Do turismo informal nas décadas de 1970 e 1980 até recordes de visitação no último ano, a cidade de Bonito se estruturou ao longo do tempo e virou referência pelo país no ecoturismo
Bonito se consagra como referência do ecoturismo no Brasil. Antes, tudo era mato. Hoje, o mato ainda continua, mas com usos distintos que equilibram a agropecuária e o turismo de natureza. Assim é Bonito, cidade de apenas 22 mil habitantes no Mato Grosso do Sul que é considerada a capital brasileira do ecoturismo.
Com o passar dos anos, a cidade, distante cerca de 300 km da capital Campo Grande, despertou cada vez mais o interesse de turistas pelas suas belezas naturais e passou, aos poucos, a ser um destino reconhecido no cenário nacional e internacional.
Registrou-se, portanto, recordes de visitação em 2021 e no início de 2022, muito impulsionado pelo boom na procura por destinos de ecoturismo e de áreas verdes ocasionado pela pandemia.
Assim, ser um lugar com limitação de visitantes, foi outro atrativo de Bonito. Isso ajudou neste momento crítico para o turismo.
Bonito melhor destino de ecoturismo
A cidade do Mato Grosso do sul foi eleita o “Melhor Destino de Ecoturismo” do Brasil pela 16ª vez. Trata-se do prêmio da revista especializada Viagem e Turismo. Dessas premiações, o destino não participou apenas da primeira edição e por 14 anos consecutivos foi o vencedor na categoria.
A região Bonito-Serra da Bodoquena tem o turismo como principal atividade econômica e compromete-se com a busca constante de interferência mínima na natureza.
Para o diretor-presidente da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul Bruno Wendling esta é, portanto, uma conquista do trade turístico. “Esse prêmio é resultado da profissionalização do trade.
A região de Bonito – Serra da Bodoquena continua sendo o melhor destino de ecoturismo do país pelas boas práticas adotadas pelo destino e pela capacidade que ele tem de manter a conservação dos seus atrativos naturais.
A imagem do Mato Grosso do Sul está cada vez mais em evidência e consolidada no mercado nacional e internacional. Esta semana, por exemplo”, enaltece.
Recordes de visitação
De setembro a dezembro de 2021, Bonito registrou os melhores cinco meses dos últimos sete anos (quando foi iniciada a contagem da série histórica) em relação ao número de visitantes na cidade.
De acordo com dados do Observatório de Turismo e de Eventos de Bonito (OTEB), foram, ao todo, 205.460 pessoas no ano inteiro, aumento de 41,4% em relação a 2020 – ano em que a pandemia do coronavírus fez com que a cidade zerasse seu número de turistas entre abril e junho e sofresse com os reflexos das restrições nos meses seguintes.
E o primeiro mês de 2022 seguiu na toada das boas projeções: foi o melhor janeiro desde 2015, recebendo 30.220 visitantes e recuperando o número de turistas de antes da pandemia – o que representou um aumento de 42,3% em relação ao mesmo período de 2021.
Logo, os números refletem a fama que Bonito carrega: o melhor destino de ecoturismo no país. A localidade foi, inclusive, escolhida pelo Ministério do Turismo como uma das 25 cidades brasileiras que prometem ser tendência neste ano de 2022.
História: fazendas e belezas naturais intocadas
Terras a perder de vista. Assim era Bonito em seus primórdios. O núcleo habitacional começou com a área da Fazenda Rincão Bonito, propriedade adquirida pelo Capitão Luiz da Costa Leite Falcão, que fincou sua residência ali em 1869 e é considerado o desbravador da região.
Em 1915, o local passou a ser um distrito, área desmembrada do município vizinho de Miranda – mas subordinado a ele. Após outros episódios e reintegrações, somente em 1948 que foi elevado à categoria de município e foi, entre as décadas de 1970 e 1980, que começou a ser descoberta turisticamente, ainda que de forma informal.
A vinda de ecologistas e cientistas
Com o passar do tempo, ecologistas e cientistas começaram a frequentar a área. Na década de 1980, visitas já eram realizadas na Gruta do Lago Azul – hoje cartão-postal de Bonito cheio de regras para visitação, e que teve a primeira grade para impedir a passagem desenfreada de turistas apenas em 1985 – e também na Ilha do Padre, onde funciona atualmente o complexo Eco Park Porto da Ilha.
Na década de 1990, as visitas começaram a acontecer no Aquário Natural e em alguns rios, como o Rio do Peixe, o Rio Sucuri e o Rio Formoso. No entanto, não se organizava os banhos nas águas límpidas.
Voucher único: controle e limitação
Foi só a partir de 1995 que o turismo na região começou a ganhar contornos mais concretos: além de uma lei que tornou obrigatório o acompanhamento de guias de turismo nos atrativos, neste ano foi instituído o voucher único pelo Conselho Municipal de Bonito, documento que funcionava para o guia de turismo, o atrativo turístico, a agência e a prefeitura.
Usado até hoje, o voucher possibilitou um maior controle tributário e estatístico das agências e da visitação no município, ditando as regras no destino. Comprado através das agências, é só através do voucher que os turistas têm acesso aos atrativos. Para Janaina Mainchein, coordenadora do OTEB, o documento ajudou a moldar o turismo organizado em Bonito como ele é hoje. Ou seja, algo que começou lá atrás e que é modelo para outros destinos e comissões técnicas.
Assim, entre as tantas atividades oferecidas em Bonito, os números dos boletins deixam claro: balneário, flutuação e cachoeira são as mais visadas entre os que chegam na cidade. Atualmente, Bonito possui mais de 40 atrativos, que, juntos, já receberam mais de 182 mil visitações nos primeiros dois meses de 2022. Assim, no ano anterior, foram 679.650 visitações – superando em cerca de 1,5% os números do ano pré-pandêmico de 2019.
Centrinho: de terrenos descampados ao agito das lojinhas
Entre os moradores, é unânime que a cidade antes resumia-se ao centrinho. Uma rua com alguns comércios aqui e ali era como se estabelecia esta parte do município. Mas, que cresceu à medida que o turismo também foi se estabelecendo em escalas maiores. Assim, asfaltou-se as ruas de terra e casas receberam reformas.
Hoje, após os passeios, grupos se encontram no centrinho um agito de bons restaurantes e franquias de lojas nacionais que desembarcaram nos arredores da praça principal. Elas se organizam na Praça da Liberdade, ponto de partida das vias mais importantes da cidade. Com isso, ruas adjacentes também começaram a ter uma maior movimentação.
Turismo Responsável
Localizado há cerca de 280 km de Campo Grande, Bonito se tornou, por fim, referência mundial em turismo responsável e sustentável.
Nesse sentido, considerado polo de ecoturismo, o município destaca-se como o principal da região Bonito – Serra da Bodoquena. Nesse sentido, é um destino de ecoturismo e turismo de aventura. Suas principais atrações são as paisagens naturais, as flutuações e mergulhos em rios de águas cristalinas, cachoeiras, grutas, cavernas e dolinas.
Portanto, a preservação ambiental, a gestão pública focada na sustentabilidade e a capacidade de carga controlada são destaques do destino da cidade.