Caso comece o tarifaço extra de 50% imposto por Trump em 1º de agosto, o setor de mineração de ferro gusa de MS, pode entrar em um caminho bastante perigoso, o alerta é do secretário estadual de Meio Ambiente, Jaime Verruck
O setor de mineração de ferro gusa de Mato Grosso do Sul (MS) pode ficar em um cenário extremamente preocupante caso se confirme o tarifaço extra de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros. O alerta é do secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck.
A medida impacta diretamente o setor, que exporta 91% da produção para os Estados Unidos. Em 2024, o estado enviou US$ 123,6 milhões em ferro gusa ao mercado americano.
Mato Grosso do Sul produz minério de manganês, ferro e ferro gusa – este último obtido em altos-fornos com minério de ferro, coque e calcário. O minério de ferro é enviado para países como Argentina, Uruguai, Europa e Ásia, e a tarifa não o afetará. No entanto, o ferro gusa depende fortemente dos EUA.
Com 91% de ferro gusa exportado aos EUA, setor de mineração teme tarifaço em MS, veja mais detalhes sobre
Três empresas operam com essa produção em MS e, com a nova taxação, podem enfrentar paralisações, desemprego e cortes de vagas, segundo o secretário.
“Nós não temos como competir no mercado americano com ferro gusa com a tarifa de 50%. Esse produto terá que ser direcionado ao mercado interno brasileiro, e a gente vai ter uma redução da atividade industrial e na agregação de valor desse minério em Mato Grosso do Sul”, ressalta.
Verruck afirma que o governo do estado busca acelerar as negociações e garantir a manutenção dos contratos atuais, para preservar o nível de produção
“Talvez tentar abrir um prazo para que as empresas consigam estruturar suas cadeias produtivas. Obviamente o ideal é que essa tarifação seja retirada e a gente consiga uma normalidade no mercado sul-mato-grossense”, afirma.
O presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (FIEMS), Sérgio Longen, diz que no primeiro semestre de 2025 o estado exportou cerca de 94 mil toneladas de minério, somando US$ 40 milhões.
“É um setor muito importante, é um segmento que vem crescendo a todo tempo. Apesar do prejuízo para Mato Grosso do Sul em vários segmentos, o minério de ferro é de extrema importância também, e está na pauta como prioridade para defendermos o fim dessa sobretaxa”, destaca.
Impactos na carne bovina
A medida também preocupa o setor da pecuária de Mato Grosso do Sul. Frigoríficos suspenderam a produção de carne para os Estados Unidos, segundo o Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados (Sincadems). Contudo, a produção nacional segue normalizada.
De acordo com o vice-presidente do sindicato, Alberto Sérgio Capucci, a paralisação voltada apenas ao mercado norte-americano é uma medida logística para evitar acúmulo de estoques. Com a nova taxação, exportar carne aos EUA tornou-se financeiramente inviável sem negociações.
“A produção de carne foi paralisada apenas naqueles setores específicos para produção aos EUA. Se eu produzir e enviar carne hoje, a carga chegará aos EUA já com a tributação adicional. A taxação causou inviabilidade financeira para os produtores”, explicou Capucci.
Segundo o sindicato, pelo menos quatro frigoríficos de Mato Grosso do Sul interromperam a produção voltada ao mercado americano. São eles:
- JBS
- Naturafrig
- Minerva Foods
- Agroindustrial Iguatemi
Apenas o frigorífico Naturafrig se pronunciou sobre a paralisação. A empresa destina cerca de 5% de sua produção aos Estados Unidos. O g1 procurou os demais frigoríficos citados, mas eles não responderam até a última atualização desta reportagem.
Impactos na produção de tilápia
De acordo com a Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (FIEMS), 99,6% da tilápia produzida no estado é exportada aos Estados Unidos, totalizando US$ 3,2 milhões em negociações.
Mato Grosso do Sul é o 5º maior produtor de tilápia do Brasil, conforme o Anuário da Piscicultura 2024 da Peixe BR. Para amenizar os prejuízos, exportadores tentam renegociar contratos com parceiros americanos.
“Temos conversado com os nossos clientes para achar o melhor caminho para o menor impacto para a gente. Não sabemos se vamos ter que renegociar preços, ou se eles vão repassar alguma parte para o consumidor”, explicou o gerente de exportação de uma indústria do estado José Charl Noujaim.
Noujaim aponta que, embora o consumidor brasileiro possa se beneficiar com preços mais baixos, a indústria está preocupada com o risco de acúmulo de estoques.
“Para o consumidor nesse momento de certa forma vai ter vantagem, mas para o produtor vai afetar no volume de produção. A indústria vai ter que reprogramar toda a produção para ajustar a oferta. Na indústria, ao reduzir o preço se torna inviável porque o preço não cobre os custos de produção. Haverá aumento de estoque e pressão para se vender esses estoques e diminuir, pois todo estoque gera despesa adicional”, detalha.
Em conclusão, apesar de os produtos estarem congelados e terem validade prolongada, o gerente afirma que a maior oferta no mercado interno pode derrubar imediatamente os preços no Brasil.
Fonte: g1