Queda do dólar em 2025 reflete mudanças globais, juros e cenário econômico no Brasil
Dólar em queda em 2025: o ano foi marcado por uma forte desvalorização da moeda norte-americana no mundo e, no Brasil, o dólar caiu 10,29% frente ao real no acumulado até o pregão (29), o penúltimo do ano, registrando o maior recuo em quase 10 anos — em 2016, a queda foi de 17,8%.
DÓLAR MAIS FRACO: por que Trump parece agir para desvalorizar a moeda — e qual sua estratégia.
Políticas de Trump
Segundo especialistas, a desvalorização global do dólar reflete, em grande parte, as políticas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Após a eleição nos EUA, o mercado financeiro esperava uma agenda conservadora e protecionista logo no início do mandato. A aposta era de que o republicano adotaria medidas como aumento de tarifas e corte de impostos já em janeiro, o que acabou não se confirmando.
Assim, a moeda norte-americana — que iniciou 2025 cotada a R$ 6,16 — perdeu força ao longo dos meses e acumulou desvalorização de 7,4% ao fim do primeiro trimestre. Na comparação com o início de janeiro.
Em abril, após Trump anunciar uma série de tarifas de importação sobre parceiros comerciais, o dólar chegou a se valorizar por um curto período, mas o movimento não se sustentou.
Na prática, além de prejudicar diretamente a balança comercial dos EUA, o aumento das tarifas ampliou a incerteza sobre os rumos da economia do país. Desse modo, investidores passaram a rever suas posições em dólar, o que aumentou a pressão de venda da moeda e contribuiu para sua desvalorização.
Segundo Mattos, o aumento das operações de proteção contra a variação do câmbio (hedge cambial), impulsionado pelas incertezas, também contribuiu para aprofundar a desvalorização global do dólar.
O hedge cambial funciona como uma proteção contra a variação do dólar
“A volatilidade que o dólar teve incentivou muitos investidores a fazerem hedge. Isso acabou aumentando a perda do dólar”, completa Mattos.
Todos de olho no Fed
A possibilidade de queda da taxa de juros nos Estados Unidos também se tornou um tema central no mercado financeiro em 2025.
No início do ano, a expectativa era que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) promovesse cortes em ritmo e intensidade maiores. Todavia, a primeira redução das taxas em 2025, de 0,25 ponto percentual, ocorreu apenas em setembro.
De acordo com o especialista em investimentos da Nomad Bruno Shahini, vários fatores influenciaram essa decisão do Fed.
Com um mercado de trabalho mais aquecido, há mais dinheiro em circulação e maior risco de pressão nos preços. Segundo o especialista, esse receio — de que uma inflação elevada manteria os juros altos nos EUA por mais tempo — foi se dissipando ao longo do segundo semestre.
Veja mais detalhes sobre a queda do dólar em 2025
Até o momento, o Fed cortou os juros americanos três vezes. Contudo, reduzindo a taxa da faixa de 4,25% a 4,50% ao ano para 3,50% a 3,75% ao ano — o menor nível desde setembro de 2022.
“Os Estados Unidos já cortaram parte da taxa neste ano e podem promover novos cortes”, afirma o analista.
Na prática, juros menores nos EUA diminuem o rendimento das Treasuries, os títulos do governo americano, que são vistos como os investimentos mais seguros do mundo. O movimento faz investidores buscarem aplicações mais rentáveis em mercados emergentes. Nesse cenário, o Brasil tem se destacado, favorecendo a bolsa e o real.
Real x dólar
No Brasil, a valorização do real frente ao dólar também foi impulsionada por fatores internos. Como a taxa básica de juros em nível elevado e uma percepção menos alarmista sobre as contas públicas do país.
Os juros brasileiros estão no maior patamar em 20 anos, o que atrai investidores estrangeiros em busca de ativos com melhores retornos. “O Brasil tem uma das maiores taxas de juros reais [descontada a inflação] do mundo. E isso atrai recursos, ou não deixa sair”, explica o diretor de tesouraria do Banco Travelex, Marcos Weigt.
Os especialistas também destacam o compromisso do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, com o objetivo de trazer a inflação para o centro da meta de 3%. Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Galípolo assumiu a presidência da instituição neste ano, e havia receio de que o novo chefe do BC pudesse ceder às pressões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para reduzir os juros antes do momento adequado.
Quanto às contas públicas, especialistas explicam que os investidores iniciaram 2025 bastante preocupados com a situação. “Embora não se possa falar que houve uma grande mudança em 2025, o governo pelo menos tentou ser um pouco mais consistente”, explica Mattos.
O que podemos esperar à frente?
A expectativa geral dos analistas é de que fatores internos e externos continuem a influenciar a taxa de câmbio em 2026.
Em relação ao cenário internacional, eles alertam que ainda há muita incerteza sobre o ritmo da economia americana e seus efeitos sobre os juros. Mesmo após Trump ter suavizado seu ímpeto com o tarifaço, com acordos firmados com a maioria dos parceiros dos EUA.
Outro ponto relevante é o fim do mandato do atual presidente do Fed, Jerome Powell, previsto para maio de 2026
“Acredito que o banco central norte-americano continuará independente, mas é fato que a escolha de um novo nome para o Fed traz uma pressão adicional”, diz Weigt, do Banco Travelex.
No Brasil, além da perspectiva de início do ciclo de cortes de juros pelo Banco Central, os especialistas alertam que o ano eleitoral volta a concentrar a atenção dos investidores.
“O mercado está ignorando a situação fiscal por enquanto, mas no ano que vem isso deve pesar mais nos preços, porque os investidores vão querer saber se o governo eleito estará alinhado com a agenda de superávit e estabilização da dívida pública”, alerta Shahini.
Por fim, Weigt, do Travelex, acredita que a discussão sobre os juros nos EUA seja mais relevante até março do ano que vem. “A partir de abril, o que deve dar o tom para o dólar e o real será a eleição e a expectativa de gastos do governo em 2026 e 2027.”




