Agência de promoção de exportações divulga planos de incentivar empreendedores de favela a exportar, e Celso Athayde, da Cufa, fala sobre o potencial global do povo da periferia
A história das favelas no Brasil tem sido marcada por narrativas de exclusão, estigmatização e marginalização. Desde que me entendo por gente, é assim. Porém, de alguns anos para cá, muita coisa mudou. Estamos longe ainda de poder dizer que a favela venceu, mas todos os dias vencemos batalhas e seguimos firmes na luta. Nesta semana, foi divulgada pelo presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Jorge Viana, uma iniciativa que pode mudar o jogo do empreendedorismo nas favelas, pela missão direta da Apex, que é fomentar a exportação, e, sobretudo, pela possibilidade de mudar definitivamente a percepção da favela sobre ela mesma e do asfalto sobre a favela.
A Apex, se tudo se confirmar, desempenhará um papel fundamental nesse processo de transformação ao investir no desenvolvimento dos empreendedores dessas regiões, possibilitando que eles levem seus produtos e talentos ao mercado global. Claro que muitos não estão nesse estágio, mas estarão em breve se deixarem a favela sonhar. A meu ver, esse é o papel do Estado. Mas nenhum outro gestor viu essa estrada antes do Viana, e ela precisa ser estruturada para dar frutos no futuro. Vamos exportar a potência da favela.
Esse movimento traz não traz só um sentido de economia, mas sim de justiça social
Esse movimento não é apenas uma questão de incentivo econômico, mas também de justiça social. Sabemos que, nas quebradas, existe uma enorme quantidade de criatividade e inovação. Basta ir às Expo Favelas em todo o Brasil para confirmar. Essas startups de favelas ainda são invisíveis para o Brasil; é natural que também o sejam para o mercado externo. Eu poderia citar 50 empresas que estão prontas para exportar, mas sequer consideram essa possibilidade. Primeiro, precisamos criar a cultura da exportação na favela. Mais até, no Brasil.
O Viana tem de provocar o Sebrae, a CNI, a Dom Cabral e outros atores que podem unir forças para responder a essa demanda e mudar essa realidade. Só então será possível oferecer suporte técnico, financeiro e educacional. A Apex deve proporcionar ferramentas para que esses empreendedores rompam as barreiras que historicamente limitaram seu crescimento. Só de pensar nessa possibilidade, eu me emociono.
Contudo, empreendedores gerarão impactos positivos nas economias locais ao receber investimento, e o Brasil ocupará uma posição de liderança global em inovação inclusiva, criando condições para exportar produtos genuinamente brasileiros, nascidos da resiliência e da inventividade das favelas, para o mundo. Há muitos anos criamos a frase “Favela não é carência, favela é potência.” Em nome dessa frase, entendo que o governo estaria apontando para um novo modelo de desenvolvimento econômico. Uma mudança importante na matriz econômica da favela. Chega de exportar miséria, tragédia, crime e violência, uma vez que nossa criatividade é gigante.
Apex Brasil e as Favelas pode se tornar um marco histórico para o Brasil
Por fim, caso se confirme essa promessa, o gesto, por si só, será um marco histórico para o país. Ele representará a realização prática do discurso de inclusão do governo e da Apex. E simbolizará uma mudança de paradigma: da favela vista como problema para a favela vista como potência. Exportar os produtos das favelas será mais do que uma vitória econômica; será um símbolo de que o Brasil está disposto a valorizar e promover o maior ativo de uma nação em desenvolvimento: o povo da periferia.
Fonte: Apex Brasil