Seu feed não é neutro, entenda como o algoritmo decide o que você vê nas redes sociais, e porque isso deveria te preocupar
A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que permite responsabilizar redes sociais por postagens de terceiros reacendeu o alerta sobre o funcionamento dos algoritmos. O algoritmo define o que aparece no feed das redes sociais de cada usuário com base em padrões de comportamento digital, sem transparência ou controle público. Entenda a seguir!
Enquanto impulsionam o lucro das plataformas, também favorecem a circulação de desinformação e dificultam o acesso a conteúdo confiável.
O funcionamento dos algoritmos é baseado em sistemas de recomendação que agrupam usuários por padrões de consumo.
A partir dessa segmentação, as plataformas selecionam e exibem conteúdos que têm maior probabilidade de gerar engajamento. Essa lógica, conhecida como curadoria algorítmica, não considera critérios como relevância jornalística ou diversidade de fontes, mas, sim, o potencial de retenção e interação dos usuários.
Sobretudo, esse modelo favorece conteúdos sensacionalistas, reforça bolhas de opinião e amplia a visibilidade de publicações de baixa qualidade.
Ao mesmo tempo, concentra nas mãos das plataformas o controle sobre distribuição, métricas e remuneração de criadores. Contudo, sem mecanismos de transparência, os critérios adotados por esses sistemas seguem desconhecidos do público e dificultam o debate sobre regulação e responsabilidade digital.
Curadoria invisível e controle de conteúdo
Quem faz o alerta é Rose Marie Santini, em artigo publicado no The Conversation. Professora da Escola de Comunicação da UFRJ e diretora do NetLab, ela afirma que “os sistemas de recomendação não preveem o gosto individual, mas o da comunidade de gosto à qual o usuário pertence”.
Segundo Santini, “o sistema associa o indivíduo a um grupo com padrões de consumo parecidos e, com base nisso, sugere conteúdos”.
A pesquisadora explica que essa lógica teve origem nos sistemas de recomendação de música, desenvolvidos ainda na virada do século. “Foi o primeiro tipo de conteúdo a sofrer os impactos da internet e atrair esforços de inovação tecnológica”, diz. “Isso muda totalmente a lógica da curadoria. Todo conteúdo chega em algum usuário, de alguma maneira”, observa.
Para Santini, esse modelo concentra poder nas mãos das plataformas digitais e gera prejuízo para quem produz conteúdo. “O criador não sabe quantas vezes sua música foi tocada e não sabe os critérios utilizados para a recomendação”, afirma.
Segundo ela, as plataformas definem padrões de consumo e métricas, estimulando artistas e produtores a fornecer conteúdos gratuitamente em troca de visibilidade. “Elas concentram tudo: dados, distribuição, publicidade”, conclui.
Desinformação e urgência de regulação
- A ausência de transparência nos sistemas de recomendação abre espaço para a circulação de desinformação em escala;
- Segundo Santini, esse conteúdo é impulsionado por interesses políticos, econômicos e até criminosos, aproveitando o alcance massivo e a falta de fiscalização nas redes;
- Grupos organizados usam estratégias de propaganda computacional para manipular o debate público, especialmente em períodos eleitorais;
- Bots e perfis falsos fabricam engajamento e distorcem a percepção sobre o que é popular ou relevante, dificultando o acesso a informações confiáveis;
- Para a pesquisadora, enfrentar esse cenário exige ação em três frentes: cultural, política e econômica. “É preciso regulamentar as plataformas, garantir transparência nos algoritmos e responsabilizar quem lucra com a desinformação”, finaliza.
Fonte: olhar digital