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Aliás, no ano passado, a onda de calor na Europa afetou até vinícolas, causando grandes prejuízos aos produtores

AGRO: Produtores ‘ressuscitam’ sementes em busca da ‘uva perfeita’

No ano passado, os amantes de um bom vinho provavelmente provaram várias variedades de uvas bem conhecidas, como Cabernet Sauvignon

Produtores de uva da Califórnia e do Texas, nos EUA, e em países da Europa e da América do Sul estão começando a plantar ou “ressuscitando” essas variedades pouco conhecidas, às vezes quase extintas. Parte de seu objetivo é salvar a herança vitícola mundial.

No ano passado, os amantes de um bom vinho provavelmente provaram várias variedades de uvas bem conhecidas, como Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Pinot Noir ou Sauvignon Blanc. No futuro, porém, irão apreciar delícias fabricadas com uvas de nomes menos familiares: Counoise, Vaccarèse, Mencía, Picpoul Blanc e Cabernet Pfeffer.

Mas a maior razão pela qual eles estão defendendo o plantio dessas uvas é porque elas podem se sair melhor em um clima em mudança constante do que as populares, como a Pinot Noir, muito sensível à temperatura.

Aliás, no ano passado, a onda de calor na Europa afetou até vinícolas, causando grandes prejuízos aos produtores de uva.

Tome-se por exemplo a Counoise, uma das 13 variedades permitidas nas misturas de Châteauneuf-du-Pape, no Vale do Rhône, na França. Assim, os produtores a abandonaram no passado porque as uvas só amadurecem no fim da estação de crescimento. Portanto, nos anos mais frios, elas não amadurecem totalmente. E são suscetíveis a várias doenças.

Mas à medida que as temperaturas sobem, a Counoise está voltando. Assim, sua característica de maturação tardia é agora uma vantagem. Aliás, as uvas também mantêm alta acidez mesmo com ondas de calor e seca crescente.

O primeiro produtor californiano a plantá-la foi a vinícola Paso Robles Tablas Creek, fundada em 1989 pela família americana Haas e pela família francesa Perrin, proprietárias do Château de Beaucastel, no Vale do Rhône, no sul da França.

 Nossa meta original de longo prazo sempre foi investir em todas as uvas cultivadas no Rhône, incluindo aquelas que praticamente desapareceram — diz Jason Haas, proprietário de segunda geração da Tablas Creek. — Agora, vemos que todas as variedades de maior acidez serão cada vez mais úteis à medida que o clima esquenta.

Haas engarrafa versões 100% de 20 variedades diferentes, todas esgotadas. Ele diz que Counoise, Picpoul, Grenache Blanc e Vaccarèse são as variedades mais prováveis de dar bons vinhos sozinhas. A Grenache Blanc já é uma história de sucesso, tornando-se a segunda uva branca do Rhône mais plantada na Califórnia depois da Viognier, usada no blend da excelente Cotes de Tablas Blanc, da Tablas Creek.

O Vale do Rhône é apenas uma das muitas regiões vinícolas europeias que estão ficando ainda mais quentes. A ameaça da mudança climática está gerando um novo interesse em uvas abandonadas e incomuns também em Itália, Portugal e Espanha, entre outros, e está inspirando os vinicultores do novo mundo a cultivá-las.

Os produtores de vinho da Califórnia também estão entrando de cabeça nessa tendência. Andy Smith, da vinícola DuMOL, em Russian River Valley, em Sonoma, no estado americano, é conhecido por seus deliciosos Pinots e Chardonnays de um único vinhedo, mas arriscou com a Mencía, uma uva vermelha da região espanhola da Galícia.

Depois que a vinícola comprou um antigo pomar de maçãs contíguo de 10 acres, ele descobriu que as videiras Mencía haviam acabado de ser aprovadas para lançamento na Califórnia.

Produtores de uva

 É uma variedade dura, de maturação tardia, resistente à seca. A uva perfeita para as mudanças climáticas – conta Smith, que plantou pela primeira vez em 2016, colhe um mês depois do Pinot noir e está plantando mais. Portanto, o calor não afetou em nada as uvas.

Aliás, a Mencía também atrai os amantes do vinho que procuram algo novo. A primeira safra do tinto de frutas roxas e aroma floral de Smith — em 2018 — foi comprada pelo clube da vinícola em 48 horas. Agora, ele está estudando sobre a antiga variedade italiana Timorass.

Assim, dezenas de uvas raras estão em alta, e há uma competição acirrada na Califórnia por descobertas em vinhedos antigos, como Cabernet Pfeffer. Além disso, a região Lodi, da Califórnia, que é um polo de experimentação, possui 125 variedades de uva.

Mas a tendência vai muito além dos Estados Unidos e da Europa, chegando à China e Austrália, onde o produtor Bruce Bassham descobriu que a uva Arinto portuguesa prospera mesmo em temperaturas de quase 48º Celsius.

E alguns enólogos simplesmente não conseguem resistir ao desafio do desconhecido. Como diz Matthew Rorick, de Forlorn Hope, de Napa: “Adoramos os planos gerais. Amamos os forasteiros, as causas perdidas.”

Portanto, as sete uvas descritas abaixo são apenas uma amostra das variedades raras disponíveis no momento

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Os brancos

  • GRENACHE BLANC

Amplamente plantada no sul do Rhône, na França, esta uva teve sucesso recente também na Califórnia e na África do Sul.

Vale experimentar: 2020 Ridge Grenache Blanc Halter Ranch – Vívido e suculento, este branco refrescante, redondo e de corpo médio inclui 20% de Picpoul. Tem aromas sedutores de pêra e madressilva (US$ 37).

  • FALANGINA

Esta variedade antiga mantém sua acidez natural em climas mais quentes. Embora não seja muito vista fora da Campânia, na Itália, está florescendo em várias regiões da Califórnia, incluindo Paso Robles, na costa central; Dry Creek Valley, em Sonoma; e Yolo County, em Napa Valley.

Para experimentar: 2021 Matthiasson Lost Slough Vineyard Falanghina-Steve Matthiasson mantém todos os sabores minerais frescos e brilhantes neste branco de uvas cultivadas no clima quente do Condado de Yolo (US$ 44)

  • PETIT MANSENG

No sudoeste da França, esta uva de maturação tardia é transformada em vinhos ricos e doces. Na Virgínia, é um branco seco de sucesso. Assim, a variedade prospera no calor, umidade e chuvas fortes do estado.

Para experimentar: 2020 Early Mountain Vineyards Petit Manseng – No Shenandoah Valley, na Virgínia, esta vinícola produz um exemplo refrescante de cor dourada, textura cremosa com notas de manga e pêssegos secos (US$ 30)

  • PICPOUL

O nome dessa variedade picante significa “ferrão labial”, por sua acidez acentuada. Foi encontrado por muito tempo apenas na região francesa do Languedoc, mas agora está em casa na Califórnia.

Vale experimentar: 2021 Bonny Doon Picpoul Beeswax Vineyard Central Coast – Crocante e azedo, este branco altamente ácido com notas de limão combina idealmente com amêijoas cozidas no vapor, além de ter um ótimo valor e ter apenas 11% de álcool. Contudo, é misturado com 10% de grenache blanc. (US$ 19)

Os tintos

  • CABERNET PFEFFER

Testes de DNA mostram que as vinhas centenárias desta uva misteriosa e tolerante ao calor na Califórnia são as mesmas da Mourtaou, que está quase extinta na França.

Para experimentar: 2020 Stirm Siletto Vineyard Cabernet Pfeffer – Leve, delicado, perfumado e apimentado, este vinho com aromas de amora e romã é o tipo de tinto fresco e com baixo teor alcoólico que se saboreia melhor gelado. Assemelha-se a um nebbiolo leve e saboroso. (US$ 35)

  • COUNOISE

Esta uva de casca escura está ganhando adeptos em Paso Robles e Sierra Foothills, na Califórnia, bem como nos estados do Texas e Washington.

Dois para experimentar: 2021 C.L. Butaud Carbonic Counoise – A resposta do Texas ao Beaujolais. Randy Hester de C.L. Butaud usa um método de vinificação visto na região de Beaujolais, na França, para criar um tinto frutado e picante especialmente leve, vibrante e que fica melhor levemente gelado. (US$ 25); e 2021 Railsback Frères Le Counoise – Este tinto suculento e fresco do vale de Santa Ynez, na Califórnia, tem o estilo, a elegância e a estrutura de um Beaujolais cru. (US$ 45)

  • MENCÍA

Se você é fã de Pinot Noir, também pode optar pelos tintos com aroma floral desta uva encontrada principalmente no noroeste da Espanha.

Para experimentar: 2020 DuMOL Mencía – Este vinho puro e de textura sedosa é profundamente frutado, com aromas de ameixa e menta. Foi envelhecido em ânforas toscanas. (US$ 70)