Segundo a ciência, o tomate silvestre deu origem a batata cultivada moderna por meio de uma antiga hibridização genética
A origem da batata, um dos alimentos mais consumidos no planeta, acaba de ser desvendada pela ciência com detalhes surpreendentes, segundo estudo publicado na revista Cell, a batata cultivada moderna é resultado de uma antiga hibridização genética entre o tomate silvestre e uma planta semelhante à batata, chamada Etuberosum.
O cruzamento entre essas duas linhagens ocorreu há aproximadamente nove milhões de anos, nas altitudes crescentes da Cordilheira dos Andes.
Pesquisadores de instituições da China, Reino Unido e Canadá analisaram mais de 450 genomas de batatas, tomates e suas espécies selvagens.
O resultado foi uma conclusão inédita: sem o tomate, a batata como conhecemos hoje — com seus tubérculos subterrâneos ricos em energia — não existiria.
Sobretudo, a combinação genética dessas duas plantas gerou algo inédito na história evolutiva dos vegetais: um novo órgão. Desse modo, o tomate contribuiu com o gene SP6A, responsável por ativar a formação dos tubérculos.
Já o Etuberosum, embora não forme batatas, trouxe o gene IT1, que estimula o crescimento dos caules subterrâneos. Sozinhos, esses genes não produzem tubérculos. Juntos, formaram a base para o desenvolvimento desse órgão de reserva essencial.
“É a primeira vez que uma hibridização demonstrada em laboratório dá origem a um novo tipo de órgão funcional em uma planta”, explicou o geneticista Sanwen Huang, líder do estudo e pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Agrícolas.
Vantagem evolutiva
Os tubérculos foram uma adaptação revolucionária. Ao armazenar água e amido no subsolo, permitiram que as plantas sobrevivessem a períodos de seca e frio, além de possibilitarem a reprodução assexuada — ou seja, sem necessidade de sementes ou polinizadores.
Isso facilitou a expansão das batatas por diferentes altitudes e climas, resultando na grande variedade de espécies selvagens cultivadas por povos indígenas andinos.
“A diversidade de batatas na América do Sul é impressionante. Só nos Andes existem centenas de variedades, enquanto na Europa se cultivam menos de uma dezena, todas de uma única espécie”, destacou Sandra Knapp, botânica do Museu de História Natural de Londres.
Do subsolo ao mundo
As batatas deixaram o continente sul-americano nos navios espanhóis do século XVI. Inicialmente recebidas com desconfiança na Europa — por crescerem sob a terra e não constarem na Bíblia —, tornaram-se, com o tempo, um pilar alimentar global.
Hoje, são o terceiro alimento básico mais consumido do mundo, ao lado do arroz e do trigo.
Apesar da descoberta, os cientistas alertam que os “pais” originais da batata evoluíram em caminhos genéticos tão distintos que novas hibridizações naturais são improváveis.
Mesmo assim, pesquisas continuam. Há projetos em andamento tentando introduzir os genes SP6A e IT1 em tomates modernos para gerar uma nova planta híbrida com capacidade de formar tubérculos.
“Estamos experimentando uma nova fase de engenharia genética, talvez transformando o tomate em um parente funcional da batata novamente”, afirmou Huang. “Se der certo, o tomate não será só parte do passado da batata — pode muito bem fazer parte do seu futuro.”
Fonte: r7