos da Educação e da Pós-Graduação em Educação, e é professor convidado da Fundação Dom Cabral e do GVpec da FGV-SP. Escritor de diversos livros.