Afirmação é do Ministério da Agricultura, que vai reforçar a fiscalização fitossanitária dos embarques da oleaginosa
A China suspendeu por dois meses a compra de soja em grãos de cinco unidades de cinco empresas que atuam no Brasil, por questões sanitárias. O Ministério da Agricultura disse que a medida de suspensão do embarque de soja na China não vai afetar o comércio para o maior cliente do agronegócio nacional e garantiu que vai reforçar a fiscalização fitossanitária dos embarques da oleaginosa.
Assim, a Administração-Geral de Aduanas da China (GACC, na sigla em inglês) notificou o Brasil sobre a detecção de não conformidades de cargas de soja oriundas da ADM do Brasil, Cargill S.A, Terra Roxa Comércio de Cereais, Olam Brasil e C.Vale Cooperativa Agroindustrial. Procuradas, as empresas não se manifestaram.
Grãos estavam contaminados
De acordo com a China, os carregamentos de soja avaliados continham grãos com revestimento de pesticidas e a presença de pragas quarentenárias, com isso, houve a suspensão dos embarques, o que afetaria o comércio. Questionado, o ministério brasileiro não informou de quais agrotóxicos são os vestígios nas cargas nem quais são as pragas encontradas.
Uma fonte que acompanha o assunto disse que encontraram“sementes revestidas de agrotóxicos”, ou seja, material destinado ao plantio, e não grão para alimento. O comunicado do ministério não menciona essa informaçao.
O governo e o setor produtivo brasileiros tratam o tema com “naturalidade”. Fontes ouvidas pela reportagem dizem que a detecção de não conformidades são normais, principalmente no caso de grande fluxo comercial. Em 2024, o Brasil enviou 73 milhões de toneladas de soja para a China, quase 70% das mais de 98 milhões de toneladas exportadas ao todo.
Alerta no setor agropecuário
A medida, porém, acende um alerta em momento de atenção do setor agropecuário aos movimentos feitos pelo novo governo de Donald Trump, e aos possíveis impactos indiretos ao Brasil da relação entre Estados Unidos e China.
Para Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, a decisão chinesa tem o objetivo de dar um ‘recado’ aos exportadores do Brasil. “A China sabe que provavelmente terá alguma disputa comercial com os EUA. Mesmo que ela diminua a importação de soja americana, fica uma espécie de aviso de que não vai comprar mercadoria do Brasil que não atender o padrão sanitário”, afirmou.
Ele concordou, porém, que o impacto para o mercado de soja com a suspensão dos embarques por algumas empresas do Brasil é nulo, uma vez que janeiro e fevereiro são os piores meses para as exportações brasileiras.
Perspectiva de rápida solução do caso
O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luis Rua, confia que as exportações de soja das cinco unidades retornarão rapidamente. “A perspectiva é que em dois meses tenhamos esse caso solucionado. A própria China menciona isso nas notificações. É o período de trâmite documental e para apresentação de informações solicitadas”, afirmou à reportagem. Para ele, o impacto nos embarques do país é “quase nulo”.
Conforme Rua, a suspensão não vale para toda a operação das empresas, e sim para unidades específicas de cada uma das cinco companhias. “São cinco unidades suspensas em um universo de mais de 1.700 com habilitação para exportar soja do Brasil para a China”.
Empresas que receberam as notificações
ADM do Brasil, Cargill S.A, Terra Roxa Comércio de Cereais, Olam Brasil e C.Vale Cooperativa Agroindustrial receberam notificações na semana passada. Assim, elas devem elaborar planos de ação para demonstrar procedimentos adotados para impedir novas detecções e enviar ao Ministério da Agricultura, que repassará aos chineses para negociação de retirada do embargo.
Nesse sentido, Rua disse que a identificação das não conformidades é algo “natural” no comércio internacional, o que demonstra que o sistema sanitário está funcionando. “Não é nada exagerado, problemático. É dentro da normalidade, não é nada que gere problema de saúde pública, é algo facilmente sanável com ajustes de processos”, afirmou. “São questões técnicas que acontecem no comércio quando exportamos muito”, acrescentou.
De acordo com ele, os controles fitossanitários deverão ter reforços, tanto na saída das cargas do Brasil como na chegada à China. “Quando há algum carregamento com não conformidade, sempre se coloca uma lupa maior. É normal que aconteça. Eles devem reforçar lá e nós aqui também. Vamos reforçar nossos controles para evitar novas não conformidades”, afirmou.
Fonte: globo rural