O consumismo é a prática de consumir de forma exagerada, seja bens ou serviços, muitas vezes com coisas supérfluas para a vida de quem consome
Em tempos de redes sociais, influenciadores digitais e compras a apenas um clique, é difícil encontrar alguém que nunca tenha feito uma compra por desejo próprio ou que tenha exagerado nos gastos. Sendo assim, veja algumas dicas de como evitar comprar por impulso.
Há casos, porém, em que as compras por impulso são apenas um sinal de um problema maior e que precisa ser identificado e tratado: o consumismo.
O consumismo é a prática de consumir de forma exagerada, seja bens ou serviços, muitas vezes com coisas supérfluas. Além disso, esse consumo costuma estar associado a sentimentos intensos, como o desejo de pertencimento, por um lado, e a culpa e frustração, por outro.
Terapias que tratam das causas do consumismo podem beneficiar aqueles que enfrentam esse comportamento vicioso. Porém, algumas atitudes na vida financeira também podem ajudar a evitar as compras por impulso e evitar que as contas virem uma bola de neve, segundo Ana Leoni, educadora financeira e CEO da Planejar.
A especialista foi a convidada do terceiro episódio da nova temporada do podcast Educação Financeira, que fala sobre como organizar as contas ainda neste ano para começar o próximo com o pé direito.
Veja os principais cortes da conversa mais abaixo
Como identificar o consumismo e não comprar por impulso
Mais que o consumo exagerado, explica Ana Leoni, há outros dois fatores particulares que ajudam a identificar o consumismo:
- O ato de exagerar costuma estar relacionado a um estilo de vida que a pessoa quer ter (ou parecer que tem);
- O consumo costuma gerar sentimentos de culpa e frustração nas pessoas.
Embora o consumismo não seja novidade, ele aparece com mais frequência hoje em dia porque a forma de consumir, de se comunicar e de desejar ficaram diferentes — e agora são mais fáceis, graças às redes sociais.
Influenciadores digitais e até o conteúdo editado de pessoas comuns mostram apenas os recortes felizes de suas vidas. Em busca de um modelo parecido, o consumidor passa a buscar os mesmos produtos, bens e serviços que proporcionem esse estilo de vida, explica Ana Leoni.
“Quando a gente olha uma foto muito editada, muito legal na rede social, em que a pessoa está ali naquele lugar paradisíaco, tomando um champanhe caríssimo, vestindo roupa da grife da vez… ao tentar replicar aquela imagem, consumindo aquela coisa, viajando para aquele lugar, a pessoa busca sentir o que aquela foto expressa, aquela liberdade, aquela satisfação, aquela delícia de estar naquele ambiente.”
Sobre essa necessidade de reafirmação, Ana fiz que “todo excesso esconde alguma falta” e o consumismo é “um sintoma de alguma coisa mais profunda que a pessoa tenha”, como a vontade de ser aceito em um grupo social ou suprir faltas de algo que se teve na infância, por exemplo.
Tudo piora com o acesso tão facilitado às compras, disponíveis em poucos passos pela internet. “As pessoas antes precisavam se deslocar para comprar qualquer coisa, hoje tudo está a um clique e com muitos gatilhos para te fazer comprar”, diz a especialista.
Com tanto afobamento e motivação tão supérflua, é comum que outra forte característica do consumismo seja o sentimento negativo que se segue à compra
“Quando a pessoa consegue comprar tudo aquilo (que desejou para alcançar o ideal de felicidade), não necessariamente ela vai sentir para ela aquilo que ela projetou com aquela foto (nas redes sociais), e aí vem a frustração muito forte”, diz Ana Leoni.
“O dinheiro é feito para gastar, mas não tudo de uma vez e não em qualquer coisa, essa é uma distinção”, comenta. “O problema é você colocar no ato de consumir a busca de uma sensação que você não está encontrando em outro lugar”.
Mudando a forma de gastar dinheiro e assim, não comprar por impulso
Apesar de o sentimento negativo ser um sintoma comum, o consumismo pode também se tornar um vício, pelo prazer no ato de comprar. É essencial que um especialista seja procurado para evitar que a vida financeira se transforme em uma bola de neve.
Em casos menos graves, alguns exercícios podem ajudar a corrigir rotas prejudiciais e a diminuir o impulso pelo consumo.
Ana Leoni diz que é importante, por exemplo, inverter a forma de gastar dinheiro. Para a especialista, o modelo de gastos ideal segue a seguinte ordem de prioridades:
- Pagar as contas necessárias;
- Investir uma parte do dinheiro, mesmo que seja uma quantia pequena;
- Gastar apenas o que sobra depois disso.
“Essa é uma organização financeira mais eficiente e que, independentemente do orçamento, aproxima mais [a pessoa] da independência financeira”, explica.
A chegada do 13° salário e outros “extras” podem ajudar a colocar esse modelo em prática. Em vez de usar o dinheiro para comprar presentes ou esbanjar com roupas novas, vale já separar uma fatia para arcar com os gastos de começo de ano — como IPTU, IPVA, mensalidade escolar e férias —, investir um pedaço e, só então, pensar em outros desejos menos prioritários.
Dicas para evitar comprar na internet por impulso
Ana Leoni também traz outras dicas que podem ajudar a evitar compras por impulso no fim do ano, quando o dinheiro que cai a mais vira tentação. No entanto, as orientações também podem ser levadas adiante no decorrer de 2025.
Evitar compras por ocasião
Comece definindo o que você precisa comprar e cumpra esse planejamento. Isso vale para todo tipo de compra, dos supermercados às lojas de roupas.
Sabendo o que realmente precisa ser comprado — mesmo que a compra não seja de necessidades básicas —, a pessoa consegue buscar o produto de forma mais certeira.
Atenção aos gatilhos de marketing que fazem você comprar por impulso
Campanhas publicitárias de fim de ano podem ser mais agressivas para estimular o consumo nessa época. Os gatilhos de marketing sempre vão fazer com que as promoções pareçam um ganho, não um gasto.
A estratégia, então, é sempre se perguntar se também compraria aquele mesmo produto se o preço dele fosse maior. Se a resposta for não, cabe avaliar se a compra é realmente necessária.
Vale tomar cuidado também com os gatilhos para comprar mais, como a oferta de frete grátis apenas para compras acima de determinado valor. Se para ter um frete de R$ 20 grátis, por exemplo, for necessário gastar mais R$ 50, a compra pode não compensar.
Não à “Síndrome do Papai Noel”
O desejo de presentear pessoas próximas também pode acabar mal. Ana chama a situação de “síndrome do Papai Noel”.
O desejo de agradar as pessoas queridas pode gerar muitas compras por impulso e até resultarem em um gasto acima do que é possível arcar. A educadora financeira, entretanto, destaca que há outras formas de agradar que não seja fundamental comprar um presente para cada um.
Sugerir um “amigo secreto”, por exemplo, pode funcionar muito bem, pois estipula um preço para o presente, sem gerar constrangimentos quando uma pessoa ganha algo mais caro do que outra.
Fonte: g1