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Há quem defenda que as pessoas não pontuas está mais relacionada à falta de educação do que com qualquer condição médica.

Entenda por que algumas pessoas não conseguem ser pontuais?

Especialistas explicam como esse hábito pode afetar a vida pessoal e profissional de quem tem dificuldades em seguir rotinas e cumprir compromissos

As pessoas não pontuais sofrem um pouco como por exemplo, o carioca Rudson Visgueiro que chegou na Gare de Lyon, em Paris, para sua primeira viagem de trem no país, estava calmo, num estado quase zen. Era o ano de 2005, e ele tinha acabado de mudar-se de vez com a esposa francesa para a Cidade da Luz.
Sozinho na estação, ele ia a destino de Perpignan, no sul da França, onde vivia a sogra, que o aguardava para uma celebração em família. “Tudo era novo para mim, eu ainda não tinha me adaptado às diferenças culturais naquela altura”, conta o empresário, hoje com 45 anos.

Então, com a passagem em mãos, Rudson leu que as portas do trem iriam fechar às 18h58, então tratou de desacelerar. Acostumado com os transportes públicos do Brasil, ele acreditava que os cinco minutos que restavam no relógio eram suficientes para entrar no vagão sem pressa.

Eu pensei comigo: ‘Não preciso correr porque o trem nunca sai no horário. Está tudo tranquilo’. O que eu não sabia é que aqui tudo é pontual. Quando me apresentei ao comissário 10 minutos depois, fui barrado na porta sem nenhuma cerimônia. Por isso, fiquei perdido, sem entender o que estava acontecendo. Acabei perdendo o trem, o dinheiro e a paciência”, recorda ele às gargalhadas.

“Se os pais têm esse comportamento, há uma tendência de que a criança venha a repetí-lo. Nessa fase da vida, prestamos muita atenção ao que nossa família faz. Então, se uma mãe ou um pai estão sempre atrasados em suas próprias rotinas, existe uma propensão de que os filhos carreguem isso com eles na adolescência e vida adulta”, explica a psicóloga Marcia Rocha.

A mente também pode ter influência direta nesse tipo de atitude.

“O córtex pré-frontal é a parte executiva do nosso cérebro responsável pelo foco, organização e planejamento, entre outras coisas. Mas, ele vai se desenvolvendo com a idade e atinge seu ápice por volta dos 25 anos de idade”, afirma a psicóloga, mestre em relações interculturais e especialista em terapia cognitivo-comportamental, Renata Borja.

Contudo, segundo a especialista, a incapacidade de manter horários e estabelecer prioridades muitas vezes está relacionada a distúrbios associados com déficit de atenção, depressão e ansiedade.

“Pessoas deprimidas, ansiosas e portadoras de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade apresentam problemas em suas funções executivas, como controle inibitório, flexibilidade cognitiva e memória operacional. Isso significa que elas são mais propensas à distrações e esquecimentos, além de demonstrarem pouca disposição para enfrentar contratempos”, analisa a profissional.

Já Christiane Carvalho Ribeiro, psiquiatra e mestre em medicina molecular pela UFMG, ressalta que esse tipo de conduta das pessoas não pontuais não é uma escolha para muitos.

“No quadro de TDAH, por exemplo, é comum que as pessoas tenham muita dificuldade com seus compromissos. Elas procrastinam com frequência e isso gera uma demanda muito alta de última hora que faz com que a procrastinação seja mais frequente”, descreve.

Atraso compulsivo = falta de educação

No entanto, há quem defenda que a impontualidade está mais relacionada à falta de educação do que com qualquer condição médica.

“É muito mais que isso, é falta de respeito”, opina Roberto Hirsch. “A pessoa que está sempre atrasada age de forma controladora e não demonstra ter consideração pelos horários e responsabilidades dos outros. Quando essa conduta parte de alguém numa posição de comando é ainda pior, pois fica claro que esse indivíduo quer todo mundo à sua disposição sempre se acha mais do que aqueles ao seu redor”, garante a psicóloga.

Contudo as pessoas não pontuais para alguns especialistas é mesmo uma filosofia de vida, será que é possível aprender esse hábito?

“Com certeza que sim”, sugere o jornalista Paulo Eduardo Vieira, que já comandou um time de 220 pessoas e atualmente é o responsável pelo desenvolvimento de projetos, produtos e negócios em todo o Brasil.

“Se não fosse assim, nossa sociedade não teria evoluído para considerar acordos como algo tão sério. Uma pessoa adulta, que sabe de seus compromissos e responsabilidades, tem que estar alinhada com os horários daqueles com quem convive. Por mais liberdade que a gente tenha com a tecnologia, com colaboradores trabalhando em redes globais e em fusos horários diferentes, no final das contas cada um vai ter sempre seu horário”, justifica.

 

Fonte: otempo