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Entenda porque as expectativas de inflação continuam caindo, mesmo em meio ao tarifaço, juros e câmbio. Foto: Freepik

JUROS E TARIFAÇO: Entenda porque as expectativas de inflação não param de cair

Inflação segue em queda apesar do tarifaço e surpreende o mercado pela 11ª semana consecutiva

Quem acompanha o noticiário econômico nos últimos meses tem uma sensação de déjà vu toda segunda-feira ao ler a manchete que virou marca registrada: mesmo em meio ao tarifaço, juros e câmbio, o mercado reduz mais uma vez as suas projeções para a inflação. Até o momento de fechamento desta matéria, foram 11 semanas consecutivas de queda nos números publicados na pesquisa Focus, do Banco Central.

No primeiro boletim do ano, divulgado no dia 6 de janeiro, as projeções apontavam para uma alta de 5% no IPCA. Ainda longe do teto que alcançaria conforme o dólar acima de R$ 6,30 e os diversos problemas fiscais não-endereçados do governo federal passaram a integrar os modelos econômicos. Todavia, em março, as projeções ficaram próximas da casa dos 5,70% ao ano antes de entrarem em uma trajetória descendente.

Hoje em 5,05%, a expectativa é de que o número caia ainda mais

Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA avançou 0,26% em julho. Levando o acumulado dos últimos 12 meses para 5,23%. — bem abaixo do inicialmente esperado para o período.

A divulgação levou uma série de bancos de investimentos e casas de análises a revisarem ainda mais para baixo as suas expectativas para o ano. A XP Investimentos levou a sua projeção de 5% para 4,8% (revisão semelhante à feita pela Genial Investimentos), o ASA passou a sua estimativa de 4,9% para 4,7%, e o J.P. Morgan levou de 5,2% para 5%. Diversas outras instituições ainda estão com os seus números sob revisão.

Uma queda de mais de 0,70 pontos percentuais em questão de poucos meses é significante. Ela ainda aparece longe do teto da meta do Banco Central para o ano. Mas aumenta as chances de que, em 2026, a história seja diferente.

A melhora dos números de inflação ocorre em um momento de turbulência em outros pontos da economia, como os ainda desconhecidos impactos do tarifaço de Donald Trump e os fortes juros altos — estacionados em 15% ao ano até que o BC entenda que é hora de retomar o ciclo de cortes.

Para Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, a visão que prevalecia no início do ano era de um aspecto estrutural muito ruim da economia — tanto no cenário externo quanto no externo. O temor, contudo, era de que a política monetária não fosse suficiente para controlar a inflação.

“Hoje, a inflação corrente está mais baixa, os bens e alimentos surpreendem para baixo e, embora os serviços sigam em patamar elevado, mostram desaceleração gradual”, aponta Leonardo Costa, economista do ASA.

Mas, afinal, o que pressiona para baixo as expectativas do IPCA — e como viemos parar aqui?

Inflação x câmbio x juros

O desencontro entre as expectativas do mercado e que vem sendo entregue mensalmente pelo IPCA é multifatorial e tem afetado principalmente os preços dos alimentos e de bens industriais. Deixando de fora os serviços, principal pedra do sapato do BC na definição de sua política monetária.

Segundo Argenta, da CM Capital, ambos os itens com melhor resposta são influenciados por três vetores. Sendo eles: câmbio, reversão negativa das expectativas para alimentos e maturação da política monetária.

No início do ano, o dólar se encontrava na casa dos R$ 6,20 e agora flerta com o patamar dos R$ 5,4.  Já a reversão quanto aos alimentos estão ligados aos eventos climáticos e ciclos próprios dos produtos. “Passados os movimentos nocivos do final do ano passado com as carnes e do início desse ano com o café, e mantidas as condições climáticas que permitiram uma boa oferta de frutas, verduras legumes e tubérculos. O mercado passou a incorporar essa condição de oferta mais benéfica”, explica a economista.

Já a maturação da política monetária traz consigo o arrefecimento das concessões de crédito e do consumo das famílias” — afastando a ideia de dominância fiscal que havia sido levantada no fim do ano passado, em um momento de grande estresse no mercado interno.

Os últimos dados de inflação aceleraram as revisões baixistas dos economistas

Para Costa, do ASA, isso não começou em julho. “Os últimos meses têm registrado inflação mensal mais benigna, o que tem suscitado as revisões mais recentes no relatório Focus. O movimento tende a ser gradual”, explica.

Apesar do aspecto mais benigno dos últimos números, Argenta argumenta que o mercado ainda se mantém um pouco cético em relação à potência da política monetária. Mas ela é, em alguma magnitude, um fator de impacto sobre as expectativas.

“Se considerarmos prazos mais longos, a reversão parcial das projeções ruins tem base no crédito consignado. Boa parte do mercado entendia que as famílias pagariam juros menores e transformariam esse “excesso” de renda em consumo, pressionando o indicador. Essa premissa perdeu força diante dos últimos dados’, completa.

Fonte: forbes