Safra mundial do cereal acabou sendo bem menor do que se esperava no início do ano, preços devem permanecer firmes
A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) traçou um panorama sobre as perspectivas da safra, qualidade, volume, estoques e comportamento de preços na Argentina, Canadá, Estados Unidos, Paraguai, Rússia, Ucrânia, Lituânia, União Europeia e Uruguai.
Os dados foram, portanto, apresentados em um webinar com representantes da cadeira tritícola mundial. Fez uma avaliação da “Safra Internacional 21/22”. Segundo o gerente de relacionamentos da hEDGEpoint Global Market, Roberto Sandoli Jr, a safra mundial do cereal acabou sendo bem menor do que se esperava no início do ano. Isso devido à influência de fatores climáticos, mas os preços devem permanecer firmes no mercado internacional.
“A seca foi um dos principais fatores de redução da safra. Especialmente para os produtores do Hemisfério Norte. Por outro lado, o excesso de chuva em alguns países também impactou negativamente, nesse caso em relação à qualidade do trigo”, explicou.
Argentina
O trigo argentino conseguiu, em síntese, abastecer plenamente o programa de exportação para o Brasil, durante todo o ano, segundo o presidente da Ciara-CEC, Gustavo Idigoras. Além de ter conseguido diversificar os destinos da produção nacional.
“O Brasil recebe, aproximadamente, 46% do trigo exportado pela Argentina. Porém, há uma presença cada vez maior de países asiáticos e africanos entre os compradores do cereal argentino, com destaque para Indonésia, Bangladesh e Quênia”, destacou Idigoras.
As projeções para a safra 2021/22 da Argentina são, portanto, positivas, de acordo com o presidente da Ciara-CEC. A produção estimada é de 19,2 milhões de toneladas de trigo, em uma área de 6,6 milhões de hectares. “Isso fará com que o país tenha uma capacidade de exportação, se não superior, muito semelhante à da safra 2020/21”, detalha.
O trigo geneticamente modificado (GM) foi, nesse sentido, um dos tópicos abordado durante o webinar. Idigoras relembrou que a comercialização ainda permanece ilegal em território argentino e exibiu um parecer do Ministério da Agricultura do país, que reforça essa mensagem. “O trigo HB4 não estará, nesse sentido, autorizado para ser comercializado na Argentina até que seja formalmente aprovado pelo Brasil”, finaliza.
Canadá
De acordo com o diretor de Análise de Mercado e Política Comercial da Cereals Canada, empresa que representa toda a cadeia do setor no país, Daniel Ramage, a seca e as altas temperaturas. Principalmente após o período de semeadura, impactaram negativamente a qualidade e as condições do trigo plantado em solo canadense.
“O cultivo teve um bom início nas regiões produtoras. Mas as condições climáticas de seca e altas temperaturas do verão afetaram a safra e resultaram em colheita acelerada em algumas áreas”, comenta.
Em 2021, foram produzidas 21,7 milhões de toneladas de trigo. Quantidade 33% inferior à média dos últimos 5 anos. A produtividade também foi prejudicada pela seca. Registradas, portanto, 2,4 toneladas de trigo por hectare, quando se esperava uma média de 3,5 toneladas por hectare de produtividade para o trigo de primavera.
Estados Unidos
A safra estadunidense de trigo também foi influenciada pela seca e pelas altas temperaturas, mas, mesmo assim, apresentou recuperação da baixa histórica da área plantada, que ocorreu no último biênio, segundo o vice-presidente de operações estrangeiras da U.S. Wheat Associates, Michael Spier.
“Tivemos um crescimento de 5% da área plantada de trigo em solo norte-americano. Porém, as secas extremas impactaram a produção por todo o país, que caiu 10% em relação ao ano anterior”, explica.
O ritmo de vendas do trigo dos Estados Unidos sofreu redução, por outro lado, de 21% no início da safra 21/22, que já atingiu metade da meta de exportação estimada pelo USDA nos primeiros quatro meses do novo ano comercial. Para o Brasil, houve um aumento de 33% na exportação de trigo hard red winter no ano passado.
Paraguai
As geadas ainda continuam determinando os rumos e a qualidade da safra de trigo paraguaia, de acordo com o presidente da União de Cooperativas do Paraguay – UNEXPA S.A., Ruben Zoz. Esse fator climático provocou, nesse sentido, a perda de 31% de toda a produção de trigo no país.
“A safra sofreu uma perda de 332,5 mil toneladas de trigo, o que representa 33% da produção total do Paraguai. É esperado que o estoque final do cereal também apresente queda significativa. Pois tanto o consumo quando a oferta de trigo estão em baixa no país”, destaca Zoz.
Também foi verificada uma alta dos preços do cereal no país. Tem, portanto, como principais departamentos produtores Alto Paraná e Itapua, ambos banhados pelo rio Paraná, e como principais destinos de exportação o Brasil e o Uruguai.
Rússia, Ucrânia e Lituânia
Apesar da quebra de safra, a qualidade do trigo russo e a disponibilidade do cereal produzido na Lituânia e na Ucrânia foram, portanto, os destaques trazidos pelo Head Wheat da SODRUGESTVO, Douglas Araújo, durante o webinar.
“Os trigos russo e lituano possuem total liberação para serem utilizados no Brasil. O ucraniano também é liberado, mas uma série de limitações impedem que o cereal da Ucrânia se converta em negócios em solo brasileiro”, explica.
União Europeia
O aumento das áreas plantadas é a marca do trigo na União Europeia atualmente, segundo o trader da Grain Merchant Wheat – Soufflet Négoce, Victor Buczynski. Países como Romênia e Bulgária apresentaram bom rendimento de safra, enquanto que França, Alemanha e os países bálticos tiveram perdas em relação às expectativas do verão;
“O potencial de exportação total da União Europeia apresenta aumento. Pode, nesse sentido, ir de 25,6 até 32 milhões de toneladas de trigo, devido à maior área de plantio de trigo pelo continente, com destaque para França e Reino Unido”, afirma.
Uruguai
A nova safra uruguaia de trigo ocupa uma área 6% maior em relação ao cultivo anterior. Destaca, portanto, a representante do Ministerio de Ganadería, Agricultura y Pesca do país, Catalina Rava. Ela afirma que o estado sanitário do cereal é excelente, apesar da escassez hídrica impactar a produção.
Fonte: agrolink