Estudantes de Corumbá desenvolveram uma peça teatral instrutiva
No Dia Mundial do Meio Ambiente (5), seis projetos desenvolvidos por jovens de todos os biomas brasileiros ganharam destaque, e os estudantes de Corumbá estavam entre eles. Isso ocorreu porque apresentaram propostas que aliam conservação e soluções ambientais à valorização do conhecimento das populações tradicionais.
As iniciativas venceram o Prêmio Criativos da Escola+Natureza, promovido pelo Instituto Alana. O objetivo é encorajar crianças e adolescentes a transformar suas realidades, por meio do incentivo ao protagonismo.
Crianças e adolescentes precisam ser escutados
“A gente hoje já sabe que crianças e adolescentes são a população no mundo mais impactada pelas questões climáticas e das desigualdades raciais. No entanto, nem sempre essa população é considerada nas soluções dos problemas. Ou mesmo escutada em relação ao que as afeta, ao que as aflige”, destaca Ana Cláudia Leite, especialista em educação e culturas infantis do Instituto Alana.
Os estudantes dos ensinos fundamental e médio e seus educadores serão premiados com uma jornada formativa on-line. Ao final, essa jornada os levará até Belém (PA), em novembro, para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).
Segundo Ana Cláudia, a ideia é que essa jornada possibilite a troca entre as comunidades escolares e seus territórios. Além disso, permitirá que os projetos sejam aprimorados tecnicamente e ganhem visibilidade, com mais impacto social.
Troca de experiências
“Serão conteúdos, pessoas, experiências que possam ampliar a possibilidade de atuação desses jovens nos seus territórios. Também vão fortalecer esse projeto, para que ele possa ganhar escala, incidir no entorno da escola, ter mais diálogo, mais parceiros, seja iniciativa privada, seja com poder público ou terceiro setor.”
A premiação também inclui um incentivo financeiro de R$ 12 mil para cada equipe. Desse valor, R$ 10 mil terão destino aos estudantes e R$ 2 mil ao educador ou adulto responsável. A comissão escolheu os premiados entre quase 1,6 mil projetos de 738 municípios de todo o país.
“A gente tem projetos que são de regiões quilombolas, de comunidade que tem ligação com a comunidade indígena, ou de região onde há várias comunidades indígenas muito próximas à escola. Tem projetos em regiões densas, urbanas. São diversos não só em relação ao que propuseram, de como promovem transformações na socialidade, mas também são estudantes com histórias de vidas diferentes”, explica a especialista.
Carnaíba
Na Caatinga do município pernambucano de Carnaíba, por exemplo, os estudantes da Escola Técnica Estadual Paulo Freire desenvolveram um filtro de baixo custo. Os estudantes fizeram esse filtro com cascas de pinha e carvão ativado. Ele é capaz de reduzir a toxicidade da manipueira, resíduo da produção de farinha de mandioca, que tem alto potencial poluente.
“As alunas que moram na comunidade do Quilombo do Caruá perceberam que as casas de farinha são locais de uma importância inquestionável como fonte de renda da comunidade e símbolo de resistência. No entanto, também estavam descartando muitos resíduos ao redor da produção. Então, propuseram uma solução à problemática observada”, explica o professor responsável pela equipe, Gustavo Bezerra.
Foi também em busca de solução para o desperdício de água no Cerrado que a equipe de estudantes do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, no município de Codó, desenvolveu um sistema autônomo de reaproveitamento. Esse sistema consegue coletar a água que, de outra forma, os bebedouros e torneiras desperdiçariam. Além disso, ele pode filtrar essa água e disponibilizá-la para uso não potável, como nos vasos sanitários.
“Eles fizeram todo um protótipo e, além disso, realizaram a simulação de um sistema com encanação, barris e a parte robotizada. Eles queriam que o sistema fosse todo automatizado e, portanto, tivesse um fim sustentável, de modo que se autoprogramasse para poder evitar ainda mais o desperdício e a dependência humana. Tudo eles que fizeram, sem nenhum engenheiro, ou seja, eles foram os próprios engenheiros”, relembra a professora Vivian Sousa.
Como os estudantes de Corumbá se destacaram
Enquanto no Cerrado a solução veio pela engenharia, no Pantanal, os estudantes da Escola Municipal Rural de Educação Integral Polo Sebastião Rolon, extensão Nazaré, no município de Corumbá, buscaram na arte o caminho para enfrentar as constantes queimadas.
Após um trabalho de pesquisa sobre como a população que vive na área rural pode contribuir para diminuir as queimadas, os estudantes desenvolveram uma peça teatral instrutiva para mobilizar a comunidade por meio da cultura.
“Muitos aqui são filhos de agricultores, são filhos de pais que cuidam de gado. Então, aqui tem sempre incidências de queimadas. É quando surgem as dúvidas sobre para quem ligar ou a quem recorrer. Eles não sabiam o que fazer quando ocorrem esses eventos e falavam que faltava informação e, até então, ninguém sabia. Através do projeto, eles começaram a tirar essas dúvidas”, conta a professora Stella de Souza.
O projeto deu tão certo, que estudantes e professores já mobilizam esforços para ampliar tanto o alcance quanto o formato em que apresentam o conteúdo.
“A gente pretende criar livros com a autoria deles, histórias em quadrinhos. Também estamos tentando alinhar o conteúdo com o conteúdo de outras matérias, para que a gente possa ampliar esse conceito e alcançar não somente os adultos, como também outras crianças”, diz Stella.
Fonte: PM Corumbá