O principal desafio não é a expansão de sistemas, mas preservar o potencial hidrelétrico existente e a redução de gases do efeito estufa
O setor de energia a nível mundial deverá migrar, em grande escala, da geração energética por combustíveis fósseis para fontes renováveis. A afirmação é do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que alerta para a exigência de “grandes transições do setor” para que o mundo avance na redução de emissão de gases de efeito estufa.
“Isso envolverá uma redução substancial no uso de combustíveis fósseis, eletrificação generalizada, eficiência energética aprimorada e uso de combustíveis alternativos (como hidrogênio)”, afirmam os pesquisadores em relatório divulgado na segunda-feira (4).
Diante do chamado do IPCC, Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), afirma que o Brasil tem o potencial necessário para garantir uma matriz energética completamente renovável.
Entretanto, o principal desafio não é a expansão de outros sistemas de geração, mas preservar o potencial hidrelétrico já existente.
Segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE), entre os países das Américas do Sul e Central, o Brasil é responsável por 45% da geração de energia da região. O país, de acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), possui cerca de 85% das matrizes energéticas renováveis, divididas entre usinas hidrelétricas, eólicas, solares e térmicas movidas a biomassa.
“Há a perspectiva de diminuição no volume de chuvas em determinadas regiões do Brasil para o futuro. No Norte do país, por exemplo, é prevista uma redução das chuvas de acordo com a previsão futura de mudança climática. É importante que o Brasil se dedique a uma política de preservação do ecossistema hidrológico. Como as nascentes do rio São Francisco, rio Paraná, que dependem da umidade da Amazônia”, explica Bocuhy.
Além disso, na tentativa de reduzir cada vez mais a dependência do petróleo e seus derivados, o Brasil tem investido em energia renovável.
Energia eólica e a redução de gases do efeito estufa
Com um histórico de crescimento constante por dez anos, o Brasil chegou a uma posição inédita no Ranking Global de Energia Eólica. Em 2021, o Brasil passou a ocupar o 6º lugar no Ranking de Capacidade Total Instalada de Energia ante a 7ª posição em 2020. Em 2012, o país ocupava a 15ª posição.
Segundo o ONS, a previsão é que, até 2026, a energia eólica no país chegue a uma potência de 26.864 Megawatts. Um aumento de 29,4% na capacidade instalada em 2022. Com isso, a fonte será responsável por 13,9% da geração de energia no Brasil.
A energia solar também apresenta alta no país. De acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em fevereiro, o país teve a maior taxa de geração de energia solar da história. Foram mais de 1,2 mil MWm (Megawatt-médio) gerados no mês, o dobro do registrado no mesmo período do ano passado.
De acordo com o ONS, a meta é que, em 2026, o Brasil tenha o dobro de energia solar na capacidade instalada. Passando de 4.672 MW para 9.535 MW, o que irá representar que 4,9% da energia gerada no país virá por fontes solares.
Segundo Carlos Bocuhy, o segundo ponto para cumprir a meta do IPCC é fazer a transição energética para as matrizes eólica e solar. O especialista avalia que o Brasil tem um território extenso e o clima tropical ensolarado permite um grande avanço da energia solar, por exemplo.
O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas ainda afirma que a emissão mundial de gases estufa pode ser reduzida pela metade até 2030. No documento, os cientistas dizem que a meta é realista, já que “há evidências de crescentes ações globais contra o aquecimento do planeta”, como a substituição do petróleo por fontes renováveis.
Fonte: CNN