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A alta dos fertilizantes também é um reflexo da guerra entre a Ucrânia e a Rússia; além disso impacta alimentos e piora o quadro inflacionário

AGRO: Alta de fertilizantes prejudica setor no Brasil

O diretor do Sinprifert avalia que a alta de preços dos fertilizantes não deve se traduzir em um lucro maior porque os custos aumentaram

guerra entre Ucrânia e Rússia afetou os preços de uma série de produtos, entre eles os fertilizantes, com um impacto ainda maior para países que importam a maior parte do que consomem, caso do Brasil. Essa alta acaba refletindo nos alimentos, piorando o quadro inflacionário.

Atualmente, cerca de 85% dos fertilizantes usados no país são importados, e dados da consultoria Globalfert apontam que 23% desse total vem da Rússia. A Ucrânia também é um fornecedor relevante, assim como Belarus, que também está envolvido no conflito, piorando o cenário.

Especialistas apontam, porém, que por mais que o setor de fertilizantes brasileiro deva enfrentar dificuldades no curto prazo, a guerra gerou uma oportunidade de crescimento ao deixar à tona uma vulnerabilidade do país.

Cenário brasileiro

Diretor-executivo do Sindicato Nacional das Indústrias de Matérias-Primas para Fertilizantes (Sinprifert), Bernardo Silva, afirma que o setor de fertilizantes no Brasil possui hoje uma capacidade instalada de 13,95 milhões de toneladas por ano, mas produz efetivamente cerca de 6 milhões.

Segundo ele, existem alguns fatores que explicam essa diferença, mas o principal é a falta de competitividade dos projetos nacionais em relação ao exterior.

Silva também cita outras questões, como custos de produção e de maquinário elevados com problemas de logística, preço alto de energia elétrica —essencial na produção de fertilizantes— e um “olhar de curtíssimo prazo” que privilegiou e incentivou a importação por ser mais barata.

Em 2021, o total de importação de fertilizantes, prontos ou para serem misturados, foi de 34,7 milhões de toneladas, cerca de 85% do total negociado, o que indica a força das montadoras no país.

Um estudo do Globalfert aponta que, em 2021, pouco mais de 70% do mercado de fertilizantes NPK (que contém nitrogênio, fósforo e potássio) do Brasil era controlado por três empresas.

A maior, com 28%, é a Mosaic, originária dos Estados Unidos. Em seguida vem a Yara, empresa de origem europeia, com 23%, e a Fertipar, com 22%, uma das poucas grandes empresas do setor que ainda é nacional, fundada no Paraná.

O peso de empresas estrangeiras vai além das duas maiores do setor. A suíça Eurochem, por exemplo, adquiriu entre 2020 e 2021 duas grandes companhias nacionais, a Fertilizantes Tocantins (13%) e a Heringer (4%). Ainda há a Cibra, com 5% de participação, e que faz parte do grupo norte-americano Omimex.

Efeitos da guerra na alta dos fertilizantes

Para o diretor do Sinprifert, a guerra na Ucrânia atingiu um setor já pressionado no Brasil, com margens “apertadíssimas”. Ele avalia que o aumento de preços dos fertilizantes não deve se traduzir em um lucro maior porque os custos também aumentaram. Em especial de energia e transporte devido às altas do petróleo e do gás natural.

Ele aponta, porém, uma possibilidade de aumento de mercado. Ou seja, aumentar a produção e se aproximar mais dos 13 milhões de toneladas potenciais, já que o cenário deve gerar uma redução nas importações. Abrindo janelas de oportunidades.

A combinação de todos esses fatores deve levar a um “aumento de participação, mas não de receita”.

Juliana Lemos avalia que a demanda do agronegócio por fertilizantes está bastante favorável no Brasil. O que é positivo, mas também gera um “desafio monstruoso” de manter o fornecimento de matérias-primas para atender ao setor.

Isso exigirá a criação de novos contratos, rotas de transporte e também novos fornecedores. Mas atualmente são poucos países com capacidade para expandir a produção e atender mais mercados.

“A expectativa é de mais vendas, mas é um grande desafio. Vai demandar estratégias certeiras para garantir o fornecimento”, diz.

Ao mesmo tempo, ela acredita que a guerra deve fortalecer uma tendência de diversificação de fontes de fertilizantes. Com aumento de alternativas como orgânicos e organo-minerais, mas não a ponto de suprir toda a demanda do agronegócio brasileiro.

Bernardo Silva afirma que o cenário atual de elevação de preço dos fertilizantes, que na verdade começou na pandemia com o descompasso entre oferta e demanda, não é problema real do setor, mas ajudou a escancará-lo.

Nesse sentido, ele vê o lançamento do Plano Nacional de Fertilizantes pelo governo federal como um “passo realista” em direção a uma mudança verdadeira para o setor.

Potencial

A analista-chefe do Globalfert afirma que ainda é difícil entender qual é o potencial real do setor de fertilizantes no Brasil pensando na expansão de uma produção nacional. Já que faltam estudos e um mapeamento detalhado de reservas minerais.

Ela avalia que o plano divulgado pelo governo “é para daqui a 30 anos, e não deve dar independência total, mas pode levar a uma mobilização maior”.

Segundo Bernardo Silva, o plano trouxe um diagnóstico aprofundado da situação atual do setor, com metas para o médio e longo prazo. O objetivo é reduzir a dependência brasileira de importações para cerca de 45% ou 50% do total até 2050.

Ele diz que cada um dos três macronutrientes acabou tendo uma projeção diferente de alta de produção. Assim, leva em conta as disponibilidades de obter as matérias-primas no Brasil. No caso dos nitrogenados, por exemplo, a importação poderia ser reduzida de 93% para 51%, e no caso dos fosfatados, de 78% para 5%.

Fonte: Summitagro, Udop, economiajornal