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A empresa Danone do ramo de alimentos, está sendo boicotada após discriminar soja do Brasil. Foto: Reprodução

Danone vira alvo de boicote após discriminar soja brasileira

Empresa cogitou não comprar grão do Brasil devido ao não cumprimento de diretrizes ambientais

A notícia de que a Danone, empresa francesa do ramo de alimentos, deixaria de comprar soja do Brasil movimentou o setor nesta semana. Sob a justificativa do não cumprimento das diretrizes ambientais, a decisão foi tida para muitos produtores como “discriminação” e “boicote” à oleaginosa nacional.

Entenda o caso

  • No último 25 de outubro, a Danone anunciou que não compraria mais soja do Brasil em resposta à nova regulamentação da União Europeia contra o Desmatamento (EUDR, em inglês).

A lei antidesmatamento exige que as empresas comprovem a origem de suas matérias-primas, garantindo assim que nenhuma commodity provenha de áreas desmatadas. A norma está prevista para entrar em vigor no dia 30 dezembro deste ano. Mas o Parlamento Europeu pode ainda decidir adiar a vigência diante da pressão internacional.

  • A declaração foi dada pelo diretor financeiro da Danone, Jurgen Esser, para a Agência Reuters. No texto, a empresa declara que está empenhada em utilizar apenas ingredientes sustentáveis e que monitora rigorosamente a procedência da soja.

Uma das principais consequências seria a utilização do complexo da soja para alimentação animal. Uma vez que a Danone direcionaria parte da oleaginosa em cerca de 5% de sua produção láctea através das rações dadas às vacas. Além do uso em seus produtos sem lactose, das marcas Alpro e Silk.

A Danone declarou que importava aproximadamente 18% de sua soja destinada à ração animal do Brasil, mas que já vinha analisando outras alternativas de fornecimento.

  • O debate amargou quando a Aprosoja divulgou seu posicionamento oficial na terça-feira (29), classificando a atitude como “discriminatória”, “intempestiva” e “descabida”. Em nota, a entidade afirmou que a suposta decisão seria “uma demonstração de desconhecimento ao processo produtivo no Brasil e um ato discriminatório contra o Brasil e sua soberania”.

O boicote da Danone já traz prejuízo para os brasileiros

O boicote adotado pela multinacional francesa já traz prejuízos para o Brasil e para os brasileiros, mesmo que a legislação da União Europeia antidesmatamento ainda não tenha entrado em vigor”, acrescenta a Aprosoja.

  • O Ministério da Agricultura e Pecuária também reagiu contra o posicionamento da Danone e publicou ontem um comunicado oficial, no qual destaca que o país possui uma das legislações ambientais, que o mercado de soja no país está pautado a due dillegence das exportações e que considera a EUDR uma legislação arbitrária.

“Entendemos que essa postura influencia negativamente o comportamento de empresas comprometendo o entendimento de consumidores sobre a real dimensão da segurança alimentar baseada na produção sustentável e nas negociações internacionais, que deve ser baseada na confiança mútua e no respeito à soberania e à diversidade de soluções nacionais”, classificou o Ministério.

  • Panos quentes: após as diversas publicações, a Danone do Brasil informou que não deixará de comprar soja brasileira, conforme apurou a Globo Rural. Contudo, segundo a Danone, as aquisições da companhia passam por uma central, que coordena um processo de verificação de origem das matérias-primas.

O que dizem os produtores?

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Maurício Buffon, relatou que recebeu uma ligação do presidente da Danone ratificando que continua comprando soja do Brasil.

“A Danone nos procurou para falar que a soja e os negócios no Brasil continuam tudo igual e que não vai mudar nada. A gente vai ficar muito firme nessa questão não admitindo ser discriminado”, afirmou Buffon.

O presidente da Aprosoja Brasil ponderou que uma empresa pode começar discriminando uma cadeia de produção no Brasil e depois estender para outras áreas, cimo milho e leite. “Nenhuma empresa tem o direito de questionar sem conhecer. Nós temos reserva legal dentro da propriedade, temos áreas de preservação permanente. Temos todo um cenário de sustentabilidade que eles não conhecem e estão nos questionando”, afirmou Buffon.

Ainda segundo o presidente da Aprosoja Brasil, a Danone teria informado à entidade que a suspensão de compra de soja pela Danone na França refere-se à produção de um leite à base de soja produzido naquele país. Mas não há compra de soja do Brasil pela unidade francesa para este fim.

Empresas da Nestlé à Unilever têm se preparado para atender à nova regulamentação. Por outro lado, antes de enfrentarem multas potenciais de até 20% do faturamento, no caso do descumprimento da legislação.

Commodities brasileiras pode estar ameaçada após boicote da Danone

A preocupação é que esse tipo de decisão influencie outras multinacionais europeias a deixarem de comprar commodities brasileiras, ou mesmo antecipem exportações antes da vigência da legislação e desacelerem as compras a partir do ano que vem. Enquanto não há definição do Parlamento Europeu sobre adiar ou não a data da norma, o setor brasileiro reage e pressiona por meio de entidades setoriais.

Contudo, há consenso entre lideranças do agro brasileiro de que é necessário ter um discurso menos “reativo” em relação a pautas que envolvam produção agrícola e sustentabilidade. O assunto foi debate de evento na Globo Rural e uma das soluções propostas é mostrar mais transparência e coordenação de dados  por parte do Brasil para conquistar “protagonismo e credibilidade” em determinadas pautas.

Novo fornecedor

A Danone Global teria informado em um comunicado que seu principal fornecedor de soja passaria a ser a Ásia já neste ano. De acordo com o relatório da empresa, em 2023, 60% da soja utilizada em seus produtos viria da própria Europa e 40% do Canadá. Por outro lado, o maior importador de soja brasileiro é justamente a China, país asiático.

É na Ásia que se transforma a soja em subprodutos para a Danone, conforme informações do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A saber, o que evidenciaria que a soja canarinha estivesse presente direta ou indiretamente nos produtos da Danone.

À Globo Rural, a pasta informou que o Complexo de Soja brasileiro abastece tanto o mercado asiático, quanto o francês. Só no ano passado, o país exportou mais de US$ 48 bilhões em produtos provenientes da oleaginosa para a Ásia. Totalizando aproximadamente 93 milhões de toneladas. Nos primeiros nove meses de 2024, essas exportações somaram US$ 35 bilhões, correspondendo a 81 milhões de toneladas.

“Especificamente para a França, o volume exportado em 2023 foi de US$ 849 milhões, enquanto de janeiro a setembro de 2024 alcançou US$ 499 milhões. Contudo, no contexto global, as exportações brasileiras somaram US$ 67 bilhões em 2023. E, até setembro de 2024, já atingiram US$ 47 bilhões”, acrescenta a nota enviada pelo ministério por e-mail.

A Aprosoja, por sua vez, estima que cerca de 9% do complexo soja do Brasil entre nas filiais da Danone. Portanto, o que seria contabilizado no balanço financeiro da empresa.

Posicionamento do governo brasileiro

O Mapa reafirma o “compromisso ambiental” do Brasil, defendendo que o país possui “uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo” e um sistema de comando e controle robusto que visa combater o desmatamento ilegal.

Em relação à lei antidesmatamento da União Europeia (EUDR, na sigla em inglês), o ministério qualificou as normas como “arbitrárias, unilaterais e punitivas”, afirmando que desconsideram as particularidades dos países produtores e impõem custos significativos, especialmente a pequenos produtores. “Incentivos positivos são mais eficazes na promoção da proteção ambiental”, argumentou o ministério, destacando que a abordagem punitiva prejudica o acesso dos produtos brasileiros ao mercado europeu.

O governo brasileiro também se comprometeu com a transparência.  No entanto, apresentando propostas de modelos eletrônicos de rastreabilidade que atendem às exigências do EUDR. Contudo, refletindo seu empenho em uma produção responsável e sustentável. O ministério enfatizou que “os modelos privados de rastreabilidade são amplamente reconhecidos e aprovados pelos mercados europeus”.