Com uma seringa cheia de ar, pesquisadores acionaram uma câmara que comanda a movimentação das pernas das aranhas.
Necrobótica aranhas são alguns dos animais que mais causam arrepios nos seres humanos. Elas não são maiores do que nós, não possuem presas mortais e nem sempre são detentoras de veneno. Ainda assim, elas conseguem ser tão repugnantes quanto uma barata e tão ameaçadoras quanto uma cobra. O inseto causa medo em uma grande quantidade de gente, mas também é visto com outros olhos pelos cientistas.
Tanto é que o laboratório de Daniel Preston, na Universidade Rice, nos Estados Unidos, é cheio de pequenos cadáveres de aranhas-lobo. Isso porque, Daniel e a estudante de engenharia Faye Yap transformaram essas aranhas em garras mecânicas. Com isso, eles deram início à chamada necrobótica, junção do termo “necro”, que significa cadáver ou morte, com “robótica”.
“O conceito de necrobótica aranhas aproveita designs únicos criados pela natureza que podem ser complicados ou até impossíveis de replicar artificialmente”, explicaram eles.
Para criar essas garras mecânicas, os pesquisadores inseriram uma seringa no cadáver para conseguirem injetar ou retirar ar de uma câmara perto da cabeça das aranhas, já que é ela que comanda a movimentação das suas pernas.
Dessa maneira, eles mostraram que uma aranha morta poderia manusear objetos pequenos e eletrônicos delicados, e seria capaz de suportar o peso de uma outra aranha do mesmo tamanho.
Assim, as aranhas iriam funcionar como garras mecânicas e poderiam ser usadas na manipulação de microdispositivos eletrônicos. Além disso, como elas são biodegradáveis, iriam diminuir a quantidade de resíduos na robótica.Entretanto, uma desvantagem desse mecanismo é que a aranha começa a sofrer desgastes depois de mil ciclos de abertura e fechamento das pernas.
O conceito de Necrobótica aranhas
“Achamos que isso está relacionado a problemas de desidratação das articulações. Achamos que podemos superar isso aplicando revestimentos poliméricos ao cadáver”, explicou Daniel.
Esse projeto começou em 2019. Nessa época, Faye reparou em uma aranha morta no chão da universidade que estrava com suas pernas curvadas. Com isso, ela se perguntou por que o animal estava naquela posição. E a resposta está na anatomia da aranha.
As aranhas não têm pares de músculos opostos como os humanos. Em nós, o bíceps e o tríceps, por exemplo, trabalham em conjunto para dobrar e estender o braço. Já elas têm músculos flexores, que fazem com que elas possam dobrar suas pernas, e o resto do trabalho é feito por pressão hidráulica.
Esse trabalho é feito através de uma câmara perto da cabeça que se contrai para enviar sangue até os membros, fazendo com que eles sejam forçados a se estenderem. Quando essa pressão é aliviada, as pernas da aranha se contraem. Depois que o animal morre, ele perde a capacidade de pressurizar ativamente seu corpo. Por conta disso ele fica enrolado.
Sabendo de todo esse mecanismo, Daniel e Faye acharam-no bastante interessante e começaram o seu trabalho recém publicado. Eles inseriram uma seringa nessa câmara secreta de movimentação das aranhas para que a pressurização do corpo fosse ativada.
Por mais que as aranhas não sejam o animal preferido da maioria das pessoas, os estudos sobre e com elas não param. Isso porque ainda há muito o que aprender sobre elas.
Como por exemplo, as aranhas comem mais que o ser humano. Enquanto os seres humanos comem em média 400 milhões de toneladas de comida por ano, as aranhas consomem o dobro disso. Em 2017, um grupo de pesquisadores calculou o peso total das presas de aranhas e o resultado não poderia ser mais surpreendente. Superando os seres humanos e também as baleias, que ingerem anualmente até 500 toneladas de comida, os pequenos predadores comem até 800 milhões de toneladas por ano.
Outro fato interessante sobre as aranhas é que, por mais que geralmente elas não produzam fósseis, em alguns casos raros, seus fósseis podem durar anos em caráter bem preservado. Em 2019, paleontologistas encontraram 11 aranhas fossilizadas na Coreia do Sul. Se a descoberta já não fosse suficientemente interessante, outro detalhe trouxe ainda mais importância aos fósseis encontrados. Mesmo depois de 110 milhões de anos, os olhos de duas das aranhas encontradas ainda brilhavam, algo que chamou a atenção da comunidade científica.
Fonte: Superinteressante