O primeiro sopro. O ato de abertura da vida. Talvez porque o façamos naturalmente, ninguém nos ensina a respirar
A relação entre a respiração e o funcionamento da memória é um campo que os neurologistas estão explorando, com resultados interessantes e possíveis contribuições para o tratamento de doenças que afetam a memória.
O primeiro sopro. O ato de abertura da vida. Talvez porque o façamos naturalmente, ninguém nos ensina a respirar. Embora o ser humano tenha duas vias possíveis para entrar no oxigênio, a verdade é que, para o corpo, não é a mesma coisa respirar pelo nariz ou pela boca; e a medicina está cada vez mais atenta às implicações da esta diferença.
“Os ritmos do hipocampo são sincronizados com a respiração nasal e são conduzidos pelo bulbo olfativo. Essas oscilações viajam do córtex piriforme para o hipocampo, onde modulam processos neurais essenciais para a formação da memória”, diz o estudo.
Uma pesquisa publicada na revista Journal of Neuroscience argumenta que o hipocampo desempenha um papel crucial na transferência de informações entre redes sensoriais e de memória.
Os pesquisadores levantaram a hipótese de que a respiração nasal também desempenha um papel na consolidação da memória. A consolidação é um estágio crítico em que as memórias são reativadas e fortalecidas, entre a codificação (quando as armazenamos pela primeira vez) e o reconhecimento (quando as lembramos).
Para testar isso, eles conduziram um experimento no qual os participantes codificavam odores em duas sessões separadas. Após a codificação, eles receberam uma fase de consolidação de uma hora, durante a qual respiraram exclusivamente pelo nariz ou pela boca. Em seguida, sua memória de cheiros foi testada.
Isso fornece evidências de que a respiração nasal impacta diretamente na consolidação de eventos episódicos na memória. Esses achados reforçam a noção de que funções cognitivas centrais, como a memória, moduladas pelo ciclo respiratório.
As fases: respirar e recordar
Outro estudo, também publicado na revista Journal of Neuroscience, sugere que a taxa de respiração também afeta a memória. Mas ainda mais, que o “desempenho” da memória varia dependendo se inalado ou exalado e se feito pelo nariz ou pela boca.
Os pesquisadores se propuseram a investigar a incidência da respiração nas áreas do cérebro responsáveis pelo processamento de emoções, memórias e cheiros. Para isso, pediram a 60 participantes que tomassem decisões rápidas sobre as expressões emocionais presentes no ambiente de laboratório. Enquanto registravam o padrão respiratório.
O estudo descobriu que durante a fase de inalação, os participantes foram capazes de identificar expressões de medo mais rapidamente, em comparação com a fase de exalação. Assim, os efeitos tiveram redução quando os participantes realizaram a mesma tarefa respirando pela boca.
Em outro experimento para testar a função de memória ligada ao hipocampo, os mesmos sujeitos viram imagens de objetos em uma tela de computador. Em seguida, convidados a recordar esses objetos. Aliás, os resultados revelaram que a recordação era melhor se as imagens fossem encontradas durante a fase de inalação.
“Descobrimos que, quando você inala, estimula neurônios no córtex olfativo, na amígdala e no hipocampo, em todo o sistema límbico”, disse Christina Zelano, neurologista que liderou o estudo.
Benefícios de respirar pelo nariz
A nível físico, não há dúvida de que a respiração nasal é a mais favorável para o nosso organismo.
A mucosa do nariz possui minúsculos filamentos, chamados cílios, que se especializam em limpar e filtrar o ar que respiramos, pois retêm partículas microscópicas de poeira e bactérias. Além disso, regulam a temperatura e a umidade do ar que inalamos, para proteger todo o nosso sistema respiratório.
No entanto, estima-se que entre 50% e 70% da população respire maioritariamente pela boca, devido a múltiplas causas, que podem ir desde variantes anatômicas do nariz, ao stress, tabagismo ou obesidade.
“Há relatos de relações entre a respiração bucal e distúrbios como desenvolvimento anormal da região orofacial, boca seca, má oclusão e anormalidades da mastigação, cárie dentária, doença periodontal e mau hálito”, corrobora um estudo que também investiga a relação entre a respiração e as funções cognitivas.
Fonte: tempo