O presidente mais jovem da história chilena, monta um ministério progressista, plural e majoritariamente feminino
Gabriel Boric, 35 anos, leva a nova esquerda para a presidência do Chile. O mais jovem presidente eleito na história do Chile, tomou posse, sexta (11). Contudo, cercado de muita expectativa em relação aos novos rumos do país. Entretanto, sem maioria estável no Congresso. O político, ainda montou um ministério progressista, plural e majoritariamente feminino. Assim sendo, dos 24 ministérios, 14 serão chefiados por mulheres.
Entretanto, a partir de hoje, Boric enfrenta o desafio de adequar o Chile a uma nova realidade constitucional. E ainda, dar vazão às pressões da sociedade civil. Tudo isso, através de uma revisão das políticas públicas. Voltadas, sobretudo, ao atendimento da população. Sendo uma das principais demandas, a mudança do modelo de aposentadoria. A mesma que vigora há muitos anos no país.
Boric toma posse e leva a nova esquerda para a presidência do Chile como o presidente mais jovem do país. Justamente em um dos momentos mais desafiadores. A contar do fim da ditadura de 17 anos de Augusto Pinochet, em 1990.
Dessa forma, o ex-líder estudantil se emocionou, contendo as lágrimas. Sobretudo ao receber a faixa presidencial de Piñera, empresário milionário de 72 anos. Esse último, encerra o segundo mandato (de 2010 a 2014, e de 2018 a 2022). Esse ciclo político trouxe, contudo, progresso graças a um modelo neoliberal. Mas, também, uma grande lacuna na desigualdade social. E por esse motivo, incentivou a onda de protestos em outubro de 2019.
Logo após a cerimônia, os ministros prestaram juramento perante o presidente Boric. A começar por Izkia Siches, médica de 35 anos, a primeira mulher a assumir a pasta do Interior.
Antineoliberal, Boric leva esquerda para a presidência do Chile
Boric pretende transformar o Chile neoliberal. Em que apenas 1% da população detém 26% da riqueza do país. E desse modo, iniciar uma trajetória ao estilo da social-democracia europeia.
“Este é um governo que chega ao poder em um clima político muito fragmentado. Pois não tem maioria parlamentar. E, portanto, não tem a possibilidade de fazer reformas muito radicais no curto prazo”, estima Claudia Heiss, acadêmica de Ciência Política da Universidade do Chile.
No entanto, “há esse otimismo que vem do processo constituinte. Além de um impulso de superação do neoliberalismo. Ao passo que é visto com menos medo. Até mesmo por setores conservadores. Porque há uma espécie de sentimento antineoliberal no mundo”, avaliou ela.
E ainda, o esquerdista assume o cargo em meio a uma crise de credibilidade na política. Com previsão de um corte de 22,5% nos gastos públicos. E de desaceleração da economia para este ano. Além disso, com grande migração irregular. E com um histórico conflito entre o Estado e o povo mapuche.
Outro desafio será angariar apoio para o processo constitucional. Pois, neste ano, deve convocar um plebiscito para aprovar ou rejeitar uma nova Constituição. Sobretudo, que substitua a atual Carta Magna, herdada da ditadura de Augusto Pinochet.
Pois, Boric governará sem maiorias definidas no Senado e na Câmara dos Deputados. A coalizão considerada oficial do futuro governo de Boric, Apruebo Dignidad (Frente Ampla e Partido Comunista), somou 37 deputados. E com a coalizão de esquerda Nueva Pacto Social (antiga Concertación) outros 37. A direita, agora na oposição, terá 53 cadeiras. No Senado, que renovou 27 das 50 cadeiras, a divisão está em meio a meio.
De barbudo radical a líder social-democrata, Boric se distanciou de líderes de esquerda
“Se o Chile foi o berço do neoliberalismo na América Latina, também será sua tumba”. Este foi um pronunciamento de Boric em julho quando proclamado candidato presidencial. Desde então, seu discurso foi moderado.
Esse é Gabriel Boric, o jovem esquerdista que assume o comando do Chile. Solteiro e sem filhos. Mas, que está em um relacionamento de quase três anos com a cientista política Irina Karamanos. Aliás, um leitor compulsivo. Que é fã de poesia no país de Gabriela Mistral. Como também, de Pablo Neruda. O mesmo não hesita em defender a estrela pop mundial Taylor Swift em suas redes sociais. Bem como, falar do futuro do planeta e da justiça social com o ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica.
Entretanto, o ex-líder estudantil, Boric, se distanciou dos líderes da esquerda latino-americana. Como também, dos governos bolivarianos. “A Venezuela é uma experiência que fracassou. E a principal manifestação são os seis milhões de venezuelanos na diáspora”, comentou em janeiro.
Ele também repudiou a invasão russa da Ucrânia. Bem como, a repressão a opositores na Nicarágua.
Sua transformação política anda de mãos dadas com a mudança de aparência.
Muito serão os desafios do presidente mais novo do Chile. E ainda, lidar com a crise econômica vinda da pandemia. Boric também vai ter de lidar com a redação de uma nova Constituição em uma Convenção Constituinte. Criada, entretanto, após os protestos sociais de outubro de 2019.
Boric passou por um discurso de menino rebelde. Que liderou, sobretudo os protestos estudantis de 2011. Onde exigia “educação pública, gratuita e de qualidade”, para o de um social-democrata.
Sua transformação política anda de mãos dadas com a mudança de aparência. Pois, hoje ele usa paletó e camisa, cabelo mais curto, barba bem cuidada e óculos. Pouco resta do jovem barbudo e despenteado. O mesmo que chefiou a FECH. Quando, em 2014, aos 27 anos, assumiu seu primeiro mandato como deputado.
Boric nasceu na cidade austral Punta Arenas. Contudo, em uma família de classe média. Seus bisavós eram croatas e catalães. Na campanha eleitoral, pediu que “a esperança vença o medo”. Isso diante das críticas que o classificam como “extremista” por sua aliança com os comunistas.
Porém, o novo presidente vai morar em uma mansão no centro de Santiago, no Yungay. Bairro com passado glorioso e presente enferrujado.
A casa de 500m² que Boric vai ocupar com a namorada, Irina, foi um albergue, um centro médico e uma pizzaria. Cuja placa na fachada nenhum vizinho parece disposto a tirar: “Sensato”.