Caso o paciente apresente os sintomas e não receba atendimento médico, a hipertermia pode levar à morte
Londres ultrapassou (19/7) a marca dos 40ºC pela primeira vez desde o início dos registros das temperaturas. A chave deste processo de degradação do estado de saúde provocado pelo calor é a “hipertermia“, ou seja, quando o corpo fica com uma temperatura mais elevada do que normal, levando a desequilíbrios graves.
A Europa resiste a uma nova onda de calor extremo em julho, com milhares de mortes registradas devido às altas temperaturas.
“O organismo começa a ‘cozinhar’ por dentro, desequilibrando todo o metabolismo”, explica Carlos Machado, clínico geral especialista em medicina preventiva.
O que o médico traduziu popularmente como ‘cozinhar’ por dentro é o processo que começa na alteração das proteínas presentes no sangue e termina com complicações em órgãos vitais.
Hipertermia : Alta temperatura e os cuidados
De acordo com Priscila Currie, paramédica brasileira que atua em Londres, as maiores ocorrências envolvendo o calor são de pessoas desmaiando, desidratadas e com insolação. Aliás, pessoas que já possuem doenças cardiovasculares também sofrem com o clima quente, que exacerba esse tipo de problema.
“Não é porque os britânicos são diferentes dos brasileiros. A infraestrutura é a questão, as casas foram feitas para manter o calor dentro, é um país frio. No verão, na Inglaterra, não costuma passar dos 33ºC e mesmo quando passa, não dura o dia inteiro, chove depois. As crianças ao crescer aprendem a lidar com o frio, mas não com o sol”, afirma a paramédica.
Priscila lembra que, no Brasil crescemos ouvindo para não ficar com a cabeça no sol, usar filtro solar e beber água. ” De fato, aqui isso não é hábito, não entendem o perigo de ficar debaixo do sol a pino.
O sol nasce às cinco da manhã e se põe nove e meia da noite. Sendo assim, é um dia muito longo e de noite o calor começa a se dispersar dentro das casas, que não têm ar-condicionado”, relata Priscila.
Um outro exemplo é o Metrô do país, que é o mais antigo da história, com 158 anos de operação. E sem ar-condicionado. Além disso, a única ventilação é promovida pelo próprio movimento do transporte.
” Certamente, uma estrutura bem-organizada previne mortes. Tem muita gente se afogando por mergulharem em locais não apropriados para o banho. Fora que, depois, teremos que lidar com as doenças provenientes da água, como infecções bacterianas e amebianas”, comenta a paramédica.
Como é possível morrer de calor?
É possível dizer que existem três tipos de hipertermia diferentes: a clássica, ligada à exposição excessiva ao calor e ao sol; a de esforço físico, quando o paciente faz a atividade e o corpo não consegue retomar a temperatura normal; e a maligna, que é resultado do uso de determinados medicamentos, como analgésicos.
A hipertermia clássica geralmente acomete moradores de regiões que têm um clima ameno, mas passam por fortes ondas de calor — caso dos registros atuais na Europa.
“Uma pessoa que fica com temperaturas altas durante muito tempo sofre hemólise, que é a destruição dos glóbulos vermelhos. O corpo começa a alterar as proteínas sanguíneas, e temos que lembrar que tudo no nosso corpo é proteína. Anticorpos, células, glóbulos brancos, o plasma sanguíneo, tudo isso começa a ser desnaturado. (…) A frequência cardíaca sobe muito, rins, fígado e cérebro passam a ter dificuldade de funcionamento”, explica Carlos Machado, clínico geral especialista em medicina preventiva.