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SAÚDE EMOCIONAL: Amizade é a nossa base existencial e psicológica

Especialistas ressaltam importância dos laços afetivos na formação das pessoas

A Amizade nos dá base existencial e psicológica, segundo o educador e professor Hugo Monteiro Ferreira. Da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

“Amizade é o nosso grande lastro existencial e psicológico. Se falta lastro […], falta uma base, um chão para que eu me sinta mais seguro para atravessar desafios”, disse Ferreira.

A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), realizada pelo IBGE com alunos do 9º ano do ensino fundamental em 2019. E, assim sendo, divulgada em julho de 2022, aponta que 3,7% dos entrevistados no Recife dizem não ter um sequer amigo próximo. Em 2012, esse percentual era de 3,1%.

No recorte por sexo, 6,8% dos garotos relataram não ter amigos próximos na pesquisa mais recente. Entretanto, entre as garotas, o percentual é de 0,6%, (veja mais sobre as estatísticas logo abaixo).

Também especialista na área da saúde mental e emocional de crianças. Bem como, adolescentes e jovens, Ferreira explicou então que o grupo abordado na pesquisa faz parte do que chama de “geração do quarto”. Tema que transformou pois em livro.

Uma amizade saudável é composta por reciprocidade e aceitação da pessoa

Para o livro, o educador ouviu 3.115 jovens entre 11 e 18 anos (veja no vídeo acima mais sobre o livro). “Mesmo essa galerinha que vem desde a educação infantil. Bem como, aqueles grupos que se formam no ensino médio, o que eu percebo é que nem sempre essas relações são saudáveis”, afirmou Ferreira.

Uma amizade saudável, segundo o educador, é composta por algumas bases, sendo a reciprocidade do afeto e aceitação da pessoa como ela pontos fundamentais. Pois sabemos bem, que a amizade nos dá base existencial e psicológica para darmos continuidade a nossa vida com mais segurança emocional.

“Amizade talvez seja o maior sentimento em termos de relações sociais que a gente pode construir. Amigos são fundamentais, porque sem eles não posso sobreviver, mas sem submissão. Os amigos querem que eu seja quem eu posso serAmigo que quer que você seja o que ele gostaria que você fosse, já não é seu amigo“, declarou o Ferreira.

Afeto nas escolas

Psicólogo e pedagogo do programa Bem-estar na Educação, da Secretaria de Educação do Recife, George Vieira fez muitos apontamentos. Entre eles que, independentemente de idade, é preciso ter atenção aos vínculos afetivos. E como eles estão sendo formados.

“Hoje, os vínculos são muito mediados pelas tecnologias digitais, informação e comunicação. Não são vínculos necessariamente verdadeiros. Sobretudo, quando a gente passa a apenas se identificar e criar uma vinculação com aquilo que a gente pensa que é a pessoa e não com aquilo que de fato é”, apontou.

O programa em que Viera atua busca trabalhar, entre outros aspectos, um olhar cuidadoso sobre questões pessoais que podem causar mal-estar, além de fornecer ferramentas para isso. Para ele, os vínculos afetivos adequados são essenciais para a compreensão de que conflitos existem normalmente nas relações humanas, mas não precisam ser danosos ou violentos.

“A amizade contribui decisivamente para um ambiente escolar melhor para todos. A gente sabe que o ambiente escolar termina representando para criança e adolescente uma extensão da sua casa”, apontou Vieira.

Para isso, educadores precisam compreender as dificuldades e contexto social dos alunos para compreendê-lo melhor. “É importante o trabalho educativo nas escolas. Até para que a escola seja vista pelo estudante como um refúgio das suas dores cotidianas”, avaliou o psicólogo.

“A promoção da amizade entre estudantes, entre estudantes e professores é importante para criar um clima harmonioso, mas não idílico. Não é acreditar que a escola é o paraíso na terra,”, disse Vieira.

A amizade, ressaltou o psicólogo e pedagogo, precisa se compreender como uma vinculação com as pessoas. Pois a amizade nos dá base existencial. E, no entanto, como seres sociais, as pessoas buscam sempre se ligar às outras de alguma forma.

A vinculação afetiva permanece em nossa mente, como uma saudade

“Essa vinculação pode até se fragilizar ao longo dos anos. Eu hoje pouco consigo me relacionar com amigos da infância, mas isso é muito mais porque a gente vai perdendo contato. A vinculação afetiva permanece em nossa mente, como uma saudade”, apontou.

As estatísticas apresentadas na Pense ainda são consideradas experimentais e o compilado com os últimos três levantamentos foi divulgado em julho de 2022. A gerente de planejamento e gestão do IBGE em Pernambuco, Fernanda Estelita, explicou que isso significa dizer que ela está passando por um processo de consolidação.

“Não quer dizer que não é uma estatística válida. Ela é válida, mas ainda não tem uma história construída para que a gente possa ter uma estrutura consolidada. Ela está sob avaliação, recebendo orientação, críticas e sugestões. Está em fase de desenvolvimento”, disse Fernanda.

Um aspecto inovador do levantamento é que são os alunos do 9º ano que respondem a pesquisa diretamente em equipamentos eletrônicos, como um celular. Muitos questionários aplicados antes eram feitos com os pais, não estudantes.

“Ele (aluno) responde direto no equipamento e não precisa olhar no meu rosto. Com isso, ele se sente muito mais à vontade para falar a verdade”, afirmou Fernanda.

Os questionários foram aplicados em salas de aulas com vários estudantes, com todos respondendo ao mesmo tempo. “É uma pesquisa que me encanta, porque a gente fala direto com a pessoa. […] A gente pega um público que não está acostumado a ser ouvido pela sociedade, pelo público. São alunos que tem a partir de 13, 14 anos”, disse a gerente.

O estudo também abordou questões como gravidez na adolescência, consumo de álcool, saúde mental, entre outros temas.