Criptoativo do Santos, negociado atualmente a R$ 15, pagou cerca de R$ 10 a detentores, grande parte devido a transferências de Neymar
Tokens de Futebol são ativos digitais que representa uma parte dos direitos de um clube nas transferências e premiações de jogadores.
O mercado de transferências de jogadores de futebol movimentou R$ 133 bilhões entre 2020 e 2023, segundo dados da Fifa. Esse montante bilionário, no entanto, não foi parar apenas nos bolsos dos atletas e dos clubes. Investidores expostos a um tipo peculiar de criptoativo, chamado token de mecanismo de solidariedade, também abocanharam uma casquinha.
Aliás, nos últimos três anos, segundo dados levantados com empresas do setor cripto, esses ativos digitais distribuíram R$ 19 milhões a seus detentores.
O mecanismo de solidariedade, implementado pela Fifa no início dos anos 2000, é uma política que garante compensações financeiras aos clubes formadores de atletas quando estes são transferidos entre times ao longo de suas carreiras. Esse mecanismo assegura que 5% do valor de cada transferência seja destinado aos clubes responsáveis pelo desenvolvimento dos jogadores.
Quando essa política de distribuição é tokenizada via ativos digitais, cada token representa um pedacinho do valor total de transferência dos jogadores ligados ao ativo. No Brasil, há quatro criptoativos criados com base no mecanismo de solidariedade: Token da Vila (do Santos), Vasco Token, Coritiba Token e Cruzeiro Token. Cada um traz na bagagem uma cesta específica de atletas.
Ativo digital
O Token da Vila, lançado em 2021 pelo MB, associado a uma cesta de 12 jogadores, como Alan Patrick, Alex Sandro e Neymar. No mês passado, os investidores receberam R$ 6 milhões por conta da venda do Neymar para o time saudita Al-Hilal, firmada em agosto do ano passado. Assim, cada ativo, negociado a R$ 14,99 na tarde de segunda-feira (24), teve direito a R$ 10,28.
No total, o Token da Vila já distribuí R$ 10,8 milhões em sete pagamentos realizados desde o final de 2021. Outro ativo do MB é o Vasco Token, também associado a 12 jogadores. O ativo digital já enviou para o bolso dos investidores cerca de R$ 3,60 milhões desde o final de 2020.
“Com o aquecimento do mercado de transações, é possível que tenhamos mais emissões. A pandemia e seus efeitos reduziram de forma importante o número de transações, ainda que a explosão do mercado árabe tenha aplacado um pouco esses efeitos negativos”, disse Fabrício Tota, diretor de novos negócios do MB.
Como funciona o retorno financeiro?
Daniel Coquieri, CEO e fundador da Liqi Digital Assets, emissora do Coritiba Token e do Cruzeiro Token, disse que os detentores dos ativos digitais da empresa têm o retorno proporcional ao número de criptos que possuem na data de cada pagamento. Ou seja, se cada token tem direito a R$ 10 de uma transferência, uma pessoa que tem 10 ativos embolsa R$ 100.
Além disso, falou, o mecanismo de solidariedade só passa a valer a partir da segunda transferência de jogadores e não é atribuído para os casos em que o próprio clube formador está vendendo um jogador. “Sendo assim, a primeira vez que um atleta vendido para outro clube não se enquadra no mecanismo de solidariedade”.
Na quinta-feira (20), os detentores do Coritiba Token, emitido pela fintech, receberam quase R$ 1 milhão pela venda do jogador Matheus Cunha, que atualmente joga no time inglês Wolverhampton. Ao todo, os investidores do criptoativo já receberam mais de R$ 3 milhões com a venda de atletas do clube.
Regulação
Em resposta a uma consulta feita pelo Vasco da Gama em 2020, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) disse que os tokens de mecanismo de solidariedade não se enquadram como valores mobiliários. O órgão falou ainda que, por causa da ausência de um “esforço do empreendedor” ou de terceiros que gerem direito de participação, parceria ou remuneração, eles também não podem considerar como contratos de investimento coletivo (CIC).
Riscos
Esses criptoativos podem apresentar alguns riscos, como qualquer outro ativo, disse Israel Buzaym, especialista cripto do Bitybank. Um deles é a “possibilidade de que não haja transferências de jogadores ou que essas transferências ocorram por valores inferiores ao esperado”.
Mudanças na regulamentação do mecanismo de solidariedade, incluindo decisões da Fifa ou da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), também podem comprometer o retorno do investimento. Assim como “falta de liquidez no mercado secundário e riscos tecnológicos e de custódia”
Por fim, disse Buzaym, não há garantia de liquidez no mercado secundário. “A liquidez desses tokens no mercado secundário depende da demanda e oferta no mercado, o que significa que os investidores podem enfrentar dificuldades para vender seus tokens”.
Fonte: infomoney