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Velório de Preta Gil ocorre nesta sexta-feira no Rio de Janeiro. Corpo chegou ao Theatro Municipal escoltado por batedores da GM Foto: Cristina Boeckel/g1

Em caixão claro, começa velório de Preta Gil no Theatro Municipal; fãs fazem fila na Cinelândia

Velório de Preta Gil ocorre nesta sexta-feira, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Com um caixão claro, o velório da cantora Preta Gil foi aberto ao público por volta das 9h30 desta sexta-feira (25) no Theatro Municipal, no Centro do Rio de Janeiro. Uma das dezenas de coroas de flores foi enviada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Fãs formaram fila na Cinelândia logo cedo. A prefeitura montou um caminho gradeado na praça para ordenar e facilitar o fluxo da despedida. Preta morreu (20), em Nova York, em decorrência de um câncer.

O corpo chegou ao Theatro Municipal escoltado por batedores da Guarda Municipal, vindo do Cemitério e Crematório da Penitência, na Zona Portuária, onde, posteriormente, será cremado. Enquanto isso, no rápido percurso, o comboio passou pelo circuito dos megablocos, no Centro, além de marcar a presença em pontos simbólicos. Esta semana, o trajeto ganhou o nome da artista, em razão de uma homenagem póstuma. Afinal, a cantora costumava arrastar multidões com o ‘Bloco da Preta’, fomentando grandes festas.

O velório de Preta Gil ficará aberto ao público de 9h às 13h nesta sexta-feira; além disso, depois, o corpo será encaminhado em cortejo de volta ao cemitério. Lá, amigos e familiares terão, antes de tudo, uma despedida restrita, antes do processo de cremação, conforme estabelecido.

Após a despedida no saguão do Theatro, um cortejo retornará ao cemitério, novamente utilizando o corredor recém-batizado em homenagem à artista. Ademais, a Prefeitura do Rio montou, antecipadamente, um esquema especial de interdições e bloqueios na região do Theatro Municipal, a fim de organizar o fluxo no velório de Preta Gil. As restrições se estendem até as 18h de sexta-feira, garantindo, sobretudo, a segurança e a ordem local.

Fãs homenageiam Preta

Norma Maria Bessa Pacheco, cabeleireira, saiu de Curicica, na Zona Oeste do Rio, antes das 5h. Além disso, chegou às 6h15 em frente ao Theatro Municipal. Ela levou um cartaz em que presta homenagem à cantora, chamando-a de guerreira, e afirmou ser fã de toda a família. “Eu fiz esse cartaz para homenagear ela e ao pai, de quem também sou fã. Acompanhei a carteira e sempre ouvia no rádio”, disse Norma.

Por sua vez, a doméstica Teresa Marques dos Santos também madrugou para ir ao velório. Segundo Teresa, “ela era uma pessoa que dava alegria. Os pais precisam do calor das pessoas nesse momento, e é o que podemos fazer”. Além disso, ressaltou que a cantora deixa um grande legado, com pais maravilhosos, filho e uma neta.

Enquanto isso, o estudante Tiago da Silva Nascimento deixou Maricá às 4h para estar presente no velório. Por outro lado, a morte de Preta fez Tiago lembrar da importância dela na construção de sua identidade, ainda mais porque ele também perdeu a avó por câncer. “Eu não era fã de carnaval. Gostava por causa dela, das músicas que contagiavam. Sou gay, e ela representava a nossa causa, dos LGBT. Uma mulher que falava a verdade e representa a comunidade. Eu devo isso tudo a ela.” Dessa forma, fica claro o impacto da cantora em diversas pessoas e gerações.

Preta, um ícone

Preta Gil foi uma das maiores defensoras do carnaval de rua carioca e comandava desde 2010 o Bloco da Preta, um dos mais populares da cidade. Em 2017, ela conseguiu arrastar mais de 500 mil foliões pelas ruas do Centro do Rio com uma homenagem a Chacrinha. O circuito de megablocos que leva agora seu nome será, simbolicamente, parte do caminho do adeus à artista.

“É o momento ápice do meu ano. Trabalho o ano inteiro, faço mil atividades, mas o meu grande ‘xodó’ é o Bloco da Preta. Nele deposito muito da minha energia. O ano inteiro de planejamento, reuniões. É um momento muito especial, onde eu fico muito grata a Deus, aos meus fãs”, disse ao g1.

Filha de Gilberto Gil, sobrinha de Caetano Veloso, afilhada de Gal Costa, Preta Gil deixou a carreira de produtora e publicitária e decidiu pela carreira de cantora aos 29 anos, quando lançou seu primeiro álbum. “Prêt-à Porter” traz o hit “Sinais de Fogo”, uma composição de Ana Carolina feita especialmente para a amiga Preta. Além disso, o disco recebeu críticas por ter a cantora nua na capa.

“Eu lembro que fui mostrar para o meu pai e ele falou: ‘Desnecessário, Preta’. Aquilo foi uma confusão na minha cabeça. Mas meu pai é um sábio. Ele sabia exatamente o que eu ia passar depois. Eu lancei o disco achando que estava abafando, mas veio uma enxurrada de muitas críticas na época. De muito conservadorismo”, disse Preta em entrevista a Pedro Bial.

O segundo álbum de Preta Gil, intitulado “Preta”, foi lançado em setembro de 2005 e incluía as músicas “Muito Perigoso” e “Eu e você, você e eu”. Em seguida, em 2010, a cantora lançou seu terceiro álbum, “Noite Preta”, cuja festa percorreu o Brasil inteiro por sete anos, consolidando seu sucesso.

Baile da Preta

Após essa turnê, Preta criou o show “Baile da Preta”, que possui um repertório diverso e reflete sua personalidade musical eclética. Segundo a cantora, “O Baile da Preta retrata meu ecletismo, gosto e respeito pela MPB, desde Caetano Veloso até Aviões do Forró”.

Em 2017, ela lançou o sexto e último álbum, disponível somente em versão digital. “Todas as Cores” conta com participações de Pabllo Vittar, Marília Mendonça e Gal Costa, além da canção “Botando a fila para andar”, de Ana Carolina. Por fim, em 2021, Preta gravou “Meu Xodó” em parceria com seu único filho, Francisco, música que, segundo ela, foi a mola que a tirou do fundo do poço.

Dessa forma, fica evidente a trajetória marcante e multifacetada da cantora. “Se não fosse o Fran, eu talvez tivesse perdido a minha voz mesmo, porque sou intérprete, não sei tocar instrumento. Ele foi me estimulando o tempo inteiro a não entrar nessa bad total”, explica ao g1.

Durante a carreira, Preta também fez algumas participações em novelas e séries de TV, como “As Cariocas”, “Ó Paí, Ó” e “Vai que Cola”. Além disso, também investiu como empresária, sendo uma das sócias da agência Mynd. Entre os clientes, estavam Luísa Sonza, Pabllo Vittar, Camilla de Lucas e mais algumas dezenas de artistas e influenciadores.

Fonte: g1