Um rei Charles sorridente e uma rainha Camilla carrancuda chegaram às 20h25 (16h25 em Brasília) a seus lugares nos jardins do Palácio de Windsor
Com a “old boy band” Take That como atração principal, além de Katy Perry, Steve Winwood e Lionel Richie, o Concerto da Coroação não prometia, talvez com a exceção de Richie, ser um espetáculo musical de primeira linha. Mas os primeiros minutos foram suficientes para derrubar qualquer expectativa e fazer compreender em que tom estamos vibrando aqui. É numa realidade de filme da Disney.
Foi, afinal, um show para um homem de 74 anos ao lado de seus netos George, 9, e Charlotte, 8. Louis, 4, devia estar dormindo. Todos os filhos, claro, de Kate e William, o primeiro na linha sucessória, já que Harry não trouxe a família e já estava de volta aos EUA, onde vive, no domingo (7).
Um rei Charles sorridente e uma rainha Camilla carrancuda chegaram às 20h25 (16h25 em Brasília) a seus lugares nos jardins do Palácio de Windsor, a 50 km de Londres, e então o show começou.
Olly Murs, um artista anódino, abriu o evento fazendo o povo bater palmas com sua canção estilo Muppets (Caco e Miss Piggy apareceram logo depois, conversando com o apresentador). Em seguida, o Coro da Coroação cantou “Brighter Days”, uma pataquada a respeito dos dias melhores que estão logo ali.
Concerto da Coroação
Os cantores desse coro eram muitos, com uniformes diversos, de marujos, carteiros, enfermeiros do NHS (o SUS inglês) etc. Como o jornal inglês The Guardian anotou, de forma afiada, “todos [no palco] parecem estar se divertindo muito, o que é bom, porque Deus sabe que alguém precisa se divertir”. “O Coronation Choir é como uma quiche da coroação, exceto um pouco menos propenso a deixá-lo constipado.”
Discordei. Esse coro tem, na verdade, muito mais chances de deixar qualquer um mais doente do que a quiche, que é ótima, conforme atestado por Marcos Nogueira, da Cozinha Bruta. Uma das atrações seguintes foi a música do filme “Mulan”, da Disney, com atores representando trechos e declamando diálogos do roteiro.
Entre os números, clipes celebravam as ligações do rei Charles com as diversas artes. Uma cena de um antigo programa infantil de TV em que ele é encolhido. Outra com ele tocando violoncelo e uma terceira mostrando o monarca pintando aquarelas foram alguns desses momentos do rei-artista exibidos lá.
Ao ver esses clipes, Charles parecia felicíssimo, todo cheio de sorrisos, e Camilla, ainda carrancuda. Outro clipe mostrou que o rei já nadou numa praia, andou de windsurfe, serviu como militar, é piloto de helicóptero e também de avião. Pierce Brosnan, ex-007, confirmou: o rei Charles pode pilotar um avião.
A participação de Tom Cruise, bastante divulgada pela monarquia, durou cerca de cinco segundos e não foi lá muito lisonjeira. A superestrela americana apareceu em pleno voo, dentro da cabine, e disse: “De piloto para piloto, Sua Majestade, você pode ser meu wingman a qualquer hora”.
Trata-se de uma fala famosa do filme “Top Gun” —e irônica, pois ninguém quer ser wingman (um braço-direito) naqueles filmes, mas o piloto principal. Fosse eu inglês, gostaria de ter visto Tom Cruise dizendo que gostaria de ser o wingman do rei, não autorizando Sua Majestade a ser o wingman dele, ora bolas.
Cantores de sucesso
Lionel Richie entrou às 21h15, e a ele foi dada a oportunidade de cantar duas músicas. Justo. Abriu com a espetacular “Easy”, gravada em 1977 pelo seu grupo Commodores. Charles sorriu, balançando a cabeça; Camila balançou uma bandeirola, carrancuda. O artista arrematou com “All Night Long”, de 1983.
Steve Winwood cantou “Higher Love”, seu maior sucesso, mas muito longe de ser sua melhor canção vide seus momentos como vocalista do Spencer Davis Group, do Traffic ou do Blind Faith.
Katy Perry teve duas oportunidades para cantar baladas, e o Take That, enfim, fez Camilla sorrir. Ela e Charles até se levantaram e dançaram, nesse que parece ter sido o ponto alto do show. E, assim, menos de duas horas depois do início do espetáculo, acabou o domingo da coroação.
É certo que ninguém esperava ver Johnny Rotten, dos Sex Pistols, esgoelando que é o anticristo em “Anarchy in the UK”. Mas um pouco mais de rock no reino dos Beatles teria feito bem a todos os plebeus.
Fonte: diariodecuiaba