Você está visualizando atualmente SEMANA DE 4 DIAS: Empresas brasileiras mantêm o modelo
Após seis meses, dezenove empresas encerraram em junho o primeiro projeto piloto da Semana de 4 dias no Brasil

SEMANA DE 4 DIAS: Empresas brasileiras mantêm o modelo

Das 21 participantes, apenas duas não concluíram a implementação

Após seis meses, 19 empresas encerraram em junho o primeiro projeto piloto da Semana de 4 dias no Brasil. Finalizada a etapa de implementação, 97,5% das pessoas disseram que gostariam muito que a semana de 4 dias continuasse. E, praticamente, todas as empresas decidiram estender o processo até o final do ano. Isso é o que mostra, contudo, uma pesquisa feita pela 4 Day Week Brasil. Sobretudo, em parceria com a FGV e o Boston College baseada em dados coletados e compilados em julho.

A jornada de trabalho reduzida começou em 2019 na Nova Zelândia. E já se espalhou por vários países da Europa, África e Américas sob a gestão do movimento 4-Day Week Global. Uma comunidade, contudo, sem fins lucrativos. No Brasil, a ação contou com o apoio da Reconnect Hapiness at Work para implementação do experimento, que já está sendo testado em mais de 500 companhias pelo mundo. A modalidade ficou conhecida, no entanto, como 100-80-100. Tudo porque prevê que o profissional continue recebendo 100% do salário. Mas trabalhe 80% do tempo. e, em troca, se compromete, contudo, a manter 100% de produtividade.

O novo conceito vai muito além da simples redução de horas

Segundo a fundadora da Reconnect, Renata Rivetti, as empresas perceberam, contudo, que o novo conceito vai muito além da simples redução de horas. Mas é sim um redesenho estrutural da forma de trabalhar das empresas. “Elas revisaram processos, melhoraram a utilização de tempo, tornaram reuniões mais objetivas, passaram a usar novas tecnologias, e viram que é possível trabalhar menos e melhor”, afirma a consultora, que já trabalha num novo projeto para 2025.

Para a fundadora do estúdio de vídeo Motion Design, Simone Cyrineu, a adoção das ferramentas de tecnologia foi mesmo essencial. A empresa, que faz vídeos para empresas, já trabalhava de forma remota e objetiva. Mas conseguiu reduzir as reuniões para 30 minutos, utilizando mais automação. “Não temos mais reuniões passivas, entramos com objetivo claro e até a transcrição da ata da reunião é automática, sendo enviada por e-mail”, explica a executiva. Ela acrescenta ainda que houve uma padronização e agendamento de e-mails para funcionários e clientes. “Tudo isso deixou nosso dia a dia mais fácil, reduzindo as microtarefas e permitindo que as pessoas foquem no trabalho estratégico e criativo”, disse.

Participação

Das 21 empresas que entraram no piloto da semana de 4 dias, envolvendo cerca de 290 colaboradores, apenas duas não finalizaram. Uma delas era do Rio Grande do Sul e foi afetada pela tragédia de enchente, em maio e não pode continuar. A outra resolveu pausar em função da troca de direção, segundo Rivetti.

Conforme a pesquisa, quase metade dos participantes (48,2%) percebeu um aumento no ritmo de trabalho, enquanto 46,6% notaram estabilidade. A pressão no trabalho se manteve igual para 65,6%, mas 20,1% sentiram um aumento. O nível de engajamento cresceu para 60,3% dos participantes, e a produtividade aumentou significativamente para 71,5%. O comprometimento com a empresa também aumentou para 65,5%.

De acordo com a executiva, as empresas puderam adaptar a metodologia às suas realidades, vendo o que funcionava ou não. “Algumas criaram a quinzena de 9 dias. Mas o que mais chamou atenção foi a visão da alta liderança. Num país que premia o workaholic, eles viram que é possível premiar a eficiência, reduzindo o trabalho burocrático e repetitivo”, afirma Rivetti.Segundo a consultora, o projeto mostrou que quando as pessoas se organizam melhor os resultados acontecem.  “Ao colocar uma lupa nos processos eles percebem o que pode ser melhorado. Mostrando, contudo, que com flexibilidade podemos ser mais eficientes. E focar ainda mais nas entregas do que no número de horas trabalhadas”.

Muitas mudanças foram necessárias

Foi o caso da Alimentare, empresa terceirizadora de serviços de refeições. Inicialmente, a semana de 4 dias foi implementada no setor administrativo, em função da natureza da operação ser diária nos vários locais. Mesmo assim, a empresa precisou usar da flexibilidade para conseguir equacionar o trabalho até quinta-feira e garantir suporte ao operacional em caso de urgência. Segundo a coordenadora de planejamento estratégico da Alimentare, Caroline Sold, a decisão partiu da direção da empresa.

E, assim fez toda a diferença na implementação. Porque muitas mudanças foram necessárias. “Como a ideia vinha da cúpula, foi mais fácil entender o processo. E além disso, adaptar a metodologia para nossa realidade. Porque não poderíamos apenas apertar o trabalho de 5 dias em 4 porque não ia funcionar”, explica.

O suporte foi essencial para saber que eles tinham de ir para uma reunião com um tema claro para ser discutido. E com conhecimento de todos sobre o assunto, segundo ela. “Quando algo não funcionava discutíamos como poderíamos adaptar. E o pessoal do  4 Day Week ia assim nos dando alternativas. Indicando, contudo, aplicativos de produtividade, inteligência artificial ou outra ferramenta que se adaptava à nossa realidade”, disse. Isso tudo tornou o trabalho mais tranquilo para os funcionários.

70,10% dos funcionários relataram sentir-se alegres e de bom humor

Não é à toa que a pesquisa mostrou que cerca de 70,10% dos funcionários relataram sentir-se alegres e de bom humor. Destacando assim, uma melhora significativa no estado emocional. Além disso, 55,50% dos funcionários se sentiram ativos e com vitalidade. Demonstrando pois que a energia e a disposição para as atividades diárias aumentaram.

Pelo menos 41,75% dos funcionários se sentirem calmos e relaxados. E 49,22% acordaram se sentindo descansados, indicando que quase metade da equipe experimentou uma melhora na qualidade do sono. Isso sugere que a semana de 4 dias está contribuindo para um ambiente de trabalho mais feliz. Com oportunidades contínuas para melhorar o relaxamento e o descanso dos funcionários, indicou o estudo.

Veja abaixo mais resultados da pesquisa

Os dados são das entrevistas com funcionários:

  • 16,7% dos participantes afirmaram que não mudariam de emprego, independentemente do valor oferecido, para trabalhar cinco dias por semana.
  • 83,2% disseram que houve uma melhoria na cultura da empresa,
  • 86,5% sentiram maior senso de propósito e realização no trabalho,
  • 80,7% se sentiram mais criativo tendo um dia a mais de descanso.
  • 87,4% se sentiram com mais energia para realizar as tarefas
  • 85,1% sentem orgulho do que fazem
  • 84,5% sentem mais satisfação com seu trabalho
  • 65,5% sentiram uma redução na frustração com o trabalho
  • 64,7% sentiram redução na exaustão pela manhã antes do trabalho
  • 49,5% sentiram uma redução no desgaste frequente ao final do dia de trabalho
  • 30,5% sentiram redução de ansiedade na comparação de dezembro de 2023 para julho de 2024
  • 14,5% sentiram redução no estresse no trabalho
  • 73,7% dizem que melhorou sua saúde física
  • 77,3% sentiram melhora na saúde mental
  • 90,1% sentiram uma maior colaboração no trabalho
  • 71,3% um aumento de energia para com família e amigos
  • 49% melhoraram a relação com o gestor/líder
  • 44,4% conseguiram conciliar melhor a vida pessoal com a profissional

Impactos no resultado das empresas

Os dados só confirmam que a implementação da semana de 4 dias trouxe impactos significativos na saúde física e mental dos colaboradores. A transformação do trabalho e do tempo não só contribui para a produtividade como para o engajamento e até para a retenção de talentos. Cerca de 40% relataram que necessitam de um reajuste salarial de mais de 50% para considerar retornar a uma semana de trabalho de cinco dias.

Mas, após seis meses do piloto, as empresas também avaliaram os resultados positivos também para elas. Por isso, 46,2% decidiram manter o modelo permanentemente e 38,5% irão estender o piloto até o final do ano para ajustar ainda mais seu processo. Cerca de 7,7% das empresas planejam expandir a experiência para novas equipes. E outra parcela igual considera ajustes no formato, como uma folga a cada quinze dias.

Para os coordenadores, essas decisões mostram uma busca por flexibilidade para atender às necessidades específicas de cada organização. Equilibrando assim, os benefícios da semana de quatro dias com as exigências operacionais. “A disposição para manter ou adaptar o modelo reflete um reconhecimento positivo dos ganhos com a redução de horas de trabalho”, diz Rivetti.

A maioria das empresas perceberam bons resultados

O estudo mostrou que maioria das empresas, 83,3%, notaram melhorias nos processos internos, com ganhos de eficiência operacional. Cerca de 75% delas relataram que o uso da tecnologia ajudou na adaptação às novas exigências de trabalho.  Outro ponto importante foi a aceitação do novo formato pelos clientes registrada em 66% das empresas.

Em termos de receita, comparando o primeiro semestre de 2024 com igual período de 2023 houve uma melhora dos resultados em 72,7% das empresas. E 63,6% delas disseram que os lucros subiram. O que confirma que a maioria das empresas perceberam bons resultados, mesmo com um dia a menos de trabalho. Exatamente por isso 84,6% das lideranças relataram que a participação no piloto da semana de 4 dias foi benéfica para a empresa.

Fonte: Advisor