Com 160 votos a favor e 70 contra, a Assembleia da República de Portugal aprovou a Lei de Estrangeiros, que endurece as regras para entrada e permanência de imigrantes no país
A Assembleia da República de Portugal aprovou, (30), uma nova versão da Lei de Estrangeiros, endurecendo as regras de entrada e permanência de imigrantes no país. O texto recebeu 160 votos a favor e 70 contra, com apoio do governo conservador de Luís Montenegro e do partido de extrema-direita Chega.
As mudanças, sobretudo, atingem diretamente os brasileiros, que formam a maior comunidade estrangeira em Portugal, com mais de 500 mil residentes.
Além de restringir a regularização para turistas e dificultar a reunião familiar, a lei traz novas exigências de integração e reforça o debate político em torno da imigração.
Turistas brasileiros não poderão mais se regularizar
Até agora, era possível entrar em Portugal como turista e depois solicitar autorização de residência, permanecendo no país enquanto o processo era analisado. Essa prática, já limitada em 2024, contava com exceções para cidadãos do Brasil e do Timor-Leste.
Com a nova lei, essa alternativa deixa de existir. Os estrangeiros devem iniciar o processo de residência nos consulados portugueses em seus países de origem.
Regras mais duras para reunião familiar
Imigrantes só poderão solicitar a vinda de familiares após dois anos de residência legal em Portugal. Até então, não havia prazo mínimo.
O texto prevê exceções para:
- Casais com filhos em comum, que podem pedir o reagrupamento imediato.
- Famílias com filhos menores ou dependentes com deficiência, também com prioridade.
- Casais sem filhos, que terão o prazo reduzido para um ano, desde que a união seja reconhecida pela lei portuguesa.
Além disso, o governo definiu critérios de integração que antes eram vagos. Agora, é obrigatório comprovar participação em cursos de língua portuguesa, além de conhecimento sobre cultura e valores constitucionais. O não cumprimento pode levar até à não renovação da autorização de residência.
Vistos mais rígidos para cidadãos da CPLP
Cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, como os brasileiros, passam a ter regras mais restritivas para vistos. Todo pedido deve ser feito ainda no país de origem.
Na prática:
- Apenas profissionais altamente qualificados poderão solicitar visto de procura de trabalho.
- Quem não encontrar emprego no prazo estabelecido deverá retornar ao país de origem e só poderá reapresentar o pedido após um ano.
- O governo português só concede o visto de trabalho a outros profissionais se eles assinarem o contrato antes de entrar no país.
Rapidez da aprovação gera críticas
A nova lei foi aprovada em menos de dois meses após o Tribunal Constitucional barrar a versão anterior. Especialistas destacam, contudo, a velocidade incomum de tramitação.
O advogado Wilson Bicalho afirmou que “nunca se viu, nos últimos anos, uma lei tão estruturante ser reapreciada em tão curto espaço de tempo”, ressaltando que isso aumenta a insegurança para quem depende dessas regras.
Debate sobre benefícios sociais
O partido Chega tentou incluir uma proposta para condicionar o acesso de imigrantes a benefícios sociais apenas após cinco anos de descontos na Segurança Social.
Tema eleitoral
O endurecimento da lei reflete o peso da imigração no debate político português. Todavia, o avanço do partido Chega e a proximidade das eleições autárquicas em outubro reforçam a leitura de que as novas medidas têm também caráter eleitoral.
As autoridades notificaram milhares de estrangeiros nos últimos meses sobre a negação de seus pedidos de residência, atingindo principalmente brasileiros.
Propostas de mudanças na cidadania
Além da Lei de Estrangeiros, o Parlamento discute alterações na Lei da Nacionalidade. Sobretudo, entre os pontos em análise estão:
- Fim do direito automático à cidadania para filhos de imigrantes nascidos em Portugal, exigindo comprovação de três anos de residência legal dos pais antes do nascimento.
- Aumento do tempo mínimo de residência para naturalização, de cinco para dez anos. Para cidadãos da CPLP, o prazo seria reduzido para sete anos.
- Possibilidade de perda da cidadania em caso de condenação por crimes graves.
Impactos para brasileiros
Com as novas regras, a entrada e a permanência em Portugal ficam mais burocráticas.
Por fim, brasileiros que desejam se mudar para o país terão de solicitar o visto adequado ainda no Brasil, cumprir requisitos de integração e respeitar prazos maiores para reunir familiares.
Fonte: times brasil