Os acordos costumam prever multas extras de 100% do valor do contrato em caso de cancelamento, mas, na prática, isso não costuma acontecer
O Lollapalooza de 2023 foi marcado por cancelamentos de contratos dos artistas. Das três atrações principais da escalação original, duas desmarcaram: o Blink-182, um mês antes, por uma fratura no dedo do baterista, e Drake, no dia do show, por “circunstâncias imprevistas”.
Omar Apollo, Dominic Fike, Willow e 100 Gecs também desistiram deste Lolla. Aliás, o festival em São Paulo não é o único com cancelamentos que deixaram os fãs devastados. O Rock in Rio teve o caso marcante de Lady Gaga em 2017 e outros como o de Jay-Z em 2011.
Ouvimos profissionais do mercado de shows para saber sobre cancelamentos de apresentações em grandes festivais: como são os contratos e por que estas desmarcações de gringos são comuns?
Como se negocia os contratos dos artistas?
Todos os cachês com atrações estrangeiras negociados em dólar. Assim, os valores são calculados, geralmente, de duas formas possíveis:
- Cachê ‘colocado’ – Um preço único, combinado entre o artista e o festival. O artista recebe o valor e, com ele, é responsável por todos os custos do show, incluindo o transporte aéreo da equipe e a estrutura da apresentação.
- Cachê artístico – É um valor pago ao artista só para ele se apresentar. Neste caso, o festival tem que pagar por todos os custos extras, como transporte da equipe e estrutura.
Nos grandes festivais de música na América Latina, o mais comum é o cachê colocado. Dessa forma, o festival, na maioria das vezes, concede apenas de duas a três noites de hotel e transporte local (entre aeroporto, hotel e o lugar do evento).
Assim, os artistas tentam marcar o máximo possível de datas nos países vizinhos ou em outras cidades do Brasil. Em vez de fazer apenas um show com deslocamento intercontinental, mais caro, ele faz várias viagens menores, ganhando cachê fixo em cada uma. Isso dilui o gasto total e viabiliza a turnê.
O que acontece quando o artista cancela?
Os acordos costumam prever multas extras de 100% do valor do contrato em caso de cancelamento. Mas, na prática, isso não costuma acontecer. Portanto, os artistas gringos que cancelam precisam apenas devolver o cachê que já tenha sido pago.
Isso acontece porque os contratos têm cláusulas, conhecidas no mercado como “motivos de força maior”, que cancelam a multa nos seguintes casos:
- Doença do artista, devidamente comprovada.
- Mudanças meteorológicas, calamidades públicas ou outra hipótese alheia à vontade do contratado que torne impossível a apresentação.
Na prática, a “hipótese alheia à vontade que torna impossível a apresentação” pode ser quase qualquer coisa. “Não tem nada de multa. Devolve a grana e pronto. E sempre tem um motivo, por mais que não abra isso nas redes. Sempre tem que alegar algo”, diz o agente de um grande festival no Brasil.
“Existem algumas pegadinhas em ‘motivos de força maior’ que o pessoal usa para se encaixar”, diz um artista brasileiro que toca em grandes festivais aqui e no exterior.
No entanto, caso o artista já tenha investido uma parte de sua verba na realização do show, esse valor pode ser abatido da verba devolvida.
Exemplo: um artista cancela de última hora, mas o mega telão dele veio antes e instalou no palco. Pode estar previsto em contrato que o valor depositado seja: o que já recebeu menos o que gastou com o tal telão.
Fontes: redebcn, tribuna