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Tarifaço leva comércio global a incertezas e disrupções, destaca Marcos Jank, coordenador do centro Insper Agro Global Foto: Meta/IA

Tarifaço dos EUA causa desvios e ameaça agro brasileiro, diz Marcos Jank

Tarifaço leva comércio global a incertezas e disrupções

O cenário de comércio global entrou em uma nova “era de incertezas e disrupções”, impulsionada pelo tarifaço dos Estados Unidos. Esta é a avaliação de Marcos Jank, professor sênior de agronegócio e coordenador do centro Insper Agro Global, que destaca como o uso de tarifas como instrumento de pressão e dissuasão comercial e não comercial ameaça as cadeias globais de suprimento e valor. 

“Enquanto o Brasil aguarda o momento ideal para dialogar em Washington, o governo americano, por outro lado, tem avançado em conversas e negociações com diversos países. Esses países, embora ignorem as vantagens comparativas consolidadas, podem desarrumar as cadeias globais de suprimento e valor”, aponta o professor do Insper.

Segundo o professor, o Brasil, nesse contexto em que tarifas de importação são usadas como instrumento de pressão, foi um dos mais atingidos pelas medidas de Donald Trump.

Ele enfatiza que, assim, a volatilidade deu lugar a um ambiente de risco ampliado para o planejamento de longo prazo. “Mais do que volatilidade, entramos numa era de incertezas e disrupções”, afirma.

Risco de desvio de comércio no agronegócio 

Jank destaca que a grande preocupação do agronegócio brasileiro reside nos possíveis desvios de comércio (trade diversion), que podem ocorrer em decorrência desses acordos bilaterais.  

“O setor precisa acompanhar de perto não apenas as exportações brasileiras para os Estados Unidos sob o tarifaço. Além disso, deve observar as negociações americanas com países de interesse do Brasil”, alerta.

Ainda de acordo com o professor do Insper, um ponto de atenção especial é o boato sobre negociações entre Estados Unidos e China. Essas tratativas envolveriam exportações de soja americana, chips de celulares dos Estados Unidos e a questão dos minerais raros.

“Atualmente, o Brasil possui uma vantagem crucial nesse mercado, pois exporta três vezes mais soja para a China do que os Estados Unidos. Se as tarifas de acesso à China fossem apenas igualadas, não haveria impacto significativo, e o mercado voltaria à situação anterior ao primeiro mandato de Trump”, explica Jank. 

O especialista ressalta, contudo, que o risco se materializa se houver o estabelecimento de cotas ou diferenças tarifárias. “Nesse cenário, podem ocorrer os chamados desvios de comércio. O agro sempre viu essas coisas e pode sofrer com isso”, observa. 

Marcos Jank cita como exemplo o caso da Indonésia, o quarto país mais populoso do mundo, que negociou com os Estados Unidos e, nessas conversas, “entregou o seu mercado agrícola para os Estados Unidos”. 

Estratégias de médio e longo prazo 

Diante desse quadro global de incertezas e disrupções, o professor de agronegócio do Insper reforça a necessidade de uma ação estratégica por parte do Brasil. 

Para ele, é fundamental que o país acompanhe a situação de perto, e sobretudo entenda o ambiente institucional e negocial de Washington e assim, desenvolva ferramentas de análise. 

“O Brasil deve fazer análises de cenários e de impactos de médio e longo prazo, não apenas de curto prazo. E principalmente, construir estratégias envolvendo o setor privado e o governo”, conclui.  

Fonte: cnn