São atividades melhor remuneradas, com menos rotatividade e com maior impacto na produtividade
A redução da desigualdade no Brasil depende muito da melhoria da qualidade de emprego e da educação. No mercado de trabalho brasileiro predominam atividades e ocupações muito simples que remuneram mal, têm alta rotatividade e baixa produtividade: balconistas, motoristas, embaladores, atendentes, entregadores, arrumadeiras, merendeiras, lavradores, porteiros, ajudantes de cozinha, etc.
Assim, cerca de 2/3 dos brasileiros que trabalham realizam atividades desse tipo e 1/3 se dedicam a ocupações mais complexas nas áreas da educação, saúde, engenharia, tecnologia, ciências básicas, ciências sociais, direito e outras. Aliás, são atividades melhor pagas, com menos rotatividade e com maior impacto na produtividade.
Historicamente, esse quadro decorre da natureza do nosso sistema produtivo que está muito ligado à agricultura, mineração e pequenas empresas do comércio e serviços. Além disso, cerca de 2/3 exportações brasileiras são intensivas em produtos naturais (commodities).
Desigualdade, emprego e educação
Veja o contraste da Alemanha: mais de 50% das exportações são de bens e serviços intensivos em conhecimento (veículos, maquinário complexo, fármacos, engenharia, etc.). Para produzir esses bens e serviços, cerca de 2/3 dos empregos são de boa qualidade, bem remunerados, de baixa rotatividade e alta produtividade e 1/3 são de má qualidade, em geral , ocupados por imigrantes como é o caso dos balconistas, garçons, motoristas, faxineiros, ajudantes de obra, etc. Contudo, trata-se de uma estrutura de atividades e de ocupações que é, grosso modo, o inverso da brasileira.
Para preencher os 2/3 de bons empregos, a Alemanha dispõe de um sistema de ensino eficientíssimo nas áreas tecnológicas e científicas. Assim, é o chamado ensino dual no qual os estudantes passam metade do tempo na escola e a outra metade nas empresas com boa orientação. No nível superior, a qualidade é igualmente maior.
JOSÉ PASTOR E – Professor da Universidade de São Paulo e presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP. É membro da Academia Paulista de Letras.