Com o crescimento do mercado de cosméticos, descubra seis marcas quem remetem ao agro nos seus frascos
Saber a origem de um produto se tornou uma tendência em todo o mundo, especialmente com relação aos alimentos. Mas não ficou somente neles. Os cosméticos também estão nesse jogo. Até 2029, esse mercado deve atingir US$ 44 bilhões (R$ 250,8 bilhões na cotação atual) e, no ano passado, chegou a US$ 33,1 bilhões (R$ 188 bilhões), segundo a Mordor Intelligence. Ao decorrer do texto, confira seis marcas de cosméticos que levam o agro nos frascos.
A agricultura está por trás dessas estatísticas e nos frascos de hidratantes, perfumes e óleos essenciais. Em entrevista à Forbes, representantes de grandes marcas do setor, como Natura, Boticário e Weleda contam detalhes da produção das matérias-primas dos seus produtos. Confira:
1. Natura – Essa é umas das marcas mais conhecidas dos cosméticos que levam o agro nos seus frascos
Noventa e três por cento das fórmulas dos produtos da Natura, são de origem natural e obtidas a partir de matérias-primas de parcerias com produtores rurais, cooperativas, associações comunitárias e agricultores familiares agroextrativistas, especialmente na região norte do país.
“São 51 comunidades espalhadas nos estados da região amazônica. Mas o Pará é o nosso principal polo de fornecimento, com 25 comunidades e 2,6 mil famílias fornecedoras”, diz Mauro Costa, gerente de relacionamento e abastecimento da sociobiodiversidade da Natura. Segundo o executivo, a empresa também possui parceiros no Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Goiânia, e em países como Peru, Colômbia e Equador.
Hoje, a empresa trabalha com 44 bioingredientes de 29 espécies nativas
Como, andiroba, castanha-do-brasil, ucuuba, tucumã, entre outros, e quer chegar a 55 bioingredientes até o início da próxima década.
Desse modo, em sistemas regenerativos e agroflorestais, a Natura cultiva uma das suas principais matérias-primas, a castanha-do-Brasil, em parceria com a Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru (Comaru), localizada em Laranjal do Jari, no Amapá, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru, em uma área de 806,1 hectares, que reúne 68 famílias e 120 cooperados.
Junto às Embrapas Amazônia Oriental e Amazônia Ocidental, e a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), no Pará, a Natura criou o primeiro sistema agroflorestal do mundo voltado ao cultivo de óleo de palma de forma sustentável. “O nosso SAF Dendê integra culturas como mandioca, banana, açaí e madeira ao dendê, em 650 hectares. Mas queremos atingir 45 mil hectares até 2035″, diz Costa.
A Natura, que foi fundada em 1993, e em 2024 faturou R$ 24 bilhões, possui certificação B Corp, que reconhece organizações comprometidas com padrões de desempenho social e ambiental, transparência e responsabilidade. Sobretudo, a Linha Ekos, por exemplo, possui a certificação da Union for Ethical BioTrade (UEBT), que assegura que os ingredientes são obtidos de forma ética, promovendo a conservação da biodiversidade e o respeito aos direitos dos trabalhadores.
2. L’occitane Au Brésil
A L’occitane Au Brésil trabalha em 146 hectares no Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia e Pará, com 25 produtores parceiros, em sistemas regenerativos e agroflorestais, para produção das matérias-primas principais: vitória régia, bacuri, patauá, mandacaru, bromélia e jenipapo. Desse modo, segundo Bruno Oliveira, diretor de pesquisa, desenvolvimento e inovação, a marca impacta cerca de 45 famílias produtoras e deste grupo 60% são mulheres.
O carro-chefe da marca, a matéria-prima que está em todos os produtos, é o cupuaçu, de alguma forma. “O cupuaçu ocupa a nossa maior área de produção. São 100 hectares em Nova Califórnia, em Rondônia”, afirma Oliveira. “Trabalhamos com esses parceiros que fazem o manejo dessas espécies com sustentabilidade”, diz Oliveira.
Outras espécies que integram os produtos da marca são cultivadas no Paraná, como o capim-limão; a bromélia, no Rio de Janeiro, e em outros estados da região amazônica.
Além da certificação B Corp, que reconhece empresas comprometidas com padrões de desempenho socioambiental, a marca criou um programa de gestão de fornecedores para dar apoio financeiro e social aos pequenos produtores que seguem os princípios do comércio justo.
A L’occitane Au Brésil, que pertence ao Grupo L’occitane, veio para o Brasil em 2013. “Na França, a L’occitane leva nos seus produtos o modo de viver do francês. Aqui, a ideia era realçar o borogodó, celebrar a natureza, as pessoas, e a cultura do Brasil”, diz Oliveira.
3. Boticário – Mais uma das marcas de cosméticos, que leva o agro em seus frascos e é bem conhecida no mundo
O Boticário possui 900 matérias primas cadastradas, sendo 650 delas de origem vegetal e que, misturadas, formam os mais de 8 mil produtos da marca. “O extrato vegetal dessas matérias-primas são fornecidas por produtores parceiros. É o caso da uva merlot. Não cultivamos, mas o nosso fornecedor acompanha a produção da fruta, extrai a essência, que depois compramos”, diz Gustavo Dieamant, diretor executivo de pesquisa e desenvolvimento do Grupo Boticário. Para compor as fragrâncias, a empresa compra etanol de usinas parceiras.
Com foco em pesquisa, o Boticário, umas das marcas de cosméticos que leva o agro em seus frascos desenvolveu o Quintana, um laboratório localizado em Curitiba, para fazer testes experimentais de algumas espécies de plantas. “Temos um viveiro parte ao ar livre, parte em estufa, onde cultivamos 56 espécies da biodiversidade global”, diz Dieamant.
“Conforme descobrimos o potencial biológico e olfativo de uma planta, e vemos suas vulnerabilidades com relação a pragas, mandamos as mudas para um fornecedor cultivar em grande escala para que a gente compre o extrato dessa matéria-prima depois. Ou seja, verticalizamos apenas a pesquisa”.
Recentemente a empresa fez uma parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para estudar uma microalga que pode, futuramente, integrar um produto da marca.
Em 2022, a empresa, que em 2024 atingiu R$ 35,7 bilhões em vendas totais, conseguiu a Certificação LIFE, que reconhece organizações que promovem ações voluntárias de conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos.
4. Weleda
Todas as matérias-primas utilizadas pela marca suíça Weleda são cultivadas em um sistema de agricultura biodinâmica, que integra princípios espirituais, ecológicos e holísticos. “Nesse modelo temos jardins biodinâmicos espalhados pelo mundo onde respeitamos e seguimos os ciclos naturais, fazemos compostagem e rotação de culturas. É mais do que ser orgânico”, diz Maria Claudia Villaboim Pontes, CEO da Weleda América Latina.
A marca possui seis jardins biodinâmicos no mundo e um deles está no Brasil. Por aqui, a Weleda cultiva 30 espécies de plantas e flores em uma área de 1 hectare, em São Roque (SP).
A Weleda também conta com 12 agricultores parceiros em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, sendo um biodinâmico e os demais, orgânicos. Portanto, o maior jardim da marca, de 23 hectares, está localizado na Alemanha.
“A maior parte dos insumos que hoje estão na composição da Weleda, são originários ou descobertos na Alemanha. Nativo do Brasil, apenas a passiflora. Mas faz parte dos nossos planos desenvolver cada vez mais insumos locais dos cinco biomas, porque somos um celeiro com uma uma vocação verde”, diz Maria Cláudia. Hoje, a Weleda produz em torno de 15 toneladas de produtos. Em 2024, a empresa faturou R$ 120 milhões e espera crescer 10% neste ano.
A Weleda obtém certificação Natrue. Selo belga para cosméticos naturais e orgânicos, e certificação do Instituto Biodinâmico (IBD), que garante produtos com 100% de ingredientes naturais. Em 2021, a empresa conquistou o selo B Corp, e em 2024, foi recertificada.
5. doTerra
No Brasil desde 2018, a multinacional americana doTERRA trabalha com 25 mil produtores e colaboradores, a maioria localizados nas regiões da Amazônia e no Rio Grande do Sul, que adotam práticas regenerativas de cultivo. “O mercado de bem-estar está começando no Brasil ainda. Nós temos algumas empresas locais, mas em larga escala não. Então, a gente pode fazer um trabalho muito amplo no Brasil com a agricultura”, diz Adna Fischmann, diretora geral da doTerra.
Os óleos essenciais da empresa são extraídos em diversas partes do mundo. A lavanda, por exemplo, é produzida na Bulgária e no sul da França. No Brasil, o óleo da copaíba vem da Amazônia; o breu branco, da Ilha do Marajó no Pará e Amapá; a erva-baleeira, do oeste do Paraná, e o eucalipto e a citronela, da Bahia. A laranja, limão, tangerinas, mandarinas e lima, cujos extratos compõem os produtos da marca, são produzidos no Rio Grande do Sul em 6,8 hectares.
A doTERRA está em 100 países, especializada na produção e venda de óleos essenciais puros, sem adição de compostos, e produtos de bem-estar natural. Que vão de cosméticos à itens para aromaterapia.
Com faturamento anual de cerca de US$ 2,5 bilhões (R$ 14,3 bilhões na cotação atual), a empresa comercializa cerca de 500 mil frascos de óleos essenciais. Todavia, os dados do Brasil não são públicos.
A empresa desenvolveu o seu próprio selo com o protocolo Certified Pure Tested Grade (CPTG). Que estabelece critérios para garantir a pureza e a qualidade dos óleos essenciais.
6. Kapeh
A Kapeh é uma marca brasileira que combina cosméticos e café em 150 produtos. “Cada lote de cosméticos conta a história de um café cultivado com responsabilidade, respeitando o meio ambiente e as pessoas envolvidas na cadeia produtiva”, diz Vanessa Vilela, farmacêutica e fundadora da marca.
Os produtos da marca incluem hidratantes e perfumes, todos à base de café verde e outros derivados do grão. Contudo, Juliano Mendonça Araújo, marido de Vanessa, gere a fazenda Rancho Fundo, de 200 hectares, onde produz café.
Sobretudo, a empreitada teve início em 2007, quando Vanessa identificou o alto teor de antioxidantes no grão cru de café produzidos na sua fazenda e pensou no potencial para além da bebida. Contudo, a produção média da Kapeh é de 7.000 sacas por hectare-ano.
O faturamento gerado pelo grupo da fazenda é de cerca de R$ 20 milhões e os cosméticos, R$ 5 milhões, em 2024.
Por fim, o café produzido pela Kapeh possui as certificações internacionais UTZ Certified, organização que promove a agricultura sustentável, Fair Trade, que garante que pequenos produtores rurais recebam condições comerciais justas e dignas. Entre outras.
Fonte: forbes