Ao anunciar a lei marcial, o presidente Yoon argumentou que queria “limpar” o país de aliados da Coreia do Norte.
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, voltou atrás nesta quarta-feira logo após tentativa de impor uma Lei Marcial. Isto ocorreu logo após a rejeição do Parlamento e de milhares de manifestantes que tomaram as ruas.
A inesperada iniciativa do líder conservador mergulhou a Coreia do Sul em uma grave crise e pegou de surpresa até mesmo seus aliados mais próximos. Essa situação coloca em xeque, sobretudo, o futuro do presidente. O Partido Democrático opositor exigiu a renúncia imediata de Yoon, acusando-o de “insurreição”.
Posicionamento do Partido Democrático
“Se [Yoon] não renunciar imediatamente, o Partido Democrático iniciará imediatamente os procedimentos de destituição”, ameaçou. A maior organização sindical do país convocou uma “greve geral por tempo indeterminado” até que o presidente renuncie. Até mesmo Han Dong Hoon, líder do partido de Yoon, pediu ao presidente que explicasse “de forma direta e detalhada essa situação trágica”.
Yoon decretou a lei marcial na terça-feira à noite sob o argumento de uma ameaça da Coreia do Norte e de “forças antiestatais”. Porém, às 04h30 desta quarta-feira, ele apareceu em um pronunciamento para anunciar sua aceitação do pedido da Assembleia Nacional para suspender a lei marcial.
Manifestantes receberam a notícia com celebração, principalmente aqueles que desafiavam a lei marcial em frente ao Parlamento, entoando cânticos como “Prendam Yoon Suk Yeol”. “Este ato de imposição sem uma causa legítima é, por si só, um crime grave”, declarou Lim Myeong-pan, de 55 anos. “Ele abriu o caminho para sua própria destituição”, acrescentou.
Lei Marcial e “Forças antiestatais”
Yoon apresentou uma série de razões para justificar a lei marcial, a primeira desde a instauração de um regime democrático no país em 1987. “Para salvaguardar uma Coreia do Sul liberal das ameaças das forças comunistas da Coreia do Norte e eliminar os elementos antiestatais que roubam a liberdade e a felicidade do povo, declaro a lei marcial de emergência”, disse ele em discurso televisionado.
O presidente não deu detalhes sobre as ameaças vindas de Pyongyang, mas lembrou que o país continua tecnicamente em guerra com a Coreia do Norte. Yoon enfrenta um conflito intenso com a maioria opositora, que nesse meio tempo aprovou um plano orçamentário significativamente reduzido para o próximo ano.
Em sua declaração, o presidente descreveu o Partido Democrático como “forças antiestatais que tentam derrubar o regime”. “A nossa Assembleia Nacional se tornou uma fortaleza para uma ditadura legislativa que busca paralisar o sistema judiciário e administrativo e derrubar a ordem democrática liberal”, afirmou.
Embora tenha sido de curta duração, a lei marcial levou ao desdobramento de tropas militares, à proibição de todas as atividades políticas e colocou os meios de comunicação sob controle governamental. Assim, helicópteros pousaram no telhado do Parlamento em Seul, onde deputados do Partido Democrático enfrentaram as forças de segurança para acessar a câmara e votar contra a lei.
Alívio nos Estados Unidos sobre a Lei Marcial
A decisão de Yoon, que tem baixa aceitação devido à sua gestão econômica e controvérsias relacionadas à esposa, surpreendeu até mesmo os EUA, seu principal aliado. A Casa Branca afirmou que não foi informada “com antecedência” das intenções do presidente sul-coreano.
“Saudamos o anúncio do presidente Yoon de rescindir a ordem com a qual decretou a lei marcial de emergência, de acordo com a Constituição”, reagiu o secretário de Estado americano, Antony Blinken. “Esperamos resolver as desavenças de maneira pacífica”, acrescentou. A crise impactou os mercados. A bolsa de Seul abriu com perdas de 2% e a moeda sul-coreana, o won, caiu.
Conforme Alan Yu, ex-diplomata americana na Ásia e pesquisador do Center for American Progress, a manobra foi um movimento desesperado de “um líder ineficiente e profundamente impopular”. “É quase um movimento desesperado para dar a volta por cima, mas que não deu certo”, disse. Vladimir Tikhonov, professor de estudos coreanos na Universidade de Oslo, considerou improvável que “a sociedade civil sul-coreana possa continuar reconhecendo Yoon como um presidente legítimo”, disse à AFP.
*Com informações da AFP
Fonte: Jovem Pan