Os estudantes também precisam estar atentos à repertórios musicais de artistas para prestar os vestibulares
Foi-se o tempo em que as universidades listavam apenas clássicos da literatura como leituras obrigatórias para os seus respectivos vestibulares. Atualmente, sucessos contemporâneos de artistas, como “Torto Arado” ou “O Avesso da Pele”, e álbuns da música brasileira também estão sendo exigidos nas provas dos vestibulares.
A precursora desse movimento foi a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que em 2018 colocou na lista de obras obrigatórias o álbum “Sobrevivendo no Inferno”, do grupo Racionais MC’s. Na época, a editora Companhia das Letras chegou a publicar as letras do álbum (que tem clássicos como “Diário de um Detento” e “Fórmula Mágica da Paz”) em um livro.
Apesar de não ter uma lista de obras obrigatórias, o Enem também costuma citar músicas e artistas em seus vestibulares. O próprio Racionais apareceu em uma questão da prova de 2024 com um trecho de “Capítulo 4, Versículo 3”. O samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira em 2019, “História para Ninar Gente Grande”, foi um dos textos-base para a redação do exame.
Neste ano, a Unicamp escolheu justamente um mangueirense para a lista de obras obrigatórias, uma lista com dez canções do sambista Cartola. Além disso, vestibulares pelo Brasil exigem que os candidatos conheçam canções que vão desde Caetano Veloso a Titãs.
Confira quais álbuns e canções estão na lista de obras obrigatórias:
Cabeça Dinossauro
Clássico álbum do Titãs de 1986 está na lista de obras do vestibular da UEL (Universidade Estadual de Londrina) junto com livros como “Torto Arado”, de Itamar Vieira Júnior, e “Melhores Poemas”, de Fernando Pessoa.
O álbum da banda paulista conta com músicas como “Polícia”, “Bichos Escrotos” e “Homem Primata”, e é considerado o mais visceral e icônico da história do grupo. De acordo com a revista Rolling Stone, “Cabeça Dinossauro” é o 19º maior álbum da história da música brasileira.
Samba enredo, rap e soul
Um dos vestibulares mais variados em obras obrigatórias é o vestibular da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), no Mato Grosso. A lista conta com obras literárias, artigos normativos (como a Declaração Universal dos Direitos do Homem), roteiro teatral, obras visuais, filmes e músicas.
A UFGD não exige um álbum como um todo, mas sim três músicas em específico. Tratam- se de “Kizomba: Festa da Raça”, samba da Unidos de Vila Isabel em 1988; “Resiliência”, da banda de rap Tribo da Periferia; e “(Sittin’On) The Dock of The Bay”, canção clássica da soul music de Otis Redding.
Lupicínio Rodrigues
A UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) exige entre as obras obrigatórias uma “seleta de canções” do cantor e compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues. Ao todo são 16 músicas selecionadas pela universidade para o candidato estudar. Há playlists no Spotify que reúnem cada uma delas.
Lupicínio Rodrigues fez sucesso na primeira metade do século 20 com marchinhas de carnaval e os chamados “samba canções”, que eram mais próximos dos boleros que das marchinhas. Além disso, ele foi compositor do hino do Grêmio e funcionário da própria UFRGS.
Tropicalia ou Panis et Circencis
Álbum histórico que reúne Gilberto Gil, Caetano Veloso, Os Mutantes, Tom Zé, Nara Leão e Gal Costa é uma das obras obrigatórias do vestibular da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
A obra, que está em segundo lugar na lista da Rolling Stone, foi responsável pelo surgimento do tropicalismo no final da década de 1960, em plena ditadura militar.
A canção “Panis et Circencis”, composta por Gil e Caetano, foi o primeiro grande sucesso do trio formado por Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee.
Cartola
Assim como a UFRGS, a Unicamp optou por selecionar algumas músicas de Cartola ao invés de um álbum completo da discografia dele. Ao todo são 10 canções clássicas do sambista que morreu em 1980, aos 72 anos.
Cartola foi um dos fundadores da Mangueira, lançou seu primeiro LP somente aos 65 anos e há poucos registros dele interpretando suas canções ao vivo. Angenor de Oliveira cantava sobre o amor, desigualdades e questões sobre a própria velhice.
Entre as “canções escolhidas”, como a Unicamp definiu, estão sambas icônicos como “Alvorada”, “As Rosas não Falam”, e “O Mundo é um Moinho”. Assim como no caso de Lupicínio Rodrigues, também há playlists no Spotify com as 10 músicas exigidas pela universidade de Campinas.
Fonte: cnn