Os problemas enfrentados no país com as commodities agrícolas repercutem na agropecuária do mundo inteiro
Os custos das commodities agrícolas no Brasil atingiram recordes nos primeiros meses de 2022. Os preços dos produtos sofrem os reflexos de fatores econômicos, naturais, sanitários e bélicos, como a alta da inflação, a crise hídrica no Sul do país, a pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia.
Os resultados são de uma nota técnica elaborada por economistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgada nesta quinta-feira (28) e assinada por pesquisadores como Ana Cecília Kreter, especialista em agropecuária nacional e internacional, e José Ronaldo Souza, diretor de políticas macroeconômicas do órgão.
O levantamento também contou com a participação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP).
Pressionado pela guerra no Leste Europeu, o milho registrou alta nos preços, tanto no mercado nacional como internacional. Em valores absolutos, a saca da commodity bateu os R$ 100 no primeiro trimestre do ano – recorde da série histórica do Cepea/USP, iniciada em 1996. A título de comparação, no mesmo período do ano passado, a mesma saca custava cerca de R$ 85.
Importação
“A Ucrânia é uma das principais fornecedoras de milho mundial e tem um peso gigante para a comercialização desse produto. A expectativa é que o preço escale ainda mais se o confronto persistir por muito tempo”, explica o diretor do Ipea José Ronaldo Souza.
Assim como o milho, o preço do trigo é pressionado pela guerra na Europa, que dificulta o escoamento das comodities agrícolas. Enquanto a Ucrânia representa grande parte da exportação do milho, a Rússia é a maior produtora mundial de trigo.
Souza disse que o Brasil está entre os países que mais consomem o trigo russo. De acordo com ele, é o único produto agrícola que o país não tem força no cultivo e depende, consequentemente, de importações. No Brasil, o custo da commodity subiu quase 19% em apenas um ano.
“A Rússia tem grande relação com a alta do trigo nos últimos meses. E isso repercute diretamente no Brasil, já que somos grandes consumidores do insumo, principalmente para a produção de massas e pães”, colocou o pesquisador.
Com os maiores patamares da série iniciada pelo Cepea em 1997, a saca da soja se aproxima dos R$ 200 no Brasil. Trata-se de um valor 15% maior, em comparação com o mesmo período do ano passado. O alto custo do insumo foi impactado principalmente pela falta de chuvas no Sul do país, que, segundo meteorologistas, foi a mais intensa dos últimos 90 anos.
Problemas enfrentados no Brasil com commodities agrícolas repercutem no mundo
Para o diretor do Ipea, os problemas enfrentados no país com o produto repercutem na agropecuária do mundo inteiro. Souza cita que, no mercado internacional, o valor da commodity superou os ganhos expressivos do Brasil e teve uma alta de quase 19% em 2022.
“O produto mais afetado por conta da seca no Sul do país foi a soja, indiscutivelmente. A perda da produção foi imensurável e teve uma reverberação mundial. Os preços foram influenciados pelas demandas doméstica e internacional aquecidas e pela menor oferta na América do Sul, que o Brasil deixou de entregar”, destaca o economista.
Portanto, já o custo do café aumentou 5,5%, comparando o último trimestre do ano passado com os primeiros três meses de 2022. No entanto, o produto registra a maior alta entre as commodities agrícolas no Brasil quando observado todo o último ano, com uma subida de 105% no mercado interno.
“No ano passado houve muita geada no Brasil, exatamente em locais produtores de café. Isso prejudicou muito a safra para 2022. Com isso, o estoque ficando baixo no nosso país, fica no mundo inteiro, já que somos um dos principais exportadores do produto”, ressaltou José Ronaldo Souza.
Por fim, os dados compilados pelo Ipea mostram que o preço do algodão no Brasil subiu praticamente 50% nos últimos 12 meses. Atualmente, são necessários a R$ 7,27 para comprar uma saca da commodity. Assim como o café e o milho, o custo do algodão também registrou o maior patamar desde 1996, início da série histórica.
Fonte: Ipea.gov, guiadoestudante