O design do aplicativo também contribui para o comportamento compulsivo, explica Thomas Essmeyer, pesquisador da Universidade de Bremen (Alemanha). “Não é que o usuário controle como se envolve com o app, mas, sim, que o app o envolve”, afirmou. Segundo ele, o gesto de deslizar cria a ilusão de controle, mas reforça o ciclo de uso.
A usuária Traci Davis, de 56 anos, disse sentir que treina o algoritmo com seus movimentos. “Dou uns dez swipes até achar algo que quero ver. Sinto que meu deslizar está treinando o algoritmo.”
Para a professora Meredith David, o consumo de vídeos curtos tende a reduzir o autocontrole e aumentar comportamentos impulsivos. Em pesquisa de 2024, ela identificou que o uso do TikTok está mais relacionado ao “phubbing” — quando a pessoa ignora outras para olhar o celular — do que em outras redes.
Já o estudante Casey Lumley, de 20 anos, relatou que o aplicativo afetou sua capacidade de pensar e se expressar: “Ficou mais difícil criar opiniões próprias. Eu me sentia meio sem pensamentos, distante.”
Pesquisas apontam que o TikTok ativa o sistema de recompensa do cérebro de forma semelhante a substâncias prazerosas, como comida e dinheiro. Marc Potenza, professor de psiquiatria em Yale (EUA), explicou que os vídeos personalizados provocam maior ativação cerebral e reduzem o autocontrole, o que pode fortalecer o ciclo de uso.
Tentando frear o vício em TikTok
Alguns usuários têm tentado romper o hábito, usando limites de tempo ou apagando o app. No entanto, muitos continuam a rolar mesmo após atingirem os alertas de uso. Segundo Essmeyer, “o design do aplicativo é feito para gerar prazer imediato, não felicidade duradoura”.
Entre as dicas dos especialistas para reduzir o tempo no app estão: verificar o tempo de tela, desligar notificações, usar bloqueadores de aplicativos, acessar o TikTok apenas pelo computador e preferir interações ativas, como comentar ou conversar com outras pessoas, em vez de apenas rolar a tela. “Não esteja em uma plataforma só porque todos estão lá, mas porque você quer fazer algo específico”, concluiu Essmeyer.