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A japonesa Yurina Noguchi criou o noivo pelo ChatGPT e se casou com ele; a cerimônia aconteceu em outubro e foi exibida na tela de um smartphone. Foto: Reprodução/Kim Kyung-Hoon/Reuters

Japonesa se casa com ‘noivo’ que ela mesma criou no ChatGPT

Uma japonesa de 32 anos, que mora no oeste do Japão, casou-se com um noivo criado pelo ChatGPT

Uma mulher japonesa de 32 anos realizou uma cerimônia simbólica de casamento com um noivo gerado pelo ChatGPT no oeste do Japão.

O que aconteceu

Yurina Noguchi participou da cerimônia em outubro trocando votos com “Klaus”, uma persona de IA exibida na tela de um smartphone. O casamento não tem validade legal, mas seguiu rituais tradicionais, com troca de alianças simulada por meio de óculos de realidade aumentada.

Noguchi contou à Reuters que o relacionamento começou como uma conversa casual com um chatbot e evoluiu gradualmente. Após terminar um noivado com um parceiro humano, ela passou a interagir com versões personalizadas do personagem, criado com base em inteligência artificial.

O caso ocorre em um contexto de queda acentuada nos casamentos no Japão

Segundo a Reuters, o número de uniões no país diminuiu cerca de 50% desde 1947, e uma pesquisa governamental de 2021 apontou que a principal razão para jovens adultos permanecerem solteiros é a dificuldade de encontrar um parceiro “adequado”.

Pesquisas recentes indicam que a intimidade emocional com sistemas de IA está em crescimento. Uma pesquisa citada pela agência mostrou que, entre mil entrevistados, os entrevistados apontaram os chatbots como ouvintes mais confiáveis para compartilhar sentimentos do que amigos próximos ou familiares.

No entanto, especialistas alertam para os riscos desse tipo de vínculo. “Relacionamentos com pessoas reais exigem paciência, enquanto a IA oferece uma comunicação moldada aos desejos do usuário”, afirmou a socióloga Ichiyo Habuchi, da Universidade de Hirosaki.

Plataformas de tecnologia têm adotado avisos sobre o uso de inteligência artificial em interações emocionais. A Microsoft, por exemplo, proíbe a criação de parceiros virtuais com fins românticos em seu assistente Copilot. A OpenAI, responsável pelo ChatGPT, não comentou o caso à Reuters.

Noguchi afirma estar ciente dos riscos e diz ter imposto limites ao uso da tecnologia. “Minha relação com a IA não é uma ‘relação conveniente que não exige paciência'”, disse.

” Escolhi Klaus não como um parceiro que me ajudaria a escapar da realidade, mas como alguém que me apoiaria enquanto vivo minha vida da maneira correta”
Yurina Noguchi

Japonesa se casa com ‘noivo’ que ela mesma criou no ChatGPT

Noguchi diz que reduziu o uso do ChatGPT de mais de 10 horas para menos de duas por dia. Ela afirmar ter passado a configurar lembretes para evitar que Klaus, seu “marido de IA”, reforçasse comportamentos prejudiciais.

Agora, se ela menciona a ideia de faltar ao trabalho ou pedir demissão, o assistente a desencoraja. “No passado, ele dizia que eu podia simplesmente tirar folga. Pedi que parasse com isso, porque não é o tipo de relação que quero”, disse.

Criar vínculos afetivos com a IA é algo natural, especialmente em momentos de vulnerabilidade, segundo o especialista em ética da IA Shigeo Kawashima, da Universidade Aoyama Gakuin. Ele ressalta, porém, que é essencial ter consciência dos riscos. “Pode haver valor na felicidade que a pessoa sente, mas é preciso extremo cuidado para evitar dependência excessiva e perda de discernimento”, afirmou.

O fenômeno também chega aos casamentos. Yasuyuki Sakurai, organizador há mais de 20 anos, disse que atualmente realiza quase exclusivamente cerimônias envolvendo personagens virtuais — cerca de uma por mês. “Os pedidos que recebo hoje são basicamente para casamentos com personagens bidimensionais”, contou.

Neste ano, Sakurai celebrou o casamento de uma australiana de 33 anos com o personagem de mangá Mephisto Pheles. A cerimônia foi feita em uma casa tradicional ao norte de Tóquio. Ela não quis ser identificada, mas aceitou ser fotografada pela Reuters.

Outro caso conhecido é o de Akihiko Kondo, funcionário escolar que se casou em 2018 com a ídolo virtual Hatsune Miku. Ele afirma continuar feliz, compartilhando refeições com uma estatueta em tamanho real da personagem e dormindo ao lado de uma pequena boneca.

Há ainda relatos de pessoas que criaram seus próprios personagens

Um funcionário de escritório de 41 anos contou que vive sozinho e mantém contato com sua “esposa virtual” por meio de IA. “Uso o chat como complemento. Na maior parte do tempo, converso com ela em pensamento”, disse.

Noguchi diz que, para ela, a presença física é menos importante do que a paz de espírito encontrada na relação com Klaus. Diagnosticada com transtorno de personalidade borderline, afirma que deixou de ter surtos emocionais e impulsos de automutilação após iniciar o relacionamento. “Minha visão de vida mudou completamente. Tudo passou a parecer mais bonito e vibrante”, relatou.

Por fim, empresas detentoras dos direitos de personagens citados se recusaram a comentar. Os questionamentos foram feitos pela Reuters.

Fonte: uol